São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2004

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SOCIEDADE

Evento se torna ato contrário à política de Bush sobre tema; entre 500 mil e 750 mil participam, segundo organizadores

Marcha pró-aborto reúne multidão nos EUA

Paul J. Richards/France Presse
Centenas de milhares participam de marcha favorável ao aborto e às mulheres, em Washington


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Entre 500 mil e 750 mil pessoas, segundo os organizadores, participaram ontem, em Washington, de uma marcha pró-aborto e em defesa dos direitos das mulheres.
Foi a maior manifestação sobre o tema no país desde 1992, quando 500 mil pessoas se reuniram na capital para defender a prática.
Em um país dividido politicamente, a manifestação reproduziu, com gritos e ataques, as diferenças entre os eleitores do presidente George W. Bush e simpatizantes do seu virtual opositor para a eleição em novembro, o democrata John Kerry.
Vestidos com camisetas rosas em sua maioria, os milhares de manifestantes, sobretudo mulheres e adolescentes, gritavam o tempo todo slogans contra Bush e a favor do aborto.
""Hey George, get out of my bush", diziam os manifestantes em um trocadilho com o nome do presidente que pedia a Bush para deixar em paz a área dos pêlos pubianos das mulheres.
Bush é contra o aborto, assinou recentemente lei proibindo a prática para alguns casos (alegando razões médicas) e, em seu primeiro dia como presidente, cortou verbas públicas dos EUA para grupos no exterior que executam ou defendem o procedimento.
Kerry, por seu lado, é a favor do aborto e disse, há poucos dias, que endossava a marcha realizada ontem. Ele não compareceu, mas a senadora democrata Hillary Clinton foi uma das primeiras a chegar e a discursar no evento.
Várias atrizes, como Sharon Stone e Demi Moore, também estiveram na manifestação, que durou mais de sete horas entre o início da concentração e seu final.
Nas esquinas por onde passavam, os barulhentos manifestantes eram recebidos aos gritos por grupos contrários ao aborto que chamavam os passantes de ""pervertidos". ""Bando de pecadores. Assassinos de crianças inocentes. Pervertidos sem alma", gritava Bill Collins, do Estado de Maryland, em um megafone contra os manifestantes. Ao seu lado, um grupo religioso trazia cartazes vaticinando a ""ira de Deus" contra os presentes -que riam e vaiavam em resposta.
Mais de 1.400 grupos pró-aborto e de defesa dos direitos das mulheres participaram da manifestação, que atraiu milhares de pessoas de outros Estados.
Mais de 800 ônibus começaram a chegar no sábado a Washington, que registrou um movimento incomum no final de semana. Segundo os organizadores, havia representantes de 50 países.
""Fiz dois abortos e não me arrependo. Jamais teria terminado a faculdade se tivesse sido mãe tão cedo", disse Jane Ghertz, 44, que batia um bumbo ao lado de sua filha Meg, de 14 anos.
Cerca de 60% dos americanos são a favor do aborto. Entre os republicanos do partido de Bush a proporção é de 46%, segundo pesquisa da rede ABC.
A prática do aborto foi legalizada nos EUA em 1973 por decisão da Suprema Corte e é um dos temas mais sensíveis da atual campanha eleitoral -que divide o país, principalmente, em questões de costumes.
Assim como boa parte dos presentes, Chris Kroogs, 24, moradora de Nova York, foi à manifestação com botons fornecidos pela campanha de Kerry. ""Precisamos salvar esse país das mãos de Bush nessa eleição", disse.
Aproveitando a concentração de milhares de pessoas mais liberais, o Partido Democrata montou diversas mesas no centro da cidade onde fez ontem uma agressiva campanha de registro de eleitores.


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