São Paulo, sábado, 26 de junho de 2010

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Ministro argentino contesta denúncia de ex-embaixador

Acusado de mediar acordos clandestinos com governo Chávez, titular do Planejamento critica o diplomata

Segundo o ministro, "diplomacia paralela" em Caracas acontecia apenas porque chefe da missão "não fazia nada"


GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

O ministro do Planejamento da Argentina, Julio De Vido, disse ontem que precisou estabelecer uma "diplomacia paralela" com a Venezuela na gestão de Néstor Kirchner (2003-2007) por causa da incompetência do então embaixador argentino em Caracas, Eduardo Sadous.
A afirmação ocorreu após o diplomata declarar à Câmara dos Deputados, na última quarta-feira, que o ministro -no cargo desde 2003- e o ex-presidente Kirchner enviavam funcionários do Executivo para fazer acordos clandestinos com o governo de Hugo Chávez.
Sadous já havia denunciado os "diplomatas paralelos" à Justiça em abril.
A principal acusação do embaixador se refere a um esquema supostamente orquestrado por De Vido que cobrava propinas de 15% a 20% de empresários argentinos que exportavam maquinário agrícola à Venezuela.
"Quando [Sadous] fala de uma "embaixada paralela", se refere a tudo o que tivemos de fazer porque [ele] não fazia nada. Passava de coquetel em coquetel", disse De Vido a uma rádio local.
O ministro afirmou que Sadous era um "péssimo embaixador" enquanto esteve em Caracas, de 2002 a 2005, porque não se esforçava para incrementar as relações comerciais entre os dois países.
"É uma pessoa de uma mediocridade espantosa. Na primeira vez em que estive em Caracas, [Sadous] desferiu profundas ofensas contra os venezuelanos", afirmou o ministro, que acusa o diplomata de participar de uma "operação política" armada pela oposição.
De Vido também disse que o primeiro convênio com o governo de Hugo Chávez teve de ser assinado por ele mesmo e pelo então secretário de Assuntos Exteriores. O trâmite, no entanto, "foi feito por meio da Chancelaria", segundo ele.
Na terça-feira, o recém empossado chanceler argentino, Héctor Timerman, já havia rebatido as acusações de Sadous dizendo que "a embaixada paralela funciona apenas na cabeça de alguns jornalistas".
Ontem, o chanceler pediu ao presidente da Câmara que publique na íntegra o depoimento que Sadous concedeu aos deputados na quarta-feira, em sessão secreta.
Segundo o chanceler, as informações que vazaram à imprensa são "falsas", geram desinformação e podem causar danos à diplomacia da Argentina.

MAIS OBEDIÊNCIA
A Folha apurou que Sadous foi removido da embaixada em Caracas, em 2005, porque a equipe de Kirchner queria um representante mais obediente para lidar com o governo de Chávez.
Diplomata de carreira, Sadous deixou a Venezuela desgastado com a cúpula do governo Kirchner e foi substituído pela atual ministra da Defesa, Nilda Garré.
De volta a Buenos Aires, ele passou a desempenhar funções de menor importância na Chancelaria e hoje trabalha na área de promoção de exportações.
Parlamentares que fazem oposição ao governo de Cristina Kirchner, sucessora e mulher de Néstor, afirmam que os depoimentos do embaixador são apenas uma amostra das relações ilícitas mantidas com a Venezuela desde 2003.


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