São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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Guerrilha não ameaça pleito, diz analista

DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA

As ações recentes da guerrilha para sabotar a eleição presidencial colombiana de hoje não são suficientes para ameaçar a sua realização e não devem gerar dúvidas sobre os resultados, na avaliação do analista político Alejo Vargas, ex-vice-reitor da Universidade Nacional e membro da comissão facilitadora do diálogo do governo com o ELN (Exército de Libertação Nacional), segundo grupo guerrilheiro do país.
"Acho que eles não têm capacidade suficiente para ameaçar as eleições, a não ser com pequenas interferências em regiões da zona rural", afirma Vargas.
Leia a seguir trechos da entrevista que Vargas concedeu à Folha, em Bogotá. (RW)

Folha - A ação dos grupos armados ilegais ameaça as eleições?
Alejo Vargas -
Desde a ruptura do processo de paz, em fevereiro, as Farc estão incrementando suas ações, basicamente no campo da sabotagem à infra-estrutura e de ações de terrorismo. Isso levou também a uma postura de oposição às eleições por parte da guerrilha. Isso não acontece em todo o país, mas basicamente nas suas áreas de influência.
As Farc pressionam eleitores a não ir votar porque, para elas, as eleições não têm legitimidade. Elas consideram que votar seria legitimar o atual regime de governo com o qual elas não concordam. Em outras eleições, tanto as Farc como o ELN tentaram sabotar a votação, mas não tiveram sucesso, por falta de capacidade. Acho que agora elas também não têm capacidade suficiente para ameaçar as eleições, a não ser com pequenas interferências em regiões da zona rural.

Folha - Mas o presidente Pastrana admitiu que em 6% ou 7% do território as eleições podem não ocorrer por conta dos conflitos. Isso não ameaça a sua legitimidade?
Vargas -
Isso já é tradição. Sempre há um setor do eleitorado que sofre interferências pela ação dos grupos armados. Mas não acredito que isso signifique que não se devam realizar as eleições ou que seu resultado seja ilegítimo. O que é novo agora é que os grupos paramilitares de direita também estão interferindo e pressionando para que se vote pelo candidato que eles preferem, Alvaro Uribe.

Folha - O fato de as últimas pesquisas mostrarem Alvaro Uribe com de 49% a 51% das intenções de voto, indicando uma decisão sobre a realização ou não de um segundo turno por uma pequena margem de votos, pode levar a uma onda de contestações do resultado?
Vargas -
Os questionamentos serão inevitáveis, como ocorreu com as eleições legislativas de 10 de março, cujo resultado final ainda não foi divulgado, por conta das denúncias de fraude e pressões". Mas, no geral, acho pouco provável que haja questionamentos jurídicos ou pedidos de recontagem de votos que levem a uma batalha legal e que ameacem a possível realização do segundo turno, em 16 de junho. Se ficar claro que determinada opção tem o apoio de mais da metade do eleitorado, será difícil contestar.

Folha - E se houver um segundo turno, o sr. acredita que Serpa tenha condições de reduzir o favoritismo de Uribe até 16 de junho?
Vargas -
Isso vai depender muito da diferença entre eles. Se a diferença for de dez pontos percentuais ou menos, pode haver uma disputa mais acirrada, com a busca do apoio dos candidatos derrotados. Se a diferença for maior, como indicam as pesquisas, considero muito difícil a alteração dessa tendência. De qualquer modo, será interessante ver o quanto as pesquisas estão refletindo com exatidão as intenções de voto.


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