São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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RÚSSIA

Explosões abriram caminho para segunda guerra na Tchetchênia; ação russa na república separatista foi crucial para Putin

Ex-agente acusa Moscou de ligação com atentados

Associated Press - 9.set.99
Equipes de resgate procuram sobreviventes de explosão em Moscou em 99 atribuída pelo Kremlin aos separatistas tchetchenos


DA ASSOCIATED PRESS

Um ex-agente de segurança russo disse ontem ter uma prova que, segundo ele, deve amparar sua tese de que o Serviço de Segurança Federal (FSB) -o sucessor da KGB (serviço secreto soviético)-, e não militantes islâmicos ligados a rebeldes tchetchenos, orquestraram a série de sangrentos atentados a bomba que levaram a Rússia a dar início, em 1999, a uma nova guerra na Tchetchênia, a república separatista no sul do país.
Do Reino Unido, para onde fugiu há dois anos, Alexander Litvinenko disse ter recebido documentos de Achimez Gochiyayev, que é acusado pelas autoridades russas de ter recebido US$ 500 mil do chefe de guerra tchetcheno Khattab para organizar explosões em prédios de Moscou. Khattab foi morto neste ano.
"O material que Gochiyayev nos deu é extremamente importante para estabelecer a verdade", declarou Litvinenko.
A suposta prova inclui uma declaração de Gochiyayev de que ele alugou imóveis em dois prédios de Moscou que explodiram. Porém, segundo a declaração, Gochiyayev alugou os imóveis a pedido de um amigo de infância que ele agora suspeita que fosse um agente de segurança russo. Esse amigo teria dito a Gochiyayev que precisava dos imóveis para estocar mercadorias.
Gochiyayev não foi preso, e seu paradeiro é desconhecido. Litvinenko disse ter recebido os documentos de outra pessoa em algum lugar da Europa. Ele os apresentou -via satélite- a uma comissão russa que investiga os atentados, que mataram cerca de 300 pessoas. Um porta-voz do FSB se recusou a comentar as acusações.
Ivan Mironov, do FSB, disse à mídia russa que Adam Dekkushev, um suspeito que está preso, tinha acusado "terroristas tchetchenos", incluindo pessoas próximas a Gochiyayev, de envolvimento nos atentados a bomba. As TVs russas veicularam imagens de Dekkushev explicando a situação durante um interrogatório. Litvinenko disse que as afirmações do FSB não são confiáveis.
Semanas depois que a última das quatro explosões ocorreu (duas em Moscou, duas no sul do país), em setembro de 1999, o então presidente russo, Boris Ieltsin, e seu primeiro-ministro, o ex-agente da KGB Vladimir Putin, enviaram tropas à Tchetchênia.
À época, as autoridades russas culparam os rebeldes tchetchenos pelos atentados. Mas líderes rebeldes sempre negaram seu envolvimento nas ações e disseram que elas poderiam ter sido cometidas pelos serviços de segurança do país -para justificar uma campanha militar. De 1994 a 1996, os russos travaram uma sangrenta guerra na Tchetchênia e, na prática, foram derrotados.
A dureza de Putin contra os tchetchenos foi crucial para sua carreira política. Ele foi nomeado presidente interino por Ieltsin em dezembro de 1999 e foi eleito presidente em 2000.
Em sua suposta declaração, Gochiyayev nega ter orquestrado os atentados. Também diz que não teve ligação com Khattab.
Litvinenko afirmou ainda que um especialista britânico tinha examinado fotografias do FSB que, supostamente, mostram Gochiyayev ao lado de Khattab e que o especialista dissera que não podia determinar que se tratava de Gochiyayev.
O especialista, chamado Geoffrey Oxlee, confirmou essa informação por telefone. O chefe da comissão pública que investiga os atentados, o respeitado defensor dos direitos humanos Serguei Kovalyov, declarou que a informação divulgada por Litvinenko é "extremamente interessante". Ele ressaltou, no entanto, que tudo deve ser muito bem analisado.
Kovalyov afirmou que há pistas favoráveis e contrárias às duas teorias sobre a autoria dos atentados -rebeldes tchetchenos ou agentes russos- e que, talvez, nenhuma delas seja verdadeira. Ele disse que a comissão ainda está longe do fim de seu trabalho.
Os problemas de Litvinenko com o FSB começaram em 1998. Segundo ele, à época, seus superiores lhe ordenaram que matasse o magnata da mídia Boris Berezovsky. Ele foi preso um ano depois, mas foi considerado inocente após julgamento -e fugiu.
Litvinenko é ligado a Berezovsky, um ex-aliado do Kremlin -que hoje se opõe a Putin. Berezovsky acusa o FSB de cumplicidade nos atentados e vive no Reino Unido para não ter de responder a um processo na Rússia.



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