|
Texto Anterior | Índice
FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
Discussões se concentraram nos estragos causados pela Guerra do Iraque e pelo fracasso das negociações na OMC
Líderes querem reconstruir a governança mundial
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
A grande inquietação dos líderes mundiais diz respeito ao "restabelecimento da confiança no
sistema multilateral".
Foi essa a conclusão principal
do Igwel (iniciais em inglês para
Encontros Informais de Líderes
Econômicos Mundiais), um exercício que se faz todo ano durante
os encontros do Fórum Econômico Mundial. Aproveitando a presença de autoridades governamentais (presidentes, primeiros-ministros, ministros, presidentes
de bancos centrais etc.), o fórum
promove conversas informais fechadas, nas quais se faz uma análise do estado do mundo e das
perspectivas para o ano que está
começando.
Ontem, último dia do encontro
de 2004, Stefano Sannino, representante pessoal do presidente da
Comissão Européia, Romano
Prodi, fez o resumo das discussões, centradas no conserto dos
estragos causados pela intervenção unilateral norte-americana
no Iraque e pelo fracasso da Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC)
em Cancún, em setembro.
Ou seja, o déficit de governança
global ficou exposto no aspecto
político, de segurança e comercial
no mesmo ano (no caso 2003).
Mas nos debates abertos, sempre em Davos, outro déficit da governança global surgiu muito claramente, pela voz do chileno Juan
Somavia, diretor-geral da OIT
(Organização Internacional do
Trabalho): "As instituições financeiras internacionais têm de integrar os aspectos econômicos e sociais em suas recomendações políticas", afirmou.
Somavia citou o fato de que há 1
bilhão de desempregados ou gente com emprego, mas pobre, no
mundo para justificar a integração do social ao econômico.
O diretor da OIT propôs uma
espécie de "renda mínima" global
ou o que ele chama de "piso básico socioeconômico".
As avaliações de Somavia foram
feitas em debate matinal sobre a
globalização, que não chegou a lugar algum, na medida em que os
seus defensores e seus críticos repetem posições e listam vantagens e desvantagens, uma polêmica interminável.
Em todo caso, Joseph Stiglitz, o
mais renomado crítico da globalização entre os economistas do establishment global (Universidade
Columbia, em Nova York), citou
um aspecto da globalização que
ainda pode e deve ser revertido:
"A liberalização do mercado de
capitais é um erro. Não promove
o crescimento econômico".
Fundo
Propostas, até que surgiram. Vijay Mahajan, diretor-gerente da
Basix, primeira instituição de microcrédito surgida na Índia, defendeu um fundo constituído pela
taxação de importações para financiar o ajustamento de pessoas
pobres que perdem sua fonte de
renda com a abertura da economia.
Citou o exemplo de 1 milhão de
plantadores de amendoim de seu
país, que ficou deslocado com a
abertura das importações de óleo
de amendoim da Malásia, mais
barato.
Mahajan não é contra a abertura da importação, até porque ela
beneficia 300 milhões de consumidores do óleo mais barato, mas
quer que o 1 milhão prejudicado
tenha como mudar de rumo.
Chances de aprovação? Quase
zero. "A idéia da criação de fundos nunca foi amplamente aceita", disse Sannino, ao resumir as
conclusões das discussões entre
os líderes globais presentes em
Davos.
Texto Anterior: Iraque ocupado: Powell põe em dúvida existência de arsenal Índice
|