São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2010

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Venezuela detém dono de TV crítica a Chávez

Guillermo Zuloaga, proprietário da Globovisión, é impedido de deixar país por "vilipendiar" presidente em evento de imprensa

Em audiência, juiz decide soltar empresário e reforça proibição de viagem; TV é a única de sinal aberto a fazer linha crítica ao governo

Fernando Liano - 4.jun.09/Associated Press
Guilhermo Zuloaga, dono da TV Globovisión, deixa sede da Procuradoria-Geral da Venezuela, em Caracas, em junho do ano passado

DA REDAÇÃO

O proprietário da emissora Globovisión, crítica ao governo da Venezuela, foi detido ontem após criticar o presidente Hugo Chávez devido ao suposto cerceamento da liberdade de expressão em um evento da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) no fim de semana. Ele foi solto à noite.
Guillermo Zuloaga foi detido por agentes da Inteligência militar do país em um aeroporto no Estado de Falcón (noroeste) quando se preparava para voar, em avião particular, para a ilha de Bonaire -território holandês perto da Venezuela.
O Ministério Público alegou temor de que Zuloaga saísse do país para pedir à Justiça a sua prisão, com base em denúncia de um deputado governista que o acusou de "vilipendiar" o presidente venezuelano no evento da SIP, que ocorreu em Aruba.
No encontro, o dono da Globovisión disse que "não se pode falar de liberdade de expressão em um país quando o governo usa a força para calar a mídia", segundo um relato da imprensa oficial. "O presidente Chávez venceu as eleições e tem legitimidade em sua origem, mas tem se focado em ser o presidente de um grupo de venezuelanos e tentado dividir o país."
Segundo a procuradora-geral Luisa Ortega, "[deputados] consideraram que as declarações num fórum internacional contra o presidente da República foram ofensivas e desrespeitosas com o chefe de Estado".
"Eu não tinha intenção de deixar a Venezuela. Eu estava indo para Bonaire para a Semana Santa", disse Zuloaga após sua detenção, no aeroporto em Falcón, à sua própria emissora.
O empresário foi levado a Caracas e interrogado por mais de duas horas, sob risco de ser indiciado por delito que acarreta até cinco anos de prisão. O juiz decidiu colocá-lo em liberdade, mas emitiu nova medida cautelar que o proíbe de sair do país.
Em julho do ano passado, a Justiça venezuelana já proibira Zuloaga, 67, de deixar o país, sob acusações de fraude, e ordenara que ele se apresentasse aos tribunais a cada oito dias. A residência do empresário ainda foi alvo de buscas pela polícia.
O atrito entre Zuloaga e o governo tem origem na linha acidamente crítica ao presidente venezuelano. Em 2002, a Globovisión apoiou fracassado golpe contra Chávez, e, no começo deste ano, a saída do diretor-geral da TV gerou especulações sobre suposta decisão da emissora de atenuar sua oposição.
Dias depois, Alberto Ravell afirmou que havia sido forçado a deixar o cargo devido a pressões do governo. A emissora, a única de sinal aberto que mantém oposição a Chávez, no entanto, negou e disse que seguiria empregando linha crítica.

Repressão
A prisão do empresário ocorre apenas três dias depois da detenção do ex-governador do Estado de Zulia, Oswaldo Álvarez Paz, que afirmara em entrevista à Globovisión no começo deste mês que a Venezuela havia se transformado em um paraíso para o tráfico de drogas.
No mês passado, o governo rejeitou a volta ao ar da TV por assinatura RCTV, que manifestara disposição em se ajustar às novas normas baixadas por Caracas que haviam motivado sua saída do ar em dezembro. O sinal aberto da TV, também crítica ao presidente Chávez, não havia sido renovado em 2007.
As medidas alimentam suspeitas de um aumento no cerco a dissidentes e à imprensa em momento que o país passa por séria crise energética, que debilita a popularidade de Chávez.


Com agências internacionais

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