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No ritmo da Kompa
O famoso cantor haitiano
Michel Martelly, ou
"Sweet Micky" , aparece em terceiro lugar para presidente
nas pesquisas para a
eleição de domingo
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A
PORTO PRÍNCIPE (HAITI)
O mais famoso cantor de
kompa, ritmo mais popular
do Haiti, deseja ser presidente da República. Se for para
forçar a comparação, é como
se um boa praça como Martinho da Vila ou Zeca Pagodinho decidisse lançar-se ao
Palácio do Planalto.
Trata-se de Michel Martelly, o "Sweet Micky", que
faz campanha como "outsider" e "antissistema" no país
e aparece em terceiro lugar
(11%) na mais recente pesquisa de opinião da eleição
geral de domingo.
"O Haiti precisa de inspiração. De nova liderança. De
mãos limpas", exibe as palmas das mãos "Sweet Micky"
em sua casa, onde recebeu a
Folha anteontem.
Martelly, 49, tem um crânio lustroso sem um fio de
cabelo. Se antes ele fazia piada com staff e técnicos, à altura de sua fama de provocador e afeito a tiradas picantes, o tom agora é outro.
Segue enfático, cuidando
do ritmo das frases de efeito,
mas exibe seus conceitos políticos e tenta dar estofo às
promessas.
"Eu me defino como de
centro-direita. Acho que todo mundo tem de ter as mesmas oportunidades para progredir. E no Haiti não é assim. Proponho escola pública básica para todos e já tenho identificadas três fontes
de financiamento", lança.
Explica que, se eleito, proporá um "new deal" com a
Minustah, a missão de paz
da ONU, no Haiti desde
2004. "Não é realista ficar renovando ano a ano o mandato da missão. Precisamos de
um cronograma sério, com
metas para a retirada."
Conta que procurou o embaixador do Brasil, Igor Kipman, após decidir a candidatura. Faz um aceno: "Queria
agradecer ao Brasil porque
nos últimos cinco, seis anos,
foram os brasileiros que se
preocuparam com o Haiti".
Ele também propõe um
"new deal" para as ONGs,
responsáveis pela maior parte dos serviços públicos básicos e acusadas, tanto quanto
o governo, de pôr a perder a
ajuda internacional canalizada ao Haiti, especialmente
após o terremoto de janeiro.
Por que ele quer um dos
mais complicados empregos
do mundo? "Porque o Haiti
precisa amar o seu líder. E se
amá-lo, terá confiança e um
pouco de paciência para esperar as coisas acontecerem.
Eu darei amor."
DO RAP À KOMPA
A profissional candidatura
de Martelly -tem bons contatos na diáspora nos EUA e
com empresários- cresceu
no vácuo da primeira tentativa de casamento entre música e política da campanha.
O rapper Wycleaf Jean, radicado nos EUA, tentou, sem
sucesso, concorrer à Presidência, o que ainda é citado
com pesar pelos jovens.
"Sweet Micky" sonha em
obter o endosso de Jean, cuja
chegada ao Haiti vem sendo
esperada desde o início da
semana. "Ele é meu amigo.
Mas não falamos disso."
Para concorrer, Martelly se
agarrou a uma legenda inexpressiva, que faz alusão à vida no campo. Mas é no campo que está sua maior dificuldade para avançar.
Ele sabe que para ter chances precisa convencer o público mais velho de que a Presidência não será um palco.
No pequeno comício em
Delmas, um bairro da capital, ele tomou um alto-falante em cima de uma camionete e fazia um discurso empolgado. "Não podemos mais viver nessa situação. Mudança!", e explicava sua própria
mudança.
"Amo vocês, mas eu mudei. Não falo mais palavrão.
Vou ser um presidente sério.
Vocês querem que eu seja
presidente?"
"Ouiiiii...", respondeu a
plateia. Mas no fim do comício, ele cedeu: fez graça e rebolou um pouco, para gargalhada geral.
Veja vídeo de Michel
Martelly dançando
kompa
folha.com/mm835515
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