São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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No ritmo da Kompa

O famoso cantor haitiano Michel Martelly, ou "Sweet Micky" , aparece em terceiro lugar para presidente nas pesquisas para a eleição de domingo

FLÁVIA MARREIRO ENVIADA ESPECIAL A
PORTO PRÍNCIPE (HAITI)

O mais famoso cantor de kompa, ritmo mais popular do Haiti, deseja ser presidente da República. Se for para forçar a comparação, é como se um boa praça como Martinho da Vila ou Zeca Pagodinho decidisse lançar-se ao Palácio do Planalto.
Trata-se de Michel Martelly, o "Sweet Micky", que faz campanha como "outsider" e "antissistema" no país e aparece em terceiro lugar (11%) na mais recente pesquisa de opinião da eleição geral de domingo.
"O Haiti precisa de inspiração. De nova liderança. De mãos limpas", exibe as palmas das mãos "Sweet Micky" em sua casa, onde recebeu a Folha anteontem.
Martelly, 49, tem um crânio lustroso sem um fio de cabelo. Se antes ele fazia piada com staff e técnicos, à altura de sua fama de provocador e afeito a tiradas picantes, o tom agora é outro.
Segue enfático, cuidando do ritmo das frases de efeito, mas exibe seus conceitos políticos e tenta dar estofo às promessas.
"Eu me defino como de centro-direita. Acho que todo mundo tem de ter as mesmas oportunidades para progredir. E no Haiti não é assim. Proponho escola pública básica para todos e já tenho identificadas três fontes de financiamento", lança.
Explica que, se eleito, proporá um "new deal" com a Minustah, a missão de paz da ONU, no Haiti desde 2004. "Não é realista ficar renovando ano a ano o mandato da missão. Precisamos de um cronograma sério, com metas para a retirada."
Conta que procurou o embaixador do Brasil, Igor Kipman, após decidir a candidatura. Faz um aceno: "Queria agradecer ao Brasil porque nos últimos cinco, seis anos, foram os brasileiros que se preocuparam com o Haiti".
Ele também propõe um "new deal" para as ONGs, responsáveis pela maior parte dos serviços públicos básicos e acusadas, tanto quanto o governo, de pôr a perder a ajuda internacional canalizada ao Haiti, especialmente após o terremoto de janeiro.
Por que ele quer um dos mais complicados empregos do mundo? "Porque o Haiti precisa amar o seu líder. E se amá-lo, terá confiança e um pouco de paciência para esperar as coisas acontecerem. Eu darei amor."

DO RAP À KOMPA
A profissional candidatura de Martelly -tem bons contatos na diáspora nos EUA e com empresários- cresceu no vácuo da primeira tentativa de casamento entre música e política da campanha.
O rapper Wycleaf Jean, radicado nos EUA, tentou, sem sucesso, concorrer à Presidência, o que ainda é citado com pesar pelos jovens.
"Sweet Micky" sonha em obter o endosso de Jean, cuja chegada ao Haiti vem sendo esperada desde o início da semana. "Ele é meu amigo. Mas não falamos disso."
Para concorrer, Martelly se agarrou a uma legenda inexpressiva, que faz alusão à vida no campo. Mas é no campo que está sua maior dificuldade para avançar.
Ele sabe que para ter chances precisa convencer o público mais velho de que a Presidência não será um palco. No pequeno comício em Delmas, um bairro da capital, ele tomou um alto-falante em cima de uma camionete e fazia um discurso empolgado. "Não podemos mais viver nessa situação. Mudança!", e explicava sua própria mudança.
"Amo vocês, mas eu mudei. Não falo mais palavrão. Vou ser um presidente sério. Vocês querem que eu seja presidente?"
"Ouiiiii...", respondeu a plateia. Mas no fim do comício, ele cedeu: fez graça e rebolou um pouco, para gargalhada geral.

Veja vídeo de Michel Martelly dançando kompa
folha.com/mm835515


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