São Paulo, quinta-feira, 26 de março de 2009

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Governo com radical põe em risco parceria com Egito

Agenda direitista abala acordo assinado há 30 anos

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

A chegada ao poder em Israel de um governo dominado por partidos da direita ameaça estremecer as relações entre o Egito e o Estado judeu, normalizadas há exatos 30 anos em acordo que sustentou boa parte dos esforços diplomáticos regionais desde então.
O Cairo não esconde a irritação com a escolha para chanceler do ultradireitista Avigdor Liberman, que, no ano passado, mandou "ao inferno" o ditador egípcio Hosni Mubarak caso ele não visitasse Israel.
Nomeado na semana passada pelo virtual premiê Binyamin Netanyahu, Liberman já era detestado no Egito por ter sugerido, em 1999, que a represa de Assuã, no Nilo, fosse bombardeada para inundar o país.
Em resposta, Mubarak ignorou as celebrações do 30º aniversário da paz com Israel, que passou em branco no Egito.
O Cairo também está preocupado com o próprio Netanyahu, cuja agenda contraria os esforços da diplomacia egípcia, com apoio americano, para apaziguar a região.
O virtual premiê rejeita a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino, norte das negociações desde 1993. Netanyahu também quer mudar a política em relação ao Hamas, grupo radical que controla Gaza há quase dois anos.
Em vez de usar o canal egípcio para conversar com o inimigo sobre temas como troca de prisioneiros, como fez o ainda premiê Ehud Olmert, Netanyahu defende aniquilar a facção.
Foi no período em que Netanyahu governou Israel pela primeira vez (1996-99) que a relação viveu seu pior momento. "Pode haver uma nova guerra fria entre os dois países, como no primeiro mandato de Netanyahu", diz o analista israelense Imad Gilad.

Aliança antissoviética
Setores no Egito pressionam pela revisão da paz assinada pelo presidente Anuar Sadat (Egito) e pelo premiê Menachem Begin (Israel) em 26 de março de 1979. O objetivo comum era evitar uma nova guerra entre os dois países mais bem armados da região, além de selar uma aliança antissoviética sob a égide da Casa Branca -os dois países estão hoje entre os que mais recebem dinheiro dos EUA.
O resultado foi ambivalente. Begin enfureceu muitos israelenses por peitar a histórica desconfiança em relação aos árabes. E, embora tenha obtido a primeira aceitação do Estado judeu pelos vizinhos, só a Jordânia seguiu o passo, em 1994.
Sadat pagou com a própria vida. Odiado pelo pacto com o "inimigo sionista", foi assassinado em 1981 a mando de radicais islâmicos. Assumiu o então vice Mubarak, que até hoje contraria os egípcios por aliar-se a Israel, como na recente ofensiva em Gaza, contra o Hamas -ligado ao maior grupo de oposição religiosa no Egito.
A paz israelo-egípcia não foi além de interesses pontuais. O comércio bilateral é insosso, e a prometida cooperação técnica e cultural nunca decolou.


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