São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

Discussões se concentraram nos estragos causados pela Guerra do Iraque e pelo fracasso das negociações na OMC

Líderes querem reconstruir a governança mundial

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A grande inquietação dos líderes mundiais diz respeito ao "restabelecimento da confiança no sistema multilateral".
Foi essa a conclusão principal do Igwel (iniciais em inglês para Encontros Informais de Líderes Econômicos Mundiais), um exercício que se faz todo ano durante os encontros do Fórum Econômico Mundial. Aproveitando a presença de autoridades governamentais (presidentes, primeiros-ministros, ministros, presidentes de bancos centrais etc.), o fórum promove conversas informais fechadas, nas quais se faz uma análise do estado do mundo e das perspectivas para o ano que está começando.
Ontem, último dia do encontro de 2004, Stefano Sannino, representante pessoal do presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, fez o resumo das discussões, centradas no conserto dos estragos causados pela intervenção unilateral norte-americana no Iraque e pelo fracasso da Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Cancún, em setembro.
Ou seja, o déficit de governança global ficou exposto no aspecto político, de segurança e comercial no mesmo ano (no caso 2003).
Mas nos debates abertos, sempre em Davos, outro déficit da governança global surgiu muito claramente, pela voz do chileno Juan Somavia, diretor-geral da OIT (Organização Internacional do Trabalho): "As instituições financeiras internacionais têm de integrar os aspectos econômicos e sociais em suas recomendações políticas", afirmou.
Somavia citou o fato de que há 1 bilhão de desempregados ou gente com emprego, mas pobre, no mundo para justificar a integração do social ao econômico.
O diretor da OIT propôs uma espécie de "renda mínima" global ou o que ele chama de "piso básico socioeconômico".
As avaliações de Somavia foram feitas em debate matinal sobre a globalização, que não chegou a lugar algum, na medida em que os seus defensores e seus críticos repetem posições e listam vantagens e desvantagens, uma polêmica interminável.
Em todo caso, Joseph Stiglitz, o mais renomado crítico da globalização entre os economistas do establishment global (Universidade Columbia, em Nova York), citou um aspecto da globalização que ainda pode e deve ser revertido: "A liberalização do mercado de capitais é um erro. Não promove o crescimento econômico".

Fundo
Propostas, até que surgiram. Vijay Mahajan, diretor-gerente da Basix, primeira instituição de microcrédito surgida na Índia, defendeu um fundo constituído pela taxação de importações para financiar o ajustamento de pessoas pobres que perdem sua fonte de renda com a abertura da economia.
Citou o exemplo de 1 milhão de plantadores de amendoim de seu país, que ficou deslocado com a abertura das importações de óleo de amendoim da Malásia, mais barato.
Mahajan não é contra a abertura da importação, até porque ela beneficia 300 milhões de consumidores do óleo mais barato, mas quer que o 1 milhão prejudicado tenha como mudar de rumo.
Chances de aprovação? Quase zero. "A idéia da criação de fundos nunca foi amplamente aceita", disse Sannino, ao resumir as conclusões das discussões entre os líderes globais presentes em Davos.



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