Site divulga imagem de pré-candidato usando turbante e a credita a assessores de Hillary, que negam

Campanha do candidato que lidera disputa partidária volta a negar raiz islâmica e critica ato "vergonhoso e ofensivo para criar medo"

arquivo-2006/Associated Press

Obama (dir.) veste roupa típica africana em Wajir, no Quênia

DA REDAÇÃO

O comando da campanha do pré-candidato democrata Barack Obama acusou ontem sua rival no partido, Hillary Clinton, de ser responsável pela divulgação de uma foto em que ele aparece com roupas africanas tradicionais e com um turbante, o que reaviva o debate sobre as supostas origens muçulmanas da família do senador. Ele se declara protestante.
"[Divulgar a foto] é o ato mais vergonhoso, ofensivo e com vistas a criar medo que já vimos por parte de qualquer partido nesta eleição", disse David Plouffe, coordenador da campanha do pré-candidato.
A fotografia foi tirada em 2006, quando Obama, em viagem pela África, passou alguns dias no Quênia, país de origem de seu pai e onde vive sua avó. A imagem mostra o senador com roupas tradicionais que recebeu de presente de líderes tribais durante uma visita à área rural de Wajir (nordeste).
Antes de se espalhar por sites de notícia no mundo inteiro, a foto foi publicada no "Drudgereport" (www.drudgereport.com), blog político comandado por Matt Drudge que costuma dar tratamento sensacionalista a notícias e boatos -foi o que primeiro divulgou, em 1998, o caso do ex-presidente Bill Clinton, marido de Hillary, com Monica Lewinsky.
Segundo informou o blog, a foto está circulando entre colaboradores de Hillary, que recebeu ontem a notícia de que a candidatura de Obama se fortaleceu até em Ohio, que fará prévias decisivas em 4 de março.
A campanha de Hillary negou ter circulado a fotografia, que em si não tem significado particular, já que muitos políticos usam roupas tradicionais nos países que visitam.
"Quero deixar claro que não conhecemos essa fotografia, a campanha não a sancionou e eu não sei nada sobre isso", disse o porta-voz de Hillary, Howard Wolfson. "Se a campanha de Barack Obama quer sugerir que uma foto dele usando roupas tradicionais é problemática, eles deveriam se envergonhar. Hillary Clinton já usou roupas tradicionais de países que visitou e as imagens foram amplamente publicadas", reforçou a coordenadora da campanha da democrata, Maggie Williams.
A imagem surge num momento em que há insinuações de que Obama e sua mulher, Michelle, não são suficientemente "patrióticos" e reforça o rumor de que o senador teria algo a esconder sobre a religião de familiares de seu pai antes das prévias no Texas, Estado conservador. Também pesou contra Obama a declaração de apoio de Louis Farrakhan, líder dos muçulmanos afro-americanos, que definiu ontem o pré-candidato negro como "a única esperança" para acabar com divisões raciais.
O jornal "Los Angeles Times" afirmou recentemente que Obama foi registrado como muçulmano em escolas na Indonésia, onde morou com a mãe e seu padrasto indonésio por cerca de quatro anos. "Obama respeita todas as fés, (..) mas nunca foi muçulmano, não foi criado como tal, e é um cristão praticante", disse sua campanha em um comunicado.

Distração
Assessores de Hillary reclamaram que Obama quis desviar as atenções no dia em que a ex-primeira-dama fez um discurso de política externa no qual chamou o rival de "inexperiente" e o acusou de buscar aproximação com governos "fora da lei", como Cuba e Irã.
"Ele oscila entre parecer crer que encontros sem precondições podem resolver os problemas mais difíceis do mundo e defender ações militares duras e unilaterais na região mais sensível do mundo", disse ela. A segunda menção foi uma alusão ao Paquistão, aliado dos EUA, que Obama disse que invadiria se tivesse informações críveis sobre a localização do terrorista Osama bin Laden.