São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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Pró-Morales, votação no campo é alvo de acusação

DO ENVIADO A LA PAZ

Uma das grandes forças políticas do presidente Evo Morales, o amplo apoio das áreas rurais indígenas -em algumas zonas eleitorais, chega a 100% dos votos- tem provocado acusações de coação contra o partido governista MAS (Movimento ao Socialismo).
Já os oficialistas defendem o voto comunitário argumentando que ele tem origem em antigos costumes indígenas, segundo os quais as decisões são tomadas coletivamente.
Com 38% da população no campo, o voto rural tem mais peso na Bolívia do que nos demais países da região. Esse índice é ainda maior no altiplano, onde Morales tem mais apoio e a população urbana é de 35%.
Os votos das comunidades rurais, aonde os institutos de pesquisa não chegam, são os principais responsáveis pelas "surpresas" na eleição presidencial de 2005, quando Morales venceu no primeiro turno, e no referendo realizado em agosto, que o ratificou no cargo com 67% dos votos válidos.
O principal argumento da oposição é um levantamento feito pela OEA (Organização dos Estados Americanos) no referendo de agosto, segundo o qual houve violações ao voto secreto em 9% das seções.
"Não faz parte dos costumes bolivianos líderes da comunidade, com chicotes na mão, lhe obrigarem a mostrar a cédula. É uma fraude que nem sequer precisa de dinheiro nem de outros subterfúgios. É simples e pura intimidação e agressão por parte de estruturas de governo para distorcer as vontades", disse à Folha o líder opositor e ex-presidente Jorge "Tuto" Quiroga.
A acusação foi rechaçada pelo ministro do Desenvolvimento Rural, Carlos Romero. Para ele, o voto maciço no campo se deve ao crescimento "do nível de consciência política".
"Isso está à margem de qualquer tipo de coerção. O MAS não precisa pressionar, porque as comunidades se reúnem e decidem tudo de maneira orgânica, disciplinada e por vontade própria", disse, por telefone.
Segundo o sociólogo Fernando Mayorga, em algumas regiões, as comunidades costumam se reunir em assembleia para escolher o prefeito, os vereadores e até a qual partido deveriam se filiar. As eleições, nesses casos, apenas oficializam essas decisões.
Mayorga, professor da Universidade Pública Maior de San Simón (Cochabamba), diz que o MAS tem se aproveitado dessa prática ao ser o único partido com presença na área rural, mas que, em alguns casos, tem havido coerção, principalmente por meio da violação do voto secreto. (FM)


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