São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Premiê do Iraque propõe anistia em plano de conciliação

Proposta de 24 pontos de Nuri al Maliki também defende punição severa a torturadores e indenização às vítimas

Casa Branca vê projeto com bons olhos, porém adverte que ele é "apenas o começo'; milícia mantém exigência de retirada dos EUA do país

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, apresentou ontem seu plano nacional de reconciliação para dar um fim ao que chamou de "feio quadro" no Iraque.
Entre as principais medidas previstas pelo plano, que tem 24 pontos, está a anistia para os presos não envolvidos em atos de terrorismo, crimes de guerra ou em crimes contra a humanidade. Prevê também medidas para a prevenção de violação de direitos humanos, reformas de prisões e punição àqueles que cometam torturas.
Também está prevista indenização às vítimas de terror e de violações de direitos humanos em operações militares.
Fontes próximas às milícias afirmaram não estarem impressionadas com as propostas do premiê. Um representante do Exército Baath de Maomé afirmou que o plano ignorou as principais reivindicações das milícias, incluindo a retirada imediata das forças dos EUA.
Já a Casa Branca viu com bons olhos o plano do governo iraquiano, segundo afirmou o porta-voz Ken Lisaius. Ele classificou a proposta como "o início de um processo, não o fim".
Mas membros do Congresso dos EUA se manifestaram contra qualquer plano iraquiano que garanta anistia a insurgentes responsáveis pelas mortes de soldados americanos. Para o senador democrata Carl Levin, isso é "inconcebível".
O plano foi objeto de duras negociações entre as diversas etnias e facções políticas do país, mas acabou por omitir os pontos mais controversos. Não esclarece com quais grupos militantes o governo está pronto para negociar e qual será sua atitude no que diz respeito às milícias pró-governo.
Em seu discurso de 15 minutos no Parlamento, após listar exemplos de matanças e caos, Maliki afirmou: "Precisamos pôr um fim a esse feio quadro".
O premiê obteve apoio dos líderes da minoria de sunitas no Parlamento, que eram maioria durante a era Saddam. Mas reiterou que não negociará com seguidores do ex-ditador ou com membros da Al Qaeda.
"Não, mil vezes não. Não haverá negociação nenhuma com eles até que tenham sido devidamente punidos."

Cicatrizar feridas
O enviado norte-americano ao Iraque, Zalmay Khalilzad, considerou o plano um bom passo "para fazer cicatrizar as feridas do Iraque".
Ele exortou os insurgentes a "baixarem as armas e se juntarem ao processo democrático", mas disse que os seguidores de Saddam e os "terroristas" são incompatíveis com o plano. Maliki, contudo, prometeu rever as leis que barram o acesso de membros do partido Baath a cargos públicos e militares.
Outro ponto previsto no plano é o da reconstrução das forças que preservem a segurança do país e que permitam a retirada dos soldados da coalizão liderada pelos EUA.
Ontem, 25 pessoas morreram no Iraque em conflitos.
Na capital, Bagdá, uma bomba matou seis pessoas e feriu 17 no distrito de Al Shorja. No distrito de Al Nahdha, um bomba explodiu em um microônibus, matando duas pessoas e ferindo cinco. No distrito de Zayouna, a explosão de um carro-bomba matou um policial e feriu outras nove pessoas.
Forças dos EUA mataram um insurgente e prenderam outros cinco durante uma blitz ao sul da capital.
Perto de Mossul (norte), duas pessoas foram mortas e 13 ficaram feridas quando um carro-bomba explodiu perto de um escritório do Conselho Supremo da Revolução Islâmica. Um carpinteiro também foi morto por um homem armado.
Homens portando armas mataram dois trabalhadores xiitas em uma loja em Hawija, de maioria sunita. Pouco depois, um xiita foi morto na rua por homens armados. Segundo a polícia, existem conexões entre os dois atentados.
Também em Hawija foi encontrado um corpo decapitado, apresentando sinais de tortura.
Em Baquba (65 km ao norte de Bagdá) homens armados mataram um policial em um mercado. Em Khan Bani Sa'ad, ao sul de Baquba, cinco soldados iraquianos foram mortos em um posto de controle.
Um funcionário do Conselho Municipal de Baiji (180 km ao norte de Bagdá) foi morto quando voltava para casa.
Em Tikrit (175 km ao norte de Bagdá), um soldado iraquiano morreu quando uma bomba explodiu enquanto passava uma patrulha do Exército.


Com agências internacionais


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