São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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Ahmadinejad diz que Obama repete Bush

Para presidente do Irã, americano "cometeu erro" e deve "desculpas"; "Se esse é o tom, não há sobre o que conversar", diz

EUA negam ingerência no país persa, onde opositor, que não é visto em público desde terça-feira, exorta manifestações dentro da lei


DA REDAÇÃO

O presidente reeleito do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, acusou ontem o mandatário americano, Barack Obama, de agir como o antecessor, George W. Bush, e interferir em assuntos internos iranianos. Na terça-feira, Obama se disse "estarrecido" e "horrorizado" com a violenta repressão aos protestos da oposição iraniana.
"O senhor Obama cometeu um erro ao dizer aquelas coisas. Me pergunto o porquê de ele ter caído na mesma armadilha e dito coisas que Bush dizia", disse Ahmadinejad na inauguração de fábrica petroquímica.
"Se esse é o tom que ele quer empregar, então não há sobre o que conversar", afirmou, em referência aos acenos de Obama pela retomada do diálogo com o regime teocrático. "Espero que deixe de interferir e se desculpe de maneira clara."
A acusação foi rejeitada pelo governo americano. Segundo o porta-voz, Robert Gibbs, Obama já havia ressaltado anteriormente que dirigentes iranianos atribuíram aos EUA papel em crises políticas. "Incluiria Ahmadinejad nessa lista", disse.
Desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro, o americano tenta uma aproximação com o Irã, visando sobretudo abrir diálogo sobre seu programa nuclear, suspeito de visar a bomba atômica -o que Teerã nega.
Após a reeleição de Ahmadinejad -com 62,7% dos votos, contra 33% do reformista Mir Hossein Mousavi- no pleito do último dia 12, e a repressão a opositores que contestaram o resultado que se seguiu, Obama vinha mantendo cautela. Na última terça, porém, subiu o tom.
Apesar dos protestos, e dos 20 mortos -segundo cifras oficiais-, o regime teocrático já reiterou que não revisará o resultado, como quer a oposição.
Em Teerã, onde grandes protestos não são registrados desde segunda, manifestação convocada pelo outro candidato reformista derrotado, Mehdi Karubi, foi cancelada ante possível repressão do governo.
Partidários de Mousavi prometem para hoje, segundo site do opositor, o lançamento de milhares de balões verdes em homenagem à iraniana cuja morte, flagrada, transformou-se em ícone da resistência.
Mousavi pediu ontem aos iranianos que não arrefeçam as pressões, mas "dentro da lei". Em tom inusualmente crítico, disse que não desistirá de contestar o pleito e acusou o governo iraniano pela violência e pelo derramamento de sangue.
Atribuindo a informação a um site em persa, o "New York Times" disse que Mousavi, que não é visto desde terça, está sendo mantido em prisão domiciliar. Anteontem, 70 acadêmicos que mantiveram encontro com o reformista foram presos, segundo a oposição.

Racha
Segundo um jornal ligado à ala reformista do regime, cerca de 190 deputados iranianos faltaram a uma comemoração da vitória convocada por Ahmadinejad na residência presidencial. Entre os que não foram, estão o presidente da Casa, Ali Larijani, e seus adjuntos.
Já o grão-aiatolá Hossein Ali Montazeri, adversário do grupo do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, disse que a repressão às manifestações pacíficas da oposição pode "comprometer os pilares de qualquer governo, por mais forte que seja".

Com agências internacionais



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