São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2007

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Chávez desapropria 16 fazendas

Áreas passam a ser "propriedade social", anunciou o líder venezuelano no programa "Alô Presidente"

Nos oito anos do governo atual, terras desapropriadas já somam dois milhões de hectares, o equivalente à área do Estado de Sergipe

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, usou o seu programa de TV dominical de ontem para transmitir ao vivo a desapropriação simultânea de 16 grandes propriedades rurais supostamente improdutivas em várias regiões do país, numa grande operação militar. Diferentemente de projetos agrários anteriores, as novas áreas passarão a ser de "propriedade social".
"Esta é uma das 16 fazendas que hoje a revolução está intervindo nesta mesma hora em todo o país", disse Chávez, no início do "Alô Presidente", gravado no pasto de uma área tomada no seu Estado natal, Barinas (oeste), governado por seu pai, Hugo de los Reyes Chávez. Esse assistiu ao programa ao lado de outro filho, Adán, o novo ministro da Educação.
De acordo com o presidente venezuelano, houve apenas um incidente, em que os soldados foram recebidos a tiros de fuzil AR-15. O general encarregado de coordenar as operações informou, ao vivo, que havia "uma operação em curso" contra os autores dos disparos.
Ao todo, foram desapropriados ontem cerca de 330 mil hectares, área pouco maior do que o Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro. Segundo dados oficiais, desde o início do seu governo, em 1999, Chávez desapropriou 2 milhões de hectares, área semelhante a Sergipe. Foram entregues nesse período cerca de 80 mil títulos de terras.
As áreas ocupadas ontem, no entanto, não serão fracionadas, mas terão "propriedade social", com um modelo socialista de exploração, segundo Chávez. "A propriedade social não é privada, não é de ninguém, é propriedade coletiva do povo, através do Estado."
O presidente venezuelano assegurou que apenas grandes propriedades improdutivas serão desapropriadas e negou o fim da propriedade privada.

Reeleição
Nos próximos dias, deve ficar pronta uma proposta de reforma constitucional impulsionada por Chávez que incluirá a mudança no conceito de propriedade. Outro artigo que deve ser proposto é a reeleição indefinida para presidente e outros cargos.
Outra mudança anunciada ontem foi a criação dos Comandos Zamoranos, em homenagem a Ezequiel Zamora (1817-1860), líder político defensor da reforma agrária. Liderado por oficiais militares, cada um dos comandos montará um acampamento nas propriedades desapropriadas para fazer a segurança e implantar os projetos agrários.
"É a guerra contra o latifúndio, por isso o conceito de comando", disse o presidente, cujo programa de ontem durou cerca de cinco horas.
De acordo com Chávez, a maioria das terras tomadas ontem é apropriada para a criação de gado e ajudará para sair da crise de desabastecimento que afeta o país há várias semanas. Faltam produtos básicos com preços tabelados pelo governo, entre os quais açúcar, feijão, carne e leite. Ele afirmou que o problema da falta de produtos representa "a guerra do socialismo contra o capitalismo".

Material bélico
Chávez anunciou ainda que reforçará o sistema de defesa antiaéreo do país com mísseis de pequeno, médio e longo alcance. O material será comprado da China e de Belarus, cujo secretário do Conselho de Segurança, Víctor Sheiman, participou da gravação do "Alô Presidente".
"Contamos com dois canhõezinhos de curto alcance, que é como se fôssemos boxear sem braços contra um boxeador com braços de dois metros", disse o presidente venezuelano, ao justificar a compra anunciada.


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