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Negociação deveria incluir Hamas, diz analista
SAMY ADGHIRNI
DA REDAÇÃO
O descontrole na fronteira
entre a faixa de Gaza e o Egito é
resultado de sucessivos erros
estratégicos cometidos pelo governo de Israel nos últimos
anos, acredita Amnon Kapeliouk, analista dos principais
jornais israelenses e do "Monde Diplomatique".
Em entrevista por telefone à
Folha, desde Jerusalém, Kapeliouk afirmou que os últimos
acontecimentos enfraqueceram ainda mais a liderança de
Mahmud Abbas, presidente da
Autoridade Nacional Palestina
(ANP), e disse que nenhum
acordo de paz é viável sem a inclusão nas negociações do Hamas, que controla Gaza desde
junho último.
Considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e União Européia, o Hamas
prega em sua carta fundadora a
destruição do Estado judeu.
O analista avalia que, por
romper o bloqueio israelense e
ser cada vez mais popular entre
os palestinos, o Hamas mostrou ser um protagonista incontornável. Israel encara Abbas como um líder moderado e
único interlocutor palestino legítimo.
Kapeliouk lembra que o Hamas buscou aceitação quando
chegou ao poder, após as legislativas de 2006. O grupo suspendeu os atentados e ofereceu
a Israel um cessar-fogo de dez
anos. "A resposta dos israelenses foi caçar membros do Hamas por terra, céu e mar", afirma. Israel teme que o Hamas
aproveite uma eventual trégua
para aumentar seu estoque de
armas e planejar atentados.
Kapeliouk sustenta que o
cerco a Gaza começou antes da
chegada ao poder do Hamas e
que os ataques israelenses contra o território ocorrem há
anos, quase diariamente. Israel
argumenta que as ofensivas são
uma resposta aos incessantes
disparos de foguetes Qassam.
Segundo Kapeliouk, Egito e
EUA têm papel ambíguo na crise. O ditador Hosni Mubarak
está dividido entre as pressões
internas pró-palestinas e a
compromisso de cumprir o
acordo que o obriga a controlar
o sul de Gaza. O Egito é, ao lado
da Jordânia, o único país árabe
que reconhece Israel formalmente.
Já o presidente americano,
George W. Bush, que tem mais
um ano de mandato, aposta
suas últimas fichas nos israelenses e palestinos, depois de
fracassar no Afeganistão e no
Iraque. "A conferência de Annapolis [em novembro] foi um
fiasco. E quando foi a Israel,
Bush defendeu "fronteiras aceitáveis para ambos", uma novidade", aponta Kapeliouk. "Até
então, prevaleciam as resoluções da ONU que exigem a retirada dos territórios ocupados
em 1967. Agora, Bush dá carta
branca ao plano israelense de
anexar um bloco de colônias da
Cisjordânia, numa prova de
que toda negociação é favorável
a Israel."
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