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Milhares protestam por eutanásia na Itália
Enterro do italiano que quis morrer, depois de ficar 10 anos paralisado, vira ato contra igreja, que lhe negou funeral religioso
Piergiorgio Welby sofria distrofia muscular havia 42 anos e defendia a eutanásia; morte na última quarta reabriu discussão na Itália
DA REDAÇÃO
Cerca de 4.000 pessoas foram ao enterro de Piergiorgio
Welby, em Roma. Ele morreu
na última quarta-feira e levantou um forte debate sobre a eutanásia na Itália.
Vítima de distrofia muscular
progressiva e paralisado havia
dez anos, Welby pediu o desligamento do respirador artificial que o mantinha vivo.
Parte da multidão presente
gritava "vergonha" como protesto contra a decisão da Igreja
Católica de proibir uma cerimônia religiosa para Welby.
Apesar do pároco local defender o funeral religioso, a
Diocese de Roma o proibiu,
"pela defesa reiterada de Welby
de dar fim à sua vida, contra a
doutrina católica".
O papa Bento 16 entrou ontem no debate sobre a eutanásia, na oração do Angelus, que
precede o Natal. "O nascimento
de Cristo nos ajuda a tomar
consciência do que vale a vida
de todo o ser humano, desde
seu primeiro instante até seu
declínio natural", disse.
Durante o enterro, foram
aplaudidos políticos que
apóiam a eutanásia, como a ex-deputada Emma Bonino, do
Partido Radical, pequena agremiação de esquerda que entrou
na campanha de Welby durante os últimos meses.
"Igreja insensível"
Muitos na Itália, incluídos
padres e até um bispo do norte
do país, condenaram a decisão
como "insensível".
"Estou chocado pela decisão
de não dar a Welby um funeral
religioso. A igreja permitiu funerais para [ditadores como]
Pinochet e Franco e até a mafiosos, mas rejeitamos um homem porque ele queria morrer", disse o padre Gianfranco
Formenton.
A viúva de Welby, Mina, destacou a importância da campanha liderada pelo marido. "Estou feliz por ele, agora ele é livre. Continuarei sua luta. Sua
carta ao presidente provocou
uma grande mobilização na
Itália e no exterior", disse.
"Gostaria que seu enterro
fosse religioso, por sua mãe,
que é muito devota. Trata-se de
uma tradição", lamentou.
O senador socialista Gavino
Angius afirmou que a atitude
do Vaticano "nos deixa assombrados". "Estamos no Natal. Eu
acho que Jesus não aprovaria
uma decisão como essa", disse.
O premiê italiano, o socialista Romano Prodi, disse que era
defensor da vida, mas achou
que o assunto merecia um debate sério após o caso Welby.
A morte de Welby desatou
um debate político. Políticos de
esquerda defenderam sua atitude, enquanto deputados conservadores, da oposição, pediram que o anestesista que ajudou Welby a morrer fosse preso. Mario Riccio desligou o respirador artificial que mantinha
Welby vivo, mas negou ter realizado uma eutanásia, dizendo
que apenas "cumpriu a vontade
do paciente de não prosseguir
com o tratamento". Pode ser
condenado a 15 anos de prisão.
Em jogos de futebol no sábado, torcedores italianos levaram para os estádios faixas com
os dizeres "Bom Natal, Welby".
"Deixem-me morrer"
Welby esteve paralisado em
uma cama por quase dez anos.
Nos últimos meses, ele já não
falava mais e se comunicava
por um computador que codificava sons e até o movimento de
seus olhos.
Em setembro, ele enviou um
vídeo ao presidente italiano,
Giorgio Napolitano, em que pedia seu direito a morrer. Também escreveu um livro chamado "Deixem-me morrer".
Sua luta é parecida com a do
espanhol Ramón Sampedro,
que viveu 29 anos paralisado
em uma cama e escreveu o livro
"Cartas do Inferno". Sua história foi levada ao cinema no filme "Mar Adentro", que ganhou
o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado.
Na Espanha, o governo socialista quer aprovar a eutanásia -
discussão em pauta também no
Canadá e na Austrália.
Apenas Suíça, Holanda, Bélgica e o Estado americano de
Oregon permitem o suicídio assistido para pacientes em estado terminal .
Com agências internacionais
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