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Democratização comprometeu os interesses americanos
DA REPORTAGEM LOCAL
Os Estados Unidos têm razões para se preocupar com o
Paquistão, diante da impossibilidade de restaurar a democracia sem que o poder estratégico
do ditador Pervez Musharraf
saísse comprometido.
A proliferação de regimes democráticos, presente na retórica de Washington, desce ao segundo plano quando está em
jogo a idéia monotemática de
combater o terrorismo e evitar
um novo 11 de Setembro, o que
faz plenamente sentido.
Mas não foram as pressões
americanas que debilitaram a
ditadura paquistanesa. Foram
as pressões dentro de uma sociedade toscamente organizada -sobretudo de magistrados
e advogados- que se articulou
no ano passado contra os planos do despótico Musharraf de
obter um novo e controvertido
mandato presidencial.
Pouco antes, em julho, o ditador já havia declarado guerra
aos integristas islâmicos de regiões urbanas, ao determinar
que o Exército matasse mais de
uma centena de radicais que
haviam se apoderado da Mesquita Vermelha, em Islamabad.
Um regime mais arejado,
acreditava o governo americano, permitiria ganhar em eficiência para neutralizar as regiões tribais na fronteira com o
Afeganistão, onde Osama bin
Laden permanece vivo e protegido por lideranças feudais.
Foi para isso que uma solução conciliatória estava no horizonte, com a volta do exílio de
Benazir Bhutto e a vitória que
seu partido efetivamente obteve nas eleições legislativas. Mas
o assassinato dela, em atentado
no qual partidários da ex-premiê responsabilizavam o governo, tornou inviável uma já
difícil parceria harmoniosa
com o general Musharraf.
O primeiro-ministro anteontem eleito e ontem empossado,
Yousaf Raza Gilani, procura
ocupar espaços que inviabilizem a permanência de Musharraf no poder.
Mesmo o Exército, bastião da
ditadura, modifica ligeiramente seu antigo perfil. Anteontem
foram removidos dois dos nove
comandantes militares mais
próximos do ditador.
Gilani libertou os magistrados que Musharraf mandara
prender em novembro. E possivelmente acredita, a exemplo
de seu aliado, Nawaz Sharif,
que sem um diálogo com os extremistas não cessarão os homens-bombas em Islamabad.
Desde janeiro já morreram 300
paquistaneses em atentados.
Esse diálogo implica concessões, que os EUA não aceitariam em razão do exclusivismo
do projeto de destruição por
meios militares da Al Qaeda,
Taleban e simpatizantes.
De qualquer modo, há nesse
processo limites nos quais estão em jogo interesses maiores
de toda a comunidade internacional. O Paquistão, por sua rivalidade com a Índia, construiu
armas atômicas. Um regime civil fraco poria em risco esse arsenal. Os militares locais talvez
acreditem que a longo prazo
não deram a última palavra.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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