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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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MISTÉRIO NO DESERTO

Por motivo ignorado, EUA expulsam famílias e fecham local que foi palco de um recente ataque

Americanos isolam vilarejo perto da Síria

PATRICK E. TYLER
DO "NEW YORK TIMES",
EM UGER ADDIB, IRAQUE

Numa paisagem árida de deserto inóspito ao longo da fronteira da Síria, as Forças Armadas americanas passaram um cordão de isolamento em volta de uma parte do povoado de Uger Addib, expulsaram cinco famílias cujas casas foram atingidas por uma bomba, há seis dias, e se recusam a informar o que está acontecendo. Duas habitantes do povoado foram mortas no ataque aéreo: Hakima Khalil e sua filha, a pequena Maha.
Ao anoitecer da terça-feira, um comboio de mais de 20 veículos de transporte militar chegou com equipamentos de terraplanagem e se aproximou do círculo de veículos de combate Bradley que vigiam todos os caminhos que conduzem a este montículo arenoso pontilhado de casas destruídas. "Pare aí mesmo", disse o especialista Arthur Myers. "Se você tirar uma foto, quebro sua máquina."
O ataque ao povoado se seguiu a outro ataque lançado por tropas das forças especiais americanas contra vários veículos perto de um posto de fronteira sírio situado a 8 km a leste daqui.
Autoridades americanas em Washington descreveram o que aconteceu como uma operação focalizada num comboio de veículos que se acreditava estivesse transportando altos funcionários do antigo governo de Saddam Hussein. Não ficou claro, porém, o que estão buscando no povoado agora.
Ontem, o governo sírio formalizou um protesto em relação ao ataque e exigiu que os EUA devolvessem os cinco soldados sírios feridos que estão sob custódia dos americanos. Washington informou que está negociando com Damasco uma forma de entregar os soldados.

Fuga
As autoridades americanas desconfiam que antigos membros do governo de Saddam vêm usando postos de fronteira distantes como este para escapar.
Desde o ataque, as famílias expulsas se abrigaram nas casas de outras pessoas. Elas passam o tempo tentando enxergar o que está acontecendo em suas casas, atrás dos sentinelas americanos.
"Se você lhes pede um simples copo de água, eles [os soldados] não dão", disse Hamid Muhammad Abul Fahad, 40.
A sequência de acontecimentos anteriores ao ataque sugere que os oficiais americanos acreditavam ter obtido uma informação importante com a captura, em 16 de junho, de Abed Hamid Mahmud al Tikriti, o confidente mais próximo de Saddam.
Os moradores do povoado assistiram ao ataque que começou na noite de quarta. "Começaram por bombardear a fronteira síria, e depois vieram contra nós", disse Fahad. "Vimos alguma coisa como uma estrela cadente passando pelo céu, depois a coisa caiu sobre nosso povoado."
Mahmoud Hamad, 24, estava dormindo ao ar livre, como é o costume aqui durante o verão, quando o primeiro míssil atingiu sua casa, cobrindo sua cama de estilhaços de bomba. Ontem ele estava se recuperando de seus ferimentos no hospital de Qaim, a 80 km a nordeste. "Não me lembro de muita coisa, exceto que havia sangue em todo lugar e eu estava tonto."
Seu irmão, Ahmed Hamad, 27, estava mais longe da casa, em outra cama improvisada. "Ouvi o míssil quando caiu, senti o vento e o fogo, depois vi meu irmão caindo e corri para ele."
Muhammad Hamad, 25, disse que sua mulher e filha foram mortas instantaneamente por estilhaços resultantes do ataque.
Ontem, o deserto do lado iraquiano da fronteira síria estava repleto de destroços deixados por um ataque que destruiu três veículos -uma picape, um grande caminhão de transporte e um caminhão-tanque como os que são usados para transportar água ou petróleo para o outro lado da fronteira.


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