São Paulo, terça-feira, 26 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Jovem de 14 anos é resgatada após 13 dias

Guerlane Guay relata à Folha que não se alimentou em nenhum momento e que sobreviveu graças a cinco galões de água

Segundo ministra haitiana, os familiares da garota conseguiram retirá-la dos escombros sem ajuda de nenhuma equipe de resgate


LUÍS KAWAGUTI
EM PORTO PRÍNCIPE

Uma adolescente de 14 anos foi retirada com vida dos escombros de sua casa ontem após passar 13 dias soterrada. Guerlane Guay relatou à Folha que não se alimentou em nenhum momento e só sobreviveu porque teve acesso a cinco galões de água.
"Agora estou me sentindo bem. Quando estava [sob os escombros], fiquei com muito medo e rezei bastante", disse.
Guerlane estava muito magra e ainda tinha poeira do desabamento impregnada no cabelo, no pescoço e nos braços. Esgotada, quase não falava, só sussurrava algumas frases segurando com força o pescoço de seu pai, Vital Jean Wesler.
Sem forças para caminhar, a jovem tinha que ser o tempo todo carregada. Ela ficava no colo do pai e em uma cadeira enquanto esperava o carro que a levaria para um hospital.
Ela falou com a Folha nesse momento, no pátio do comissariado de polícia que funciona como sede do governo -para onde foi levada por vizinhos.
Guerlane estava em casa, na rua Delmas 11, na capital, quando o tremor ocorreu. A região tinha muitos sobrados e casas de alvenaria e foi uma das que mais sofreram com o sismo.
Mesmo sob escombros, ela tinha condições de fazer alguns movimentos e pôde ter acesso a cinco galões de água potável que estavam em sua casa.
Segundo a ministra da Cultura e das Comunicações, Marie Laurence Jocelyn Lassegue, a mãe de Guerlane foi encontrada três dias após o terremoto no mesmo imóvel. Mas a família não sabia se a jovem estava na casa na hora do terremoto.
Ontem, por volta das 11h30, um grupo de familiares da garota vasculhava os escombros da casa em busca de documentos. A garota conseguiu ver seus parentes por um buraco em uma parede, começou a fazer barulho e conseguiu tocar uma das pessoas introduzindo um objeto no buraco da parede.
Os familiares perceberam o que estava acontecendo e um grupo de 20 haitianos começou a escavar os escombros. Eles conseguiram retirar a garota sem ajuda de nenhuma equipe de resgate, segundo Lassegue.
"Eu tinha certeza de que ainda encontraria minha filha viva. Foi um milagre", disse o pai.
"Ela foi retirada de lá sem ferimentos e trazida para cá. Estamos levando-a para um hospital", afirmou a ministra, que providenciou para que a vítima fosse levada ao hospital.
A ONU chegou a anunciar na semana passada que o governo suspendera as buscas por sobreviventes, mas autoridades locais depois disseram que ainda procurava vítimas com vida.
Até agora, mais de 120 pessoas foram resgatadas com vida. Autoridades calculam em 150 mil o número de mortos no sismo, mas ainda há milhares de corpos nos escombros. Cerca de 194 mil ficaram feridas.
O braço humanitário da ONU (Ocha, na sigla em inglês) também divulgou que o número de feridos que precisam de cirurgia tem diminuído.


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