São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

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Violência põe Beirute sob toque de recolher

Confronto entre partidários e opositores do governo começou em universidade e Exército interveio; há pelo menos 3 mortos

Choques opuseram estudantes sunitas, aliados do premiê Siniora, a colegas xiitas; toque de queda é o primeiro desde 1996


DA REDAÇÃO

O Exército libanês decretou toque de recolher ontem na capital depois que confrontos entre opositores e partidários do governo deixaram pelo menos três mortos e mais de cem feridos em uma universidade muçulmana de Beirute. Foi o terceiro dia de violência no país -que desde dezembro está mergulhado em tensões políticas-, e o primeiro toque de recolher desde 1996.
Os choques de ontem, entre estudantes sunitas pró-governo e xiitas que apóiam a oposição, deram contornos sectários preocupantes à disputa, reforçando os temores de que a escalada de tensão leve a uma nova guerra civil, numa repetição do brutal conflito que devastou o Líbano entre 1975 e 1990.
As informações sobre o número de mortos e a origem dos confrontos de ontem são desencontradas e refletem a divisão do país, que se estende aos meios de comunicação. Os choques, que começaram na cafeteria da Universidade Árabe de Beirute, se estenderam pela vizinhança, habitada principalmente por muçulmanos sunitas.
A briga tomou proporções de batalha campal quando moradores sunitas foram chamados para ajudar, levando os estudantes xiitas a pedir reforço ao grupo radical Hizbollah.
O Exército teve que intervir com tropas de choque, que deram tiros para o alto para dispersar os confrontos. Algumas emissoras de TV disseram que quatro estudantes foram mortos com ferimentos de bala.
De acordo com a emissora de TV Al Manar, do Hizbollah, partidários do governista Movimento do Futuro, liderado pelo sunita Saad Hariri, invadiram a universidade com o propósito de agredir e seqüestrar estudantes xiitas, dando início aos distúrbios. Quase simultaneamente ao toque de recolher decretado pelo Exército, o líder do Hizbollah, xeque Hassan Nassralah, foi à TV pedir calma e dizer a seus seguidores que era um "dever religioso" deixar as ruas e evitar o confronto.
Em Paris, onde participava de uma conferência de doadores destinada a ajudar a reconstrução das áreas do país devastadas pela guerra entre Hizbollah e Israel, no ano passado, o premiê Fuad Siniora, alvo principal dos protestos da oposição, pediu aos libaneses que "se distanciem das tensões".
"Ninguém pode ajudar um país se sua população não quer se ajudar", disse Siniora. "Eu apelo a sua sabedoria e razão."
Embora detonados por uma disputa política, os confrontos na universidade demonstraram o alto nível de tensão que permeia as comunidades religiosas do país e a rapidez com que elas podem sair do controle de seus líderes.

Pedido de reforço
Militantes do Hizbollah convocaram correligionários através de aparelhos de rádio e, em questão de minutos, dezenas de combatentes uniformizados chegaram ao campus, onde enfrentaram os rivais sunitas com paus, pedaços de móveis e tudo o que lhes caía nas mãos. Não se sabe de onde partiram os tiros.
Em meio aos choques, colunas de fumaça negra cobriram os céus da vizinhança, no sul de Beirute, enquanto carros eram queimados por manifestantes. Com pedras e paus, a batalha deixou a universidade e ganhou as ruas.
"Tememos pelo futuro do país. Tememos uma guerra civil", disse Mohammed Abdul-Sater, estudante xiita de 21 anos, enquanto tentava se proteger das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia.
Três mortes foram confirmadas, e pelo menos 169 pessoas ficaram feridas, algumas a bala. De acordo com os hospitais aos quais foram levados os corpos, pôde-se concluir que um dos mortos era sunita e os outros dois xiitas.
Os confrontos duraram até quase o último minuto antes do toque de recolher entrar em vigor, às 20h30 (16h30 de Brasília), quando as ruas de Beirute ficaram desertas. Pouco antes, partidários do governo atearam fogo ao escritório de um pequeno partido ligado ao Hizbollah.


Com agências internacionais

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