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MISTÉRIO NO DESERTO
Por motivo ignorado, EUA expulsam famílias e fecham local que foi palco de um recente ataque
Americanos isolam vilarejo perto da Síria
PATRICK E. TYLER
DO "NEW YORK TIMES",
EM UGER ADDIB, IRAQUE
Numa paisagem árida de deserto inóspito ao longo da fronteira da Síria, as Forças Armadas
americanas passaram um cordão de isolamento em volta de
uma parte do povoado de Uger
Addib, expulsaram cinco famílias cujas casas foram atingidas
por uma bomba, há seis dias, e se
recusam a informar o que está
acontecendo. Duas habitantes
do povoado foram mortas no
ataque aéreo: Hakima Khalil e
sua filha, a pequena Maha.
Ao anoitecer da terça-feira,
um comboio de mais de 20 veículos de transporte militar chegou com equipamentos de terraplanagem e se aproximou do círculo de veículos de combate Bradley que vigiam todos os caminhos que conduzem a este montículo arenoso pontilhado de casas destruídas. "Pare aí mesmo",
disse o especialista Arthur
Myers. "Se você tirar uma foto,
quebro sua máquina."
O ataque ao povoado se seguiu
a outro ataque lançado por tropas das forças especiais americanas contra vários veículos perto
de um posto de fronteira sírio situado a 8 km a leste daqui.
Autoridades americanas em
Washington descreveram o que
aconteceu como uma operação
focalizada num comboio de veículos que se acreditava estivesse
transportando altos funcionários do antigo governo de Saddam Hussein. Não ficou claro,
porém, o que estão buscando no
povoado agora.
Ontem, o governo sírio formalizou um protesto em relação ao
ataque e exigiu que os EUA devolvessem os cinco soldados sírios feridos que estão sob custódia dos americanos. Washington informou que está negociando com Damasco uma forma de
entregar os soldados.
Fuga
As autoridades americanas
desconfiam que antigos membros do governo de Saddam vêm
usando postos de fronteira distantes como este para escapar.
Desde o ataque, as famílias expulsas se abrigaram nas casas de
outras pessoas. Elas passam o
tempo tentando enxergar o que
está acontecendo em suas casas,
atrás dos sentinelas americanos.
"Se você lhes pede um simples
copo de água, eles [os soldados]
não dão", disse Hamid Muhammad Abul Fahad, 40.
A sequência de acontecimentos anteriores ao ataque sugere
que os oficiais americanos acreditavam ter obtido uma informação importante com a captura, em 16 de junho, de Abed Hamid Mahmud al Tikriti, o confidente mais próximo de Saddam.
Os moradores do povoado assistiram ao ataque que começou
na noite de quarta. "Começaram
por bombardear a fronteira síria, e depois vieram contra nós",
disse Fahad. "Vimos alguma
coisa como uma estrela cadente
passando pelo céu, depois a coisa caiu sobre nosso povoado."
Mahmoud Hamad, 24, estava
dormindo ao ar livre, como é o
costume aqui durante o verão,
quando o primeiro míssil atingiu sua casa, cobrindo sua cama
de estilhaços de bomba. Ontem
ele estava se recuperando de
seus ferimentos no hospital de
Qaim, a 80 km a nordeste. "Não
me lembro de muita coisa, exceto que havia sangue em todo lugar e eu estava tonto."
Seu irmão, Ahmed Hamad, 27,
estava mais longe da casa, em
outra cama improvisada. "Ouvi
o míssil quando caiu, senti o
vento e o fogo, depois vi meu irmão caindo e corri para ele."
Muhammad Hamad, 25, disse
que sua mulher e filha foram
mortas instantaneamente por
estilhaços resultantes do ataque.
Ontem, o deserto do lado iraquiano da fronteira síria estava
repleto de destroços deixados
por um ataque que destruiu três
veículos -uma picape, um
grande caminhão de transporte
e um caminhão-tanque como os
que são usados para transportar
água ou petróleo para o outro lado da fronteira.
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