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Kirchner joga todas as fichas em eleitores cativos da periferia
Ex-presidente fecha campanha à Câmara na Grande Buenos Aires, região que priorizou durante disputa
THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A LA MATANZA (ARGENTINA)
Em um resumo do que foi sua
estratégia na eleição legislativa
na Argentina, o ex-presidente
Néstor Kirchner encerrou ontem sua campanha a deputado
em La Matanza, município
mais populoso da região metropolitana de Buenos Aires.
Ao lado da mulher e sucessora, Cristina, Kirchner voltou ao
Mercado Central de Buenos Aires, onde ele e a mulher encerraram suas campanhas presidenciais vitoriosas de 2003 e
2007. Dali reiterou a defesa de
um "projeto nacional e popular", com críticas à oposição e a
meios de comunicação.
"Se hoje me cabe defender
esse projeto no Congresso, o faço com a maior vontade e força", afirmou a cerca de 10 mil
militantes, mantidos a 50 metros do palco que dividia com
ministros de Cristina, candidatos e piqueteiros governistas.
As eleições de domingo renovam metade da Câmara e um
terço do Senado. São decisivas
para o governo, cuja aprovação
caiu pela metade desde o conflito tributário com o campo,
em 2008 -hoje está em torno
de 30%. Com a economia em
retração, o governo conferiu
tom de plebiscito à eleição: antecipou o pleito em quatro meses e lançou seus principais nomes à Câmara.
O comício resumiu a estratégia kirchnerista, a começar pela
escolha do lugar. Com 8,5 milhões de pessoas, as 24 cidades
da região metropolitana somam 23% do eleitorado nacional. Em 2007, 1 de cada 4 votos
de Cristina saiu da região. Durante a campanha, Kirchner visitou 22 das 24 cidades.
"Foi Kirchner quem nos deu
trabalho", disse Carlos Luguercho, 52, beneficiário de R$ 75
mensais do governo e membro
de uma cooperativa de trabalho
em Avellaneda, outra cidade da
Grande Buenos Aires.
Entre a plateia, não faltavam
beneficiários do chamado "aparato" do peronismo (partido do
governo), uma mistura de máquina de ganhar eleições e vínculos assistenciais. "Os únicos
que nos ajudam são Alícia [irmã de Kirchner e ministra da
área social] e Néstor Kirchner",
dizia Olga Gutierrez, 59.
Em bandeiras e camisas,
também era clara a influência
dos prefeitos da região, que se
candidataram às Câmaras municipais para puxar votos. São
as chamadas "candidaturas testemunhais", de postulantes
que admitem que não assumirão os cargos.
"Para dar batalha, é preciso
colocar todos os soldados", dizia Ricardo Almeida, 50, funcionário de Ituzaingó, cujo prefeito é um dos 16 da região que
se lançaram nesta eleição.
O carioca naturalizado argentino Jorge Delphino, 59, outro servidor de Ituzaingó, defendia Kirchner. "É a favor do
povo, do trabalhador."
A disputa na Província de
Buenos Aires está acirrada entre o kirchnerismo e a chapa de
Francisco De Narváez, do peronismo dissidente. "De Narváez
não é peronista, é neoliberal",
disse o comerciante Daniel Baza, 52, ecoando a propaganda
governista.
Um vendedor de bandeiras
argentinas lembrava, com seus
sussurros à Folha em meio ao
mar de militantes governistas,
que a disputa não será fácil para Kirchner: "Voto em De Narváez porque a Argentina precisa de uma supermudança".
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