São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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ANÁLISE

Futuro político de país após protestos é incerto

PATRICK COCKBURN
DO "INDEPENDENT"

Terá a revolução no Irã terminado antes de começar? Será que teria sido uma revolução, para começo de conversa? Vai deixar o Estado iraniano permanentemente dividido e enfraquecido? Nunca chegou a ser provável que as manifestações de massa de iranianos -protestando contra os resultados da eleição presidencial e uma contagem oficial que indicou que o presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad teria conquistado uma vitória esmagadora- se convertessem em uma situação revolucionária. Os manifestantes não contam com um núcleo de organizadores engajados cuja meta seja a derrubada do governo. Em 1978/79, havia no Irã uma rede de clérigos e vários partidos de esquerda que podiam continuar a promover manifestações, mesmo diante da repressão do regime do xá Reza Pahlevi. As forças do Estado foram superadas pelo número de pessoas que se declararam preparadas para morrer. Hoje o aparato repressivo do Estado iraniano tem os números, a disciplina e o engajamento de seu lado. Milhares de agentes de segurança lotaram as ruas em volta da praça Baharestan, diante do prédio do Parlamento iraniano, na tarde de anteontem, enquanto apenas algumas centenas de manifestantes se expunham ao risco representado pela polícia e os milicianos basiji em suas motocicletas. As bandeiras e fitas verdes que vinham sendo vistas em todo lugar desapareceram desde a sexta-feira passada, quando o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, criticou os manifestantes e ameaçou tomar medidas contra eles. Mas há divisões no interior da elite política iraniana, e isso é um problema sério para o futuro. Presume-se que agora o regime terá que reprimir todas as formas de dissensão por um longo período, quer os dissidentes sejam líderes políticos, como Mir Hossein Mousavi, ou a mídia antigoverno. Pode a vida voltar à normalidade? Na esteira de convulsões políticas como as testemunhadas nas duas últimas semanas, é comum que comentaristas e observadores digam que "as coisas nunca mais serão as mesmas". Mas, com a exceção de uma intensificação sustentada na repressão, não está inteiramente claro o que é que vai mudar no Irã. Os que se opunham ao regime antes da eleição vão se opor ainda mais. O número de opositores radicais do governo vai aumentar. Mas a resistência conspiratória, contra um serviço de segurança pró-ativo, é algo excepcionalmente difícil de levar adiante. A maioria dos manifestantes pró-Mousavi provavelmente voltará a afundar na apatia cínica. Muitas coisas ainda são desconhecidas. Até agora, há suspeitas, mas nenhuma prova de que a eleição presidencial tenha sido organizada de maneira a modificar seu resultado. De acordo com os resultados oficiais, Ahmadinejad recebeu 24,5 milhões de votos, ou seja, 62,7% do total, contra 13,2 milhões, ou 33%, de Mousavi. É quase a mesma porcentagem que o presidente recebeu no segundo turno eleitoral, em 2005, contra o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997). Supondo que a maioria dos iranianos de fato apoie Ahmadinejad, o governo deve, teoricamente, poder continuar no rumo atual, atribuindo a violência pós-eleitoral a espiões, dinheiro e propaganda vindos do exterior. No prazo mais longo, porém, a legitimidade do Estado islâmico foi prejudicada por uma manifestação tão aberta de desunião e pela revelação de que uma grande parte da população se dispõe a sair às ruas contra o regime.


Tradução de CLARA ALLAIN


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