São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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Equador deixa instabilidade e vota para reeleger Correa

Presidente consolida poder e sepulta anos convulsivos em que 3 governos não chegaram ao fim

Pesquisas apontam vitória no 1º turno; determinadas pela nova Carta, eleições de hoje "zeram" mandatos de todos os cargos eletivos


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente Rafael Correa deve confirmar hoje nas urnas a sua hegemonia política no Equador com uma tranquila reeleição ainda no primeiro turno, aparentemente encerrando uma década de grande instabilidade política no país.
A maioria das pesquisas garante a vitória do líder de esquerda com uma votação em torno de 50%, suficiente para conseguir mais quatro anos de mandato sem necessidade de ir ao segundo turno. Pela lei equatoriana, um candidato é declarado vitorioso caso obtenha ao menos 40% de apoio, com uma distância superior a dez pontos percentuais sobre o adversário mais próximo.
Convocadas após a aprovação da nova Constituição, as eleições de hoje também renovarão governadores e prefeitos, entre outros cargos, "zerando" todo os postos eletivos do país. Essa fórmula é bastante semelhante à adotada pela Venezuela de Hugo Chávez e pela Bolívia de Evo Morales.
Ainda que Correa não deva repetir a alta porcentagem de recentes vitórias eleitorais (a Constituição, apoiada por ele, foi aprovada por 64% num referendo em setembro), nenhum candidato opositor chegou a ameaçá-lo na campanha.
Caso confirme o favoritismo, o economista de 46 anos tem direito de disputar mais uma reeleição em 2013 -mecanismo criado pela nova Carta. Assim, poderá governar até 2017, ficando dez anos no poder.
Já o segundo colocado nas pesquisas, o ex-presidente Lucio Gutiérrez (Sociedade Patriótica, centro) deve assegurar o seu reduto eleitoral nas pouco povoadas Províncias amazônicas e fazer a segunda bancada na Assembleia.
Sem fôlego, o excêntrico megamilionário Álvaro Noboa, terceiro colocado, é praticamente um figurante na sua quarta candidatura. Uma grande diferença em relação a 2006, quando venceu o primeiro turno, mas acabou derrotado por Correa na segunda etapa.
A popularidade e a estabilidade de Correa após pouco mais de dois anos no cargo parecem encerrar anos de crise institucional. Os três presidentes eleitos anteriores a ele foram forçados a deixar o poder antes do final do mandato, sempre em meio a manifestações e intervenção militar.
"Correa vendeu a ideia de um personagem de fora da política, jovem, com grande ênfase no social, na reforma institucional. Por outro lado, os partidos políticos tradicionais estão num momento de grande enfraquecimento, sem contato com a sociedade civil", avalia Marco Arauz, subdiretor do jornal "El Comercio", no qual também é colunista político.
Para o economista Marco Romero, da Universidade Andina Simon Bolivar (Quito), o sucesso de Correa está ligado também à bonança petroleira dos últimos dois anos, que lhe permitiu expandir o gasto em programas sociais e investimentos públicos.
Mas a crise econômica, diz ele, deve impedir a implementação de alguns direitos previstos na nova Constituição, como o ensino superior gratuito universal e a ampliação do seguro-desemprego.
"A crise já começa a se manifestar no atraso dos pagamentos de obras públicas, no adiamento de projetos. Mas acho que isso será sentido com mais força no segundo semestre deste ano", prevê Romero.

Outras disputas
Com a reeleição praticamente certa, Correa vem centrando esforços para conseguir a maioria na Assembleia. Nesta semana, ele disse esperar que o seu partido, Aliança País, conquiste ao menos 100 das 124 cadeiras. Com essa bancada, poderia regulamentar a nova Carta sem a necessidade de negociar.
"Querem ganhar na Assembleia para tentar privatizar tudo, impor o liberalismo e desestabilizar o governo", discursou Correa na quinta-feira, último dia de campanha.
Na avaliação de Arauz, a disputa pela Assembleia é a definição mais importante deste domingo. Baseado em pesquisas recentes, ele prevê que Correa obtenha maioria, mas em composição com partidos menores não alinhados com a oposição.
Por outro lado, Correa novamente deverá perder em Guayaquil, principal cidade do país e sua terra natal. O prefeito opositor Jaime Nebot é o favorito nas pesquisas de opinião e deve consolidar a região como o maior bastião da oposição.
Correa também está com dificuldades para eleger a sua irmã Pierina, candidata a governadora de Guayas, importante Província litorânea que inclui Guayaquil.


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