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Equador deixa instabilidade e vota para reeleger Correa
Presidente consolida poder e sepulta anos convulsivos em que 3 governos não chegaram ao fim
Pesquisas apontam vitória no 1º turno; determinadas pela nova Carta, eleições de hoje "zeram" mandatos de todos os cargos eletivos
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente Rafael Correa
deve confirmar hoje nas urnas
a sua hegemonia política no
Equador com uma tranquila
reeleição ainda no primeiro
turno, aparentemente encerrando uma década de grande
instabilidade política no país.
A maioria das pesquisas garante a vitória do líder de esquerda com uma votação em
torno de 50%, suficiente para
conseguir mais quatro anos de
mandato sem necessidade de ir
ao segundo turno. Pela lei
equatoriana, um candidato é
declarado vitorioso caso obtenha ao menos 40% de apoio,
com uma distância superior a
dez pontos percentuais sobre o
adversário mais próximo.
Convocadas após a aprovação da nova Constituição, as
eleições de hoje também renovarão governadores e prefeitos,
entre outros cargos, "zerando"
todo os postos eletivos do país.
Essa fórmula é bastante semelhante à adotada pela Venezuela de Hugo Chávez e pela Bolívia de Evo Morales.
Ainda que Correa não deva
repetir a alta porcentagem de
recentes vitórias eleitorais (a
Constituição, apoiada por ele,
foi aprovada por 64% num referendo em setembro), nenhum
candidato opositor chegou a
ameaçá-lo na campanha.
Caso confirme o favoritismo,
o economista de 46 anos tem
direito de disputar mais uma
reeleição em 2013 -mecanismo criado pela nova Carta. Assim, poderá governar até 2017,
ficando dez anos no poder.
Já o segundo colocado nas
pesquisas, o ex-presidente Lucio Gutiérrez (Sociedade Patriótica, centro) deve assegurar
o seu reduto eleitoral nas pouco
povoadas Províncias amazônicas e fazer a segunda bancada
na Assembleia.
Sem fôlego, o excêntrico megamilionário Álvaro Noboa,
terceiro colocado, é praticamente um figurante na sua
quarta candidatura. Uma grande diferença em relação a 2006,
quando venceu o primeiro turno, mas acabou derrotado por
Correa na segunda etapa.
A popularidade e a estabilidade de Correa após pouco
mais de dois anos no cargo parecem encerrar anos de crise
institucional. Os três presidentes eleitos anteriores a ele foram forçados a deixar o poder
antes do final do mandato,
sempre em meio a manifestações e intervenção militar.
"Correa vendeu a ideia de um
personagem de fora da política,
jovem, com grande ênfase no
social, na reforma institucional. Por outro lado, os partidos
políticos tradicionais estão
num momento de grande enfraquecimento, sem contato
com a sociedade civil", avalia
Marco Arauz, subdiretor do
jornal "El Comercio", no qual
também é colunista político.
Para o economista Marco
Romero, da Universidade Andina Simon Bolivar (Quito), o
sucesso de Correa está ligado
também à bonança petroleira
dos últimos dois anos, que lhe
permitiu expandir o gasto em
programas sociais e investimentos públicos.
Mas a crise econômica, diz
ele, deve impedir a implementação de alguns direitos previstos na nova Constituição, como
o ensino superior gratuito universal e a ampliação do seguro-desemprego.
"A crise já começa a se manifestar no atraso dos pagamentos de obras públicas, no adiamento de projetos. Mas acho
que isso será sentido com mais
força no segundo semestre deste ano", prevê Romero.
Outras disputas
Com a reeleição praticamente certa, Correa vem centrando
esforços para conseguir a maioria na Assembleia. Nesta semana, ele disse esperar que o seu
partido, Aliança País, conquiste
ao menos 100 das 124 cadeiras.
Com essa bancada, poderia regulamentar a nova Carta sem a
necessidade de negociar.
"Querem ganhar na Assembleia para tentar privatizar tudo, impor o liberalismo e desestabilizar o governo", discursou
Correa na quinta-feira, último
dia de campanha.
Na avaliação de Arauz, a disputa pela Assembleia é a definição mais importante deste domingo. Baseado em pesquisas
recentes, ele prevê que Correa
obtenha maioria, mas em composição com partidos menores
não alinhados com a oposição.
Por outro lado, Correa novamente deverá perder em Guayaquil, principal cidade do país
e sua terra natal. O prefeito
opositor Jaime Nebot é o favorito nas pesquisas de opinião e
deve consolidar a região como o
maior bastião da oposição.
Correa também está com dificuldades para eleger a sua irmã Pierina, candidata a governadora de Guayas, importante
Província litorânea que inclui
Guayaquil.
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