São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Apesar da oposição de Bush, Câmara aprova comissão para investigar falhas de agências de inteligência

Congresso vai investigar 11 de setembro

DA REDAÇÃO

Num ano de eleições legislativas, o governo George W. Bush entrou em rota de colisão com o Congresso dos EUA. Contra a vontade do presidente, a Câmara aprovou ontem a instituição de uma comissão independente para investigar os antecedentes dos atentados terroristas de 11 de setembro, quando os serviços de inteligência receberam severas críticas por não preverem os ataques.
Além disso, a Casa Branca disse que, se o Senado aprovar o projeto de criação do Departamento da Segurança Interna da forma em que está redigido, o presidente será obrigado a vetar a lei.
A comissão da Câmara foi aprovada por 219 votos a 188, sendo que os democratas votaram maciçamente a favor. O partido de Bush, o Republicano, apesar de ter maioria (222 deputados contra 210 democratas), não conseguiu reunir deputados suficientes.
Os deputados indicarão especialistas para a compor a comissão, que terá a participação de parentes das vítimas do atentado.
Segundo o deputado democrata Tim Roemer, que deu a face final do projeto aprovado, a comissão vai "ver o que aconteceu antes de 11 de setembro e consertar os problemas". Roemer nega que vá haver caça às bruxas, mas os republicanos temem que os democratas usem as investigações para atacar o governo antes das eleições legislativas de novembro.
Apesar de audiências sobre a atuação dos serviços de inteligência no período pré-ataque já estarem acontecendo em comitês regulares da casa, a comissão será a primeira iniciativa do Congresso criada com o fim único de levar a cabo essas investigações.
Esse foi um dos argumentos da bancada republicana para tentar barrar uma comissão parlamentar específica. "Não queremos interferência nos trabalhos em andamento", disse o deputado republicano Porter Goss, chefe do comitê de inteligência da Câmara.
Mesmo com a derrota política, o governo Bush conseguiu, pelo menos, a aprovação de um aumento orçamentário para os serviços de inteligência.
Apesar de os números serem secretos, estima-se que o orçamento das agências de inteligência americanas será 25% maior do que o aprovado no ano passado. Acredita-se que o total ultrapasse os US$ 35 bilhões, ou seja, mais até do que o presidente havia anteriormente requisitado.
O investimento privilegiará o reequipamento da CIA (agência de inteligência) e do FBI (polícia federal), as duas agências mais criticadas por falhas em detectar as intenções terroristas.

Novo departamento
Em relação ao projeto de criação do Departamento da Segurança Interna, a Casa Branca reclama que, do modo em que está emendado, obrigaria os diretores do órgão a se submeterem a aprovação do Senado. E esses diretores não teriam liberdade para contratar e demitir pessoal. "O presidente continua otimista de que essas provisões serão mudadas sem a necessidade de um veto. Mas ele está determinado sobre o assunto e receberá a recomendação, por parte de seus conselheiros, de vetar o projeto se suas preocupações não forem levadas em conta", disse o porta-voz Ari Fleischer.
Embora os líderes do Legislativo americano tenham abraçado a criação do novo departamento como uma proposta suprapartidária, há uma série de diferenças quanto às linhas mestras. A proposta de reforma no gabinete é considerada a maior feita nos últimos 50 anos no país.
Vinte e duas agências federais comporiam o órgão, que teria como finalidade prevenir novos ataques terroristas. Ele teria cerca de 170 mil funcionários e um orçamento, para o primeiro ano, de US$ 38 bilhões.
O Senado tem 50 democratas, 49 republicanos e um senador independente.


Com agências internacionais


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