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Violência põe Beirute sob toque de recolher
Confronto entre partidários e opositores do governo começou em universidade e Exército interveio; há pelo menos 3 mortos
Choques opuseram estudantes sunitas, aliados do premiê Siniora, a colegas xiitas; toque de queda é o primeiro desde 1996
DA REDAÇÃO
O Exército libanês decretou
toque de recolher ontem na capital depois que confrontos entre opositores e partidários do
governo deixaram pelo menos
três mortos e mais de cem feridos em uma universidade muçulmana de Beirute. Foi o terceiro dia de violência no país
-que desde dezembro está
mergulhado em tensões políticas-, e o primeiro toque de recolher desde 1996.
Os choques de ontem, entre
estudantes sunitas pró-governo e xiitas que apóiam a oposição, deram contornos sectários
preocupantes à disputa, reforçando os temores de que a escalada de tensão leve a uma nova
guerra civil, numa repetição do
brutal conflito que devastou o
Líbano entre 1975 e 1990.
As informações sobre o número de mortos e a origem dos
confrontos de ontem são desencontradas e refletem a divisão do país, que se estende aos
meios de comunicação. Os choques, que começaram na cafeteria da Universidade Árabe de
Beirute, se estenderam pela vizinhança, habitada principalmente por muçulmanos sunitas.
A briga tomou proporções de
batalha campal quando moradores sunitas foram chamados
para ajudar, levando os estudantes xiitas a pedir reforço ao
grupo radical Hizbollah.
O Exército teve que intervir
com tropas de choque, que deram tiros para o alto para dispersar os confrontos. Algumas
emissoras de TV disseram que
quatro estudantes foram mortos com ferimentos de bala.
De acordo com a emissora de
TV Al Manar, do Hizbollah,
partidários do governista Movimento do Futuro, liderado
pelo sunita Saad Hariri, invadiram a universidade com o propósito de agredir e seqüestrar
estudantes xiitas, dando início
aos distúrbios. Quase simultaneamente ao toque de recolher
decretado pelo Exército, o líder
do Hizbollah, xeque Hassan
Nassralah, foi à TV pedir calma
e dizer a seus seguidores que
era um "dever religioso" deixar
as ruas e evitar o confronto.
Em Paris, onde participava
de uma conferência de doadores destinada a ajudar a reconstrução das áreas do país devastadas pela guerra entre Hizbollah e Israel, no ano passado, o
premiê Fuad Siniora, alvo principal dos protestos da oposição,
pediu aos libaneses que "se distanciem das tensões".
"Ninguém pode ajudar um
país se sua população não quer
se ajudar", disse Siniora. "Eu
apelo a sua sabedoria e razão."
Embora detonados por uma
disputa política, os confrontos
na universidade demonstraram o alto nível de tensão que
permeia as comunidades religiosas do país e a rapidez com
que elas podem sair do controle
de seus líderes.
Pedido de reforço
Militantes do Hizbollah convocaram correligionários através de aparelhos de rádio e, em
questão de minutos, dezenas de
combatentes uniformizados
chegaram ao campus, onde enfrentaram os rivais sunitas com
paus, pedaços de móveis e tudo
o que lhes caía nas mãos. Não se
sabe de onde partiram os tiros.
Em meio aos choques, colunas de fumaça negra cobriram
os céus da vizinhança, no sul de
Beirute, enquanto carros eram
queimados por manifestantes.
Com pedras e paus, a batalha
deixou a universidade e ganhou
as ruas.
"Tememos pelo futuro do
país. Tememos uma guerra civil", disse Mohammed Abdul-Sater, estudante xiita de 21
anos, enquanto tentava se proteger das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia.
Três mortes foram confirmadas, e pelo menos 169 pessoas
ficaram feridas, algumas a bala.
De acordo com os hospitais aos
quais foram levados os corpos,
pôde-se concluir que um dos
mortos era sunita e os outros
dois xiitas.
Os confrontos duraram até
quase o último minuto antes do
toque de recolher entrar em vigor, às 20h30 (16h30 de Brasília), quando as ruas de Beirute
ficaram desertas. Pouco antes,
partidários do governo atearam
fogo ao escritório de um pequeno partido ligado ao Hizbollah.
Com agências internacionais
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