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Chávez desapropria 16 fazendas
Áreas passam a ser "propriedade social", anunciou o líder venezuelano no programa "Alô Presidente"
Nos oito anos do governo atual, terras desapropriadas já somam dois milhões de hectares, o equivalente à área do Estado de Sergipe
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, usou o seu programa de TV dominical de ontem para transmitir ao vivo a
desapropriação simultânea de
16 grandes propriedades rurais
supostamente improdutivas
em várias regiões do país, numa
grande operação militar. Diferentemente de projetos agrários anteriores, as novas áreas
passarão a ser de "propriedade
social".
"Esta é uma das 16 fazendas
que hoje a revolução está intervindo nesta mesma hora em todo o país", disse Chávez, no início do "Alô Presidente", gravado no pasto de uma área tomada no seu Estado natal, Barinas
(oeste), governado por seu pai,
Hugo de los Reyes Chávez. Esse
assistiu ao programa ao lado de
outro filho, Adán, o novo ministro da Educação.
De acordo com o presidente
venezuelano, houve apenas um
incidente, em que os soldados
foram recebidos a tiros de fuzil
AR-15. O general encarregado
de coordenar as operações informou, ao vivo, que havia
"uma operação em curso" contra os autores dos disparos.
Ao todo, foram desapropriados ontem cerca de 330 mil
hectares, área pouco maior do
que o Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro. Segundo dados oficiais, desde o início
do seu governo, em 1999, Chávez desapropriou 2 milhões de
hectares, área semelhante a
Sergipe. Foram entregues nesse período cerca de 80 mil títulos de terras.
As áreas ocupadas ontem, no
entanto, não serão fracionadas,
mas terão "propriedade social",
com um modelo socialista de
exploração, segundo Chávez.
"A propriedade social não é privada, não é de ninguém, é propriedade coletiva do povo, através do Estado."
O presidente venezuelano
assegurou que apenas grandes
propriedades improdutivas serão desapropriadas e negou o
fim da propriedade privada.
Reeleição
Nos próximos dias, deve ficar
pronta uma proposta de reforma constitucional impulsionada por Chávez que incluirá a
mudança no conceito de propriedade. Outro artigo que deve
ser proposto é a reeleição indefinida para presidente e outros
cargos.
Outra mudança anunciada
ontem foi a criação dos Comandos Zamoranos, em homenagem a Ezequiel Zamora (1817-1860), líder político defensor da
reforma agrária. Liderado por
oficiais militares, cada um dos
comandos montará um acampamento nas propriedades desapropriadas para fazer a segurança e implantar os projetos
agrários.
"É a guerra contra o latifúndio, por isso o conceito de comando", disse o presidente, cujo programa de ontem durou
cerca de cinco horas.
De acordo com Chávez, a
maioria das terras tomadas ontem é apropriada para a criação
de gado e ajudará para sair da
crise de desabastecimento que
afeta o país há várias semanas.
Faltam produtos básicos com
preços tabelados pelo governo,
entre os quais açúcar, feijão,
carne e leite. Ele afirmou que o
problema da falta de produtos
representa "a guerra do socialismo contra o capitalismo".
Material bélico
Chávez anunciou ainda que
reforçará o sistema de defesa
antiaéreo do país com mísseis
de pequeno, médio e longo alcance. O material será comprado da China e de Belarus, cujo
secretário do Conselho de Segurança, Víctor Sheiman, participou da gravação do "Alô Presidente".
"Contamos com dois canhõezinhos de curto alcance,
que é como se fôssemos boxear
sem braços contra um boxeador com braços de dois metros", disse o presidente venezuelano, ao justificar a compra
anunciada.
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