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China aceita abrir diálogo com enviados do dalai-lama
Medida atende a pressão internacional; analistas, porém, não esperam avanços
Até agora, chineses vinham se recusando a conversar com líder budista, em quem põem a culpa por protestos no Tibete no mês passado
Gopal Chitrakar/Reuters
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Tibetanos em Katmandu (Nepal) comemoram aniversário do panchen-lama e exibem cartazes pedindo que o Tibete seja salvo
JIM YARDLEY
DO "NEW YORK TIMES", EM PEQUIM
O governo chinês anunciou
ontem que receberia enviados
do dalai-lama, numa virada
inesperada que surge enquanto
a inquietação dos tibetanos
ameaça causar problemas durante a Olimpíada de Pequim.
O anúncio, feito por meio da
agência oficial de notícias do
país, oferece poucos detalhes
sobre as conversações, mas informa que elas começariam
"nos dias vindouros". A decisão
surgiu depois que funcionários
do governo chinês decidiram
agir para reprimir a ira nacionalista deflagrada pela crise do
Tibete e pelos protestos no percurso da tocha olímpica.
"Diante de repetidos pedidos, da parte do dalai-lama, por
uma retomada das conversações, o departamento relevante
do governo central fará contato
e consultará o representante
privado do dalai-lama nos próximos dias", teria dito um funcionário chinês não identificado à agência Xinhua.
O dalai-lama apelou repetidamente por uma retomada
nas negociações com funcionários chineses e na semana passada enviou uma carta ao presidente da China, Hu Jintao. Ontem, seu porta-voz, Tenzin Taklha, disse que "Sua Santidade
tem um compromisso com o
diálogo, e por isso acolhemos
positivamente essa notícia".
O porta-voz acrescentou que
o dalai-lama ainda não havia
recebido uma comunicação oficial da China. "Temos de observar quando a oferta chegará oficialmente", disse Taklha, de
Dharamsala, Índia, a sede do
governo tibetano no exílio. "Temos de estudar as condições
que eles propõem."
Funcionários chineses vinham havia semanas criticando fortemente o dalai-lama,
atribuindo a ele a culpa pelos
violentos protestos tibetanos
que irromperam em 14 de março em Lhasa e se espalharam
pelas demais regiões tibetanas,
no oeste da China. O dalai-lama
nega qualquer envolvimento
com as manifestações.
O momento do anúncio chinês sugere que os líderes do
partido esperam atenuar as críticas internacionais que vêm
crescendo intensamente desde
que começaram os protestos tibetanos. Diversos líderes europeus anunciaram que não comparecerão à cerimônia de abertura da Olimpíada.
Avanço improvável
Shi Yinhong, professor de relações internacionais na Universidade Popular de Pequim,
considera improvável que as
conversações resultem em
avanços. "Duvido que qualquer
das partes deseje alterar sua
posição fundamental. Se houver diálogo, será apenas conversa ociosa. Talvez as duas
partes desejem apenas impressionar as audiências ocidentais", disse.
O dalai-lama tem falado em
"autonomia genuína" no seio
do Estado chinês para uma entidade que ele descreve como
"Grande Tibete", que incluiria
a atual Região Autônoma do Tibete bem como áreas tibetanas
em Províncias chinesas vizinhas. No passado, o governo
chinês sempre resistiu a discutir o status do Tibete e se limitou a negociar a possibilidade
de retorno do dalai-lama.
"Não acredito que eles estejam dispostos a fazer grandes
concessões sobre questões concretas. O governo chinês jamais
admitiu que haja algo a negociar no que tange ao Tibete",
afirma o acadêmico de Pequim
Wang Lixiong.
A China há muito condena o
dalai-lama como "promotor da
cisão", interessado realmente
na independência do Tibete.
"Espera-se que, por meio de
contatos e consultas, o lado do
dalai-lama tome medidas confiáveis para deter as atividades
cujo objetivo é cindir a China, e
que detenha os complôs e a incitação à violência, bem como
deixe de prejudicar e sabotar os
Jogos Olímpicos de Pequim, a
fim de criar condições para as
negociações", disse o funcionário chinês não identificado no
anúncio oficial de ontem.
Samdhong Lobsang Tenzin
Rinpoche, primeiro-ministro
do governo tibetano no exílio,
denunciou as condições como
"absolutamente irrelevantes e
desprovidas de qualquer base".
"Sua Santidade não é a pessoa que instigou ou incitou o levante", disse Rinpoche em entrevista por telefone, de Dharamsala. "Sua Santidade não
quer a separação, e desde o começo apoiou os Jogos Olímpicos. O que quer que eles tenham dito é pura imaginação, e
não merece comentário."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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