São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Kirchner joga todas as fichas em eleitores cativos da periferia

Ex-presidente fecha campanha à Câmara na Grande Buenos Aires, região que priorizou durante disputa

THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A LA MATANZA (ARGENTINA)

Em um resumo do que foi sua estratégia na eleição legislativa na Argentina, o ex-presidente Néstor Kirchner encerrou ontem sua campanha a deputado em La Matanza, município mais populoso da região metropolitana de Buenos Aires.
Ao lado da mulher e sucessora, Cristina, Kirchner voltou ao Mercado Central de Buenos Aires, onde ele e a mulher encerraram suas campanhas presidenciais vitoriosas de 2003 e 2007. Dali reiterou a defesa de um "projeto nacional e popular", com críticas à oposição e a meios de comunicação.
"Se hoje me cabe defender esse projeto no Congresso, o faço com a maior vontade e força", afirmou a cerca de 10 mil militantes, mantidos a 50 metros do palco que dividia com ministros de Cristina, candidatos e piqueteiros governistas.
As eleições de domingo renovam metade da Câmara e um terço do Senado. São decisivas para o governo, cuja aprovação caiu pela metade desde o conflito tributário com o campo, em 2008 -hoje está em torno de 30%. Com a economia em retração, o governo conferiu tom de plebiscito à eleição: antecipou o pleito em quatro meses e lançou seus principais nomes à Câmara.
O comício resumiu a estratégia kirchnerista, a começar pela escolha do lugar. Com 8,5 milhões de pessoas, as 24 cidades da região metropolitana somam 23% do eleitorado nacional. Em 2007, 1 de cada 4 votos de Cristina saiu da região. Durante a campanha, Kirchner visitou 22 das 24 cidades.
"Foi Kirchner quem nos deu trabalho", disse Carlos Luguercho, 52, beneficiário de R$ 75 mensais do governo e membro de uma cooperativa de trabalho em Avellaneda, outra cidade da Grande Buenos Aires.
Entre a plateia, não faltavam beneficiários do chamado "aparato" do peronismo (partido do governo), uma mistura de máquina de ganhar eleições e vínculos assistenciais. "Os únicos que nos ajudam são Alícia [irmã de Kirchner e ministra da área social] e Néstor Kirchner", dizia Olga Gutierrez, 59.
Em bandeiras e camisas, também era clara a influência dos prefeitos da região, que se candidataram às Câmaras municipais para puxar votos. São as chamadas "candidaturas testemunhais", de postulantes que admitem que não assumirão os cargos.
"Para dar batalha, é preciso colocar todos os soldados", dizia Ricardo Almeida, 50, funcionário de Ituzaingó, cujo prefeito é um dos 16 da região que se lançaram nesta eleição.
O carioca naturalizado argentino Jorge Delphino, 59, outro servidor de Ituzaingó, defendia Kirchner. "É a favor do povo, do trabalhador."
A disputa na Província de Buenos Aires está acirrada entre o kirchnerismo e a chapa de Francisco De Narváez, do peronismo dissidente. "De Narváez não é peronista, é neoliberal", disse o comerciante Daniel Baza, 52, ecoando a propaganda governista.
Um vendedor de bandeiras argentinas lembrava, com seus sussurros à Folha em meio ao mar de militantes governistas, que a disputa não será fácil para Kirchner: "Voto em De Narváez porque a Argentina precisa de uma supermudança".


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.