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HAITI EM RUÍNAS
Jovem de 14 anos é resgatada após 13 dias
Guerlane Guay relata à Folha que não se alimentou em nenhum momento e que sobreviveu graças a cinco galões de água
Segundo ministra haitiana, os familiares da garota conseguiram retirá-la dos escombros sem ajuda de nenhuma equipe de resgate
LUÍS KAWAGUTI
EM PORTO PRÍNCIPE
Uma adolescente de 14 anos
foi retirada com vida dos escombros de sua casa ontem
após passar 13 dias soterrada.
Guerlane Guay relatou à Folha
que não se alimentou em nenhum momento e só sobreviveu porque teve acesso a cinco
galões de água.
"Agora estou me sentindo
bem. Quando estava [sob os escombros], fiquei com muito
medo e rezei bastante", disse.
Guerlane estava muito magra e ainda tinha poeira do desabamento impregnada no cabelo, no pescoço e nos braços.
Esgotada, quase não falava, só
sussurrava algumas frases segurando com força o pescoço
de seu pai, Vital Jean Wesler.
Sem forças para caminhar, a
jovem tinha que ser o tempo
todo carregada. Ela ficava no
colo do pai e em uma cadeira
enquanto esperava o carro que
a levaria para um hospital.
Ela falou com a Folha nesse
momento, no pátio do comissariado de polícia que funciona
como sede do governo -para
onde foi levada por vizinhos.
Guerlane estava em casa, na
rua Delmas 11, na capital, quando o tremor ocorreu. A região
tinha muitos sobrados e casas
de alvenaria e foi uma das que
mais sofreram com o sismo.
Mesmo sob escombros, ela
tinha condições de fazer alguns
movimentos e pôde ter acesso
a cinco galões de água potável
que estavam em sua casa.
Segundo a ministra da Cultura e das Comunicações, Marie
Laurence Jocelyn Lassegue, a
mãe de Guerlane foi encontrada três dias após o terremoto
no mesmo imóvel. Mas a família não sabia se a jovem estava
na casa na hora do terremoto.
Ontem, por volta das 11h30,
um grupo de familiares da garota vasculhava os escombros
da casa em busca de documentos. A garota conseguiu ver
seus parentes por um buraco
em uma parede, começou a fazer barulho e conseguiu tocar
uma das pessoas introduzindo
um objeto no buraco da parede.
Os familiares perceberam o
que estava acontecendo e um
grupo de 20 haitianos começou
a escavar os escombros. Eles
conseguiram retirar a garota
sem ajuda de nenhuma equipe
de resgate, segundo Lassegue.
"Eu tinha certeza de que ainda encontraria minha filha viva. Foi um milagre", disse o pai.
"Ela foi retirada de lá sem ferimentos e trazida para cá. Estamos levando-a para um hospital", afirmou a ministra, que
providenciou para que a vítima
fosse levada ao hospital.
A ONU chegou a anunciar na
semana passada que o governo
suspendera as buscas por sobreviventes, mas autoridades
locais depois disseram que ainda procurava vítimas com vida.
Até agora, mais de 120 pessoas foram resgatadas com vida. Autoridades calculam em
150 mil o número de mortos no
sismo, mas ainda há milhares
de corpos nos escombros. Cerca de 194 mil ficaram feridas.
O braço humanitário da
ONU (Ocha, na sigla em inglês)
também divulgou que o número de feridos que precisam de
cirurgia tem diminuído.
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