São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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Farc confirmam morte de líder máximo

Guerrilha diz que Manuel Marulanda morreu em março de ataque cardíaco; Alfonso Cano é ratificado como seu sucessor

Anúncio é feito em vídeo ao canal estatal venezuelano Telesur; grupo perdeu três dos sete membros de seu secretariado em março

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) confirmaram ontem a morte do seu líder máximo, Manuel "Tirofijo" Marulanda Vélez, 77, ocorrida há exatos dois meses. O anúncio foi feito em vídeo enviado ao canal de notícias Telesur, controlado pelo governo venezuelano, de Hugo Chávez.
"Com imenso pesar, informamos que nosso comandante-em-chefe, Manuel Marulanda Vélez, morreu no último 26 de março, como conseqüência de um infarto (...). Rendemos as honras que merece um líder de sua dimensão", diz o comunicado, lido no meio da selva e diante da bandeira colombiana por Timoleón Jiménez, o Timochenko, um dos sete membros do secretariado.
Vestindo uniforme militar, Timochenko admitiu que as Farc estão sob pressão inédita ao afirmar que, "em meio à maior ofensiva reacionária contra [uma] organização revolucionária na história da América Latina, continuaremos nossas tarefas de acordo com os planos aprovados".
Timochenko, que opera na fronteira com a Venezuela, anunciou também que, "por unanimidade", o novo líder da organização é Alfonso Cano, outra informação divulgada sábado pelo governo colombiano.
Pouco depois, o ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, que anunciara a morte de Marulanda anteontem, disse que não era possível confirmar se o líder das Farc havia morrido por parada cardíaca ou devido aos bombardeios do governo no departamento de Meta (centro).
"As Farc estão em seu pior momento", disse Santos, em entrevista coletiva, ao lembrar que a guerrilha completará 44 anos de existência amanhã. "E o que trouxe ao país? Dor, sofrimento, violência e morte."
Santos ressaltou a eficiência dos serviços de inteligência colombianos, responsáveis nos últimos meses pela localização de vários líderes das Farc, entre os quais o número 2, Raúl Reyes, morto em março por um bombardeio num acampamento em território equatoriano.
Durante a entrevista, foi mostrada uma gravação telefônica em que dois guerrilheiros, um deles identificado como Alberto Cancharina, comentam a morte de Marulanda. "Temos várias [gravações], e por isso estávamos tão seguros dessa informação", disse Santos.

Transição
Pedro Medellín, professor da Universidade Nacional da Colômbia ouvido pela Folha, chama atenção para o valor simbólico da transição. "É o fim da época das Farc de origem camponesa", disse, ao lembrar as diferenças entre a origem rural de Marulanda e a formação universitária de Cano.
Comandante do Movimento Bolivariano, principal projeto político da guerrilha, o novo líder foi chamado recentemente pelo presidente Álvaro Uribe de "filósofo do terrorismo". Antropólogo de formação, Cano, 52, nasceu em família de classe média alta de Bogotá, com pai agrônomo e mãe professora. Antes da guerrilha, militou no Partido Comunista.
Há 47 ordens de prisão por rebelião, terrorismo, homicídio e seqüestro contra ele, condenado pela execução de 40 guerrilheiros julgados em tribunal interno por indisciplina.
Com as baixas de Marulanda, Reyes e Iván Rios, todas em março, formam hoje a cúpula das Farc: Cano; Victor Julio Suarez, o Mono Jojoy, estrategista militar; Timochenko; o ideólogo Luciano Marin Arango ou Ivan Marquez; o Doutor, médico de Marulanda cujo nome é ignorado e que substituiu Rios; Milton de Jesus Toncel Redondo, o Joaquin Gomez, que sucede Reyes; e Jorge Torres Victoria, o Pablo Catatumbo, na vaga recém-aberta.


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