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Potências refutam prazo para desarme
Na semana final da conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação, EUA e Rússia endurecem posição
Negociação vai até esta sexta; Brasil não aceita parágrafos que sugerem a obrigatoriedade de Protocolo Adicional
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
Na reta final da conferência de revisão do Tratado de
Não Proliferação Nuclear, os
representantes de EUA, Rússia, Reino Unido e França pediram a retirada de qualquer
referência a prazos para o desarme atômico da declaração
final e do plano de ação que
serão negociados até sexta.
Nem a simples menção à
proposta do secretário-geral
da ONU, Ban Ki-moon, de
que seja convocada uma cúpula sobre o fim da bomba foi
aceita pela Rússia. Moscou,
Paris e Washington também
se opuseram a um artigo que
pede seu compromisso com a
interrupção da modernização dos arsenais atuais.
O endurecimento da posição das quatro potências nucleares reconhecidas é uma
preparação para a barganha
com os países desarmados,
que começou ontem em reuniões no anexo provisório da
sede da ONU, em Nova York,
que está em reformas.
A quinta potência do Conselho de Segurança, a China,
mantém posição discreta
-aceita, por exemplo, acordo garantindo que países
sem a bomba não serão nuclearmente atacados.
As potências são minoria.
Mas a declaração final só sai
por consenso dos 189 países-membros, e o argumento
americano, apoiado por europeus, é que os desarmados
devem "criar condições" para o fim dos arsenais.
Isso significa maior controle sobre os programas atômicos pacíficos, agora que se
estima que, devido à mudança climática, haja ao menos
mais 60 países interessados
em produzir energia nuclear.
O grupo dos Não Alinhados resiste a isso. "O importante é restaurar o equilíbrio
do tratado. Nossa ênfase no
desarmamento é para que os
países armados que não o
cumprem sejam tratados
com o mesmo rigor que os desarmados", disse o diplomata argelino Idriss Jazeiry.
O Brasil é só observador
nesse grupo, mas se articula
com ele para barrar propostas que, na prática, tornariam obrigatória a adesão ao
Protocolo Adicional do TNP,
que permite inspeções em locais não declarados como de
uso nuclear.
RASCUNHO INCOERENTE
"O Brasil chegou a esta
conferência em cumprimento do TNP e não sairá em descumprimento do tratado",
disse numa das plenárias o
embaixador na AIEA (Agência Internacional de Energia
Atômica), Antônio Guerreiro.
A frase de Guerreiro refere-se ao fato de que a conferência não tem mandato para
mudar o texto do TNP -que
exige concordância apenas
com as ditas "salvaguardas
abrangentes" da AIEA-,
mas apenas para garantir sua
implementação.
Mas as divergências são
tantas que nenhuma das três
comissões que vinham se
reunindo desde o início de
maio produziu um texto de
consenso. O rascunho da declaração final é um apanhado de propostas incoerentes.
Embora um negociador
brasileiro diga que é melhor
não ter um texto do que ter
um ruim, nem ele nem a
maioria das delegações apostam no fracasso. Uma reunião sem documento repetiria o fiasco de 2005, quando
as posições radicais da Casa
Branca de George W. Bush
impediram um acordo.
O que pode acontecer, segundo avaliação da ONG pró-desarme Reaching Critical
Will, é uma declaração esvaziada, que mantenha o status
quo -e a distância militar,
mas sobretudo política, entre
os sem e os com bomba.
Brasil quer preservar
direitos de exploração do
átomo para fins pacíficos
folha.com.br/1014513
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