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"Mundo julga Israel com padrão duplo"
Autor de código de ética das Forças Armadas do país defende atuação dos militares, que "lutam contra terroristas"
Asa Kasher afirma que morte de nove ativistas em abordagem de frota humanitária foi ação de autodefesa de soldados
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
O filósofo Asa Kasher, autor do código de ética das
Forças Armadas de Israel,
acha que as críticas mundiais
à conduta dos soldados de
seu país são fruto do desconhecimento das circunstâncias em que atuam. A Convenção de Genebra trata de
guerra entre Estados, diz ele.
"Mas Israel luta contra organizações terroristas."
FOLHA - Como o sr. encara as
críticas à falta de ética das
Forças Armadas de Israel?
Asa Kasher - Israel não enfrenta Estados, mas organizações terroristas. Quando
enfrentamos o Hamas, estamos diante de uma força militar que não veste farda nem
usa armas de forma convencional. Comete todo tipo de
ato hostil e depois se esconde
atrás de populações civis.
Há uma distinção entre
combatentes e não combatentes, mas o Hamas mantém essa fronteira vaga de
propósito. Seus militantes
agem como se fossem civis, a
partir de áreas residenciais.
O que devemos fazer? Continuar observando a distinção,
enquanto o inimigo a ignora?
Temos as nossas doutrinas, elas estão no espírito da
doutrina da "guerra justa",
mas elas têm que ser aplicadas diferentemente porque
nosso inimigo age de forma
diferente. Mesmo os que não
são nossos inimigos têm dificuldade em entender e
acham que podem nos dar lições de moral.
A falta de ética dos inimigos
levou ao relaxamento do código de ética israelense?
Depende de que nível você
fala. Olhando o soldado israelense individualmente,
entende-se que a maioria faz
parte do alistamento obrigatório, e isso significa que dificilmente são profissionais.
São jovens, e não surpreende que aqui e ali um deles se comporte de forma inadequada. Mas temos evidência de que esse não é um fenômeno generalizado, mas
uma raridade. E quando
ocorre, vai a julgamento em
corte marcial.
Se houvesse uma política
de "dedo leve" no gatilho,
haveria dezenas de milhares
de palestinos mortos, e metade seria de mulheres e crianças. Na guerra de Gaza houve
alguns casos excepcionais e
eles são investigados. Mas
não passam de 30 ou 40.
Israel diz ter o Exército mais
ético do mundo. Mas a imagem externa não é essa. A que
o sr. atribui essa dissonância?
Há alguns meses houve
uma operação da Otan no
Afeganistão, dois caminhões
foram atacados e dezenas de
civis foram mortos. Não criaram nenhuma comissão da
ONU sobre isso, e [Barack]
Obama não foi requisitado a
fazer uma investigação independente sobre o caso. Há
um padrão duplo na forma
como o mundo reage a Israel.
E embora o padrão moral
do Exército seja alto, isso não
quer dizer que aqui e ali um
soldado não cometa alguma
atrocidade ou aja de forma
imprópria. Mas isso ocorre
em todo lugar de conflito.
No caso da frota humanitária
que Israel interceptou, o que
deu errado?
Com todo o respeito aos
países democráticos e às instituições democráticas, nós
devemos um comportamento moral em primeiro lugar
para nós mesmos. Temos os
nossos princípios e ninguém
pode impor padrões que nos
impeçam de exercer nosso
direito de legítima defesa.
O Hamas é um grupo cuja
constituição prega a destruição de Israel. O Irã apoia o
Hamas e o Hizbollah não
apenas politicamente, mas
militarmente. Por isso, temos
que nos defender. Não podemos permitir qualquer carregamento militar enviado pelo Irã ou pela Síria à faixa de
Gaza, porque eles serão usados contra nossos civis.
O bloqueio marítimo é permitido pela lei internacional,
assim como é perfeitamente
legítima uma ação preventiva. Alguns membros da frota
pertenciam a uma organização turca ligada ao terrorismo que se preparou para um
combate. O resultado foi que
nove terroristas morreram.
A aspiração é sempre a
paz. Mas quando somos atacados, temos o direito de autodefesa.
Não é uma solução simplista
apontar os ativistas mortos
como terroristas?
Suponhamos que um policial seja atacado violentamente, em Tel Aviv ou em
São Paulo. Ele tem o direito
de se defender. E quando um
policial se defende, algumas
vezes eles matam e as pessoas que o atacaram sofrem
as consequências. O que
aconteceu nessa flotilha é
que esses terroristas atacaram os soldados e foram mortos. Os soldados começaram
a ação de forma contida, mas
não tiveram alternativa e,
quando atacados, reagiram.
Já foi dito que o aumento do
número de soldados religiosos aumentou o radicalismo
do Exército. A fé distorce o
seu código de ética?
Houve alguns fenômenos,
durante a operação em Gaza,
de capelões que pregaram
coisas que não me agradam e
não são apropriadas a um Estado democrático.
Há capelões em todas as
forças armadas do mundo,
sua função não é só conduzir
serviços religiosos, mas também ensinar ética.
Os comandantes israelenses são profissionais e sabem
o que pode e o que não pode
ser feito. Há capelões que falam demais, mas seu efeito é
marginal.
Leia a íntegra da
entrevista
folha.com.br/mu753595
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