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Farc confirmam morte de líder máximo
Guerrilha diz que Manuel Marulanda morreu em março de ataque cardíaco; Alfonso Cano é ratificado como seu sucessor
Anúncio é feito em vídeo ao canal estatal venezuelano Telesur; grupo perdeu três dos sete membros de seu secretariado em março
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)
confirmaram ontem a morte do
seu líder máximo, Manuel "Tirofijo" Marulanda Vélez, 77,
ocorrida há exatos dois meses.
O anúncio foi feito em vídeo enviado ao canal de notícias Telesur, controlado pelo governo
venezuelano, de Hugo Chávez.
"Com imenso pesar, informamos que nosso comandante-em-chefe, Manuel Marulanda Vélez, morreu no último 26
de março, como conseqüência
de um infarto (...). Rendemos as
honras que merece um líder de
sua dimensão", diz o comunicado, lido no meio da selva e diante da bandeira colombiana por
Timoleón Jiménez, o Timochenko, um dos sete membros
do secretariado.
Vestindo uniforme militar,
Timochenko admitiu que as
Farc estão sob pressão inédita
ao afirmar que, "em meio à
maior ofensiva reacionária
contra [uma] organização revolucionária na história da América Latina, continuaremos
nossas tarefas de acordo com os
planos aprovados".
Timochenko, que opera na
fronteira com a Venezuela,
anunciou também que, "por
unanimidade", o novo líder da
organização é Alfonso Cano,
outra informação divulgada sábado pelo governo colombiano.
Pouco depois, o ministro da
Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, que anunciara a
morte de Marulanda anteontem, disse que não era possível
confirmar se o líder das Farc
havia morrido por parada cardíaca ou devido aos bombardeios do governo no departamento de Meta (centro).
"As Farc estão em seu pior
momento", disse Santos, em
entrevista coletiva, ao lembrar
que a guerrilha completará 44
anos de existência amanhã. "E
o que trouxe ao país? Dor, sofrimento, violência e morte."
Santos ressaltou a eficiência
dos serviços de inteligência colombianos, responsáveis nos
últimos meses pela localização
de vários líderes das Farc, entre
os quais o número 2, Raúl Reyes, morto em março por um
bombardeio num acampamento em território equatoriano.
Durante a entrevista, foi
mostrada uma gravação telefônica em que dois guerrilheiros,
um deles identificado como Alberto Cancharina, comentam a
morte de Marulanda. "Temos
várias [gravações], e por isso estávamos tão seguros dessa informação", disse Santos.
Transição
Pedro Medellín, professor da
Universidade Nacional da Colômbia ouvido pela Folha, chama atenção para o valor simbólico da transição. "É o fim da
época das Farc de origem camponesa", disse, ao lembrar as
diferenças entre a origem rural
de Marulanda e a formação
universitária de Cano.
Comandante do Movimento
Bolivariano, principal projeto
político da guerrilha, o novo líder foi chamado recentemente
pelo presidente Álvaro Uribe
de "filósofo do terrorismo".
Antropólogo de formação, Cano, 52, nasceu em família de
classe média alta de Bogotá,
com pai agrônomo e mãe professora. Antes da guerrilha, militou no Partido Comunista.
Há 47 ordens de prisão por
rebelião, terrorismo, homicídio e seqüestro contra ele, condenado pela execução de 40
guerrilheiros julgados em tribunal interno por indisciplina.
Com as baixas de Marulanda,
Reyes e Iván Rios, todas em
março, formam hoje a cúpula
das Farc: Cano; Victor Julio
Suarez, o Mono Jojoy, estrategista militar; Timochenko; o
ideólogo Luciano Marin Arango ou Ivan Marquez; o Doutor,
médico de Marulanda cujo nome é ignorado e que substituiu
Rios; Milton de Jesus Toncel
Redondo, o Joaquin Gomez,
que sucede Reyes; e Jorge Torres Victoria, o Pablo Catatumbo, na vaga recém-aberta.
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