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Imigrantes vivem limbo jurídico
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista José Moisés Martín Carretero, professor da Universidade Complutense de Madri,
é um dos maiores críticos da nova
política de fronteiras blindadas da
Espanha. Ele dirige a organização
não-governamental Las Segovias,
que trabalha com projetos sociais
na América Latina e na África, e é
presidente da Plataforma Não-Governamental Euromediterrânea. Martín acha que esses novos
imigrantes estão em um limbo jurídico. Leia os principais trechos
da entrevista dele à Folha.
Folha - Como a Espanha deveria
lidar com esse grande número de
recém-chegados?
José Moisés Martín Carretero -
Qualquer medida de curto prazo
não vai resolver o problema. A
médio e longo prazo, só dá para
reduzir esse fluxo se conseguirmos melhorar as condições de vida nos países africanos. Para isso,
teríamos que aumentar a quantidade e a qualidade da cooperação
internacional e praticar políticas
comerciais mais justas.
Folha - Enquanto isso não acontece, o que fazer com as pessoas que
chegam às praias canárias?
Martín - O respeito aos direitos
humanos sempre vem em primeiro lugar. Os direitos dos imigrantes não estão sendo respeitados.
Qualquer expulsão deve ser assinada por um juiz. Isso não acontece. Pega-se o grupo inteiro, coloca-se em um navio da Marinha
e eles são enviados de volta para a
Mauritânia. É claro que eles ficam
esperando lá até tentar a travessia
de novo.
Folha - Mas se o governo espanhol acolhesse todos, milhões se
jogariam às balsas para tentar uma
vida melhor. A Espanha conseguiria dar emprego para tanta gente?
Martín - O problema não é só da
Espanha, mas de toda a comunidade internacional. É impossível
impermeabilizar a União Européia. A maioria dos nossos imigrantes ilegais não chega em barcos, mas chega no aeroporto internacional de Madri. O pior é que
o governo está deixando os problemas na mão do mais fraco, que
é a Mauritânia. Obviamente, o
país não terá como cuidar desses
refugiados.
Folha - O que acontece com esses
imigrantes quando voltam para a
Mauritânia?
Martín - Eles ficam em um limbo
jurídico. Não são asilados nem refugiados. São apenas rejeitados na
fronteira, estão sujeitos a qualquer coisa que lhes aconteça. E a
maioria deles nem é cidadã da
Mauritânia. Vieram do Mali, da
Guiné, do Senegal.
Folha - Ao mesmo tempo, a Europa está envelhecendo e precisa de
mão-de-obra barata.
Martín - O processo de busca de
mão-de-obra para a construção
civil e agricultura deveria ser normalizado. Ela não compete com a
mão-de-obra local. Se você institucionaliza essa demanda, você
pode reduzir a imigração ilegal.
Folha - Qual é a diferença entre
socialistas e a direita no trato dos
imigrantes?
Martín - O governo socialista reconheceu a situação dos imigrantes irregulares e tentou resolvê-la.
Para a direita, eles eram invisíveis.
Mas no controle de fronteiras, a
política é quase igual.
(RJL)
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