São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

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Negociação deveria incluir Hamas, diz analista

SAMY ADGHIRNI
DA REDAÇÃO

O descontrole na fronteira entre a faixa de Gaza e o Egito é resultado de sucessivos erros estratégicos cometidos pelo governo de Israel nos últimos anos, acredita Amnon Kapeliouk, analista dos principais jornais israelenses e do "Monde Diplomatique".
Em entrevista por telefone à Folha, desde Jerusalém, Kapeliouk afirmou que os últimos acontecimentos enfraqueceram ainda mais a liderança de Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), e disse que nenhum acordo de paz é viável sem a inclusão nas negociações do Hamas, que controla Gaza desde junho último.
Considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e União Européia, o Hamas prega em sua carta fundadora a destruição do Estado judeu.
O analista avalia que, por romper o bloqueio israelense e ser cada vez mais popular entre os palestinos, o Hamas mostrou ser um protagonista incontornável. Israel encara Abbas como um líder moderado e único interlocutor palestino legítimo.
Kapeliouk lembra que o Hamas buscou aceitação quando chegou ao poder, após as legislativas de 2006. O grupo suspendeu os atentados e ofereceu a Israel um cessar-fogo de dez anos. "A resposta dos israelenses foi caçar membros do Hamas por terra, céu e mar", afirma. Israel teme que o Hamas aproveite uma eventual trégua para aumentar seu estoque de armas e planejar atentados.
Kapeliouk sustenta que o cerco a Gaza começou antes da chegada ao poder do Hamas e que os ataques israelenses contra o território ocorrem há anos, quase diariamente. Israel argumenta que as ofensivas são uma resposta aos incessantes disparos de foguetes Qassam.
Segundo Kapeliouk, Egito e EUA têm papel ambíguo na crise. O ditador Hosni Mubarak está dividido entre as pressões internas pró-palestinas e a compromisso de cumprir o acordo que o obriga a controlar o sul de Gaza. O Egito é, ao lado da Jordânia, o único país árabe que reconhece Israel formalmente.
Já o presidente americano, George W. Bush, que tem mais um ano de mandato, aposta suas últimas fichas nos israelenses e palestinos, depois de fracassar no Afeganistão e no Iraque. "A conferência de Annapolis [em novembro] foi um fiasco. E quando foi a Israel, Bush defendeu "fronteiras aceitáveis para ambos", uma novidade", aponta Kapeliouk. "Até então, prevaleciam as resoluções da ONU que exigem a retirada dos territórios ocupados em 1967. Agora, Bush dá carta branca ao plano israelense de anexar um bloco de colônias da Cisjordânia, numa prova de que toda negociação é favorável a Israel."


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