São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2011

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ANÁLISE

Escalada é uma aposta arriscada e pode jogar lenha no fogo

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O envio de tanques e soldados à cidade de Daraa, origem dos protestos contra o regime sírio, indica não apenas uma escalada significativa da repressão estatal, mas uma aposta arriscada do ditador Bashar Assad.
Os próximos dias serão decisivos para mostrar se a decisão de recorrer ao Exército foi o tiro de misericórdia na revolta ou, ao contrário, jogou mais lenha no fogo.
A aposta de Assad subiu porque o jogo mudou. Se duas semanas atrás a queda do ditador parecia improvável, a propagação dos protestos levou a maioria dos analistas a concordar que a possibilidade hoje é real.
Assad antes empenhava-se em manter a estabilidade do regime; agora luta por sua sobrevivência.
O controle de Assad sobre o aparato de repressão interna explica o ceticismo sobre a hipótese de uma repetição dos roteiros seguidos na Tunísia e no Egito. Nesses países, os ditadores caíram, mas as estruturas de poder foram mantidas.
Na Síria, o sistema inteiro gravita em torno do presidente e de seu círculo de poder, o que inclui os principais comandantes militares. A suposição é de que se o presidente for deposto todos caem juntos, o que torna mais difícil um golpe.
Tudo pode mudar se a ação do Exército virar uma carnificina. As chances de deserções nos escalões inferiores aumentariam.
Após fazer concessões cosméticas e usar a força, Assad decidiu que a solução contra os protestos é usar mais força. O mesmo método foi usado por seu pai, Hafez, no massacre de mais de 20 mil pessoas em 1982, para sufocar uma revolta islâmica.
Para azar de Bashar, na era do Facebook, do Twitter, da Al Jazeera e dos celulares com câmera, os métodos de Hafez já não são tão eficazes como foram há 30 anos.


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