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Primeira-dama projetou-se com assistencialismo
DO ENVIADO A BUENOS AIRES
DE BUENOS AIRES
O cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, um dos mais aristocráticos do mundo, receberá uma multidão de pessoas, ou quase peregrinos, hoje. Na catedral da capital argentina será realizada uma missa. No elegante bairro de Palermo, acontecerá a inauguração de um museu. Tudo para celebrar
os 50 anos da morte de Evita.
Casada com o mais emblemático líder da Argentina no século
passado, Juan Domingo Perón,
Evita, uma atriz e locutora de rádio, projetou-se com uma imagem de defensora dos mais pobres, dos idosos, das crianças e
dos direitos das mulheres.
Os dois se conheceram em janeiro de 1944, quando Perón, então secretário do Trabalho, organizou um evento em Buenos Aires para arrecadar fundos para as
vítimas de um terremoto no norte
do país. Entre os vários artistas
convidados, estava Evita.
Os dois casaram meses depois,
em outubro, após Perón ser libertado da prisão. Dias antes, Perón
havia sido detido, após renunciar
aos cargos de vice-presidente e secretário do Trabalho. Ele desagradava a setores dentro do governo
argentino, do qual era homem-chave. No ano seguinte, Perón foi
eleito presidente, e Evita se tornou
a primeira-dama.
Oriunda de uma família pobre
da Província de Buenos Aires,
Evita mudou-se sozinha para
Buenos Aires aos 15 anos. "Muito
cedo na minha vida deixei a minha casa, o meu povoado e desde
então fiquei livre. Queria viver
por minha conta. E vivi", escreveu
Evita em sua autobiografia "A Razão de Minha Vida", leitura obrigatória nas escolas primárias da
Argentina entre 1946 e 1955.
Como primeira-dama, criou
uma imagem totalmente diferente de suas antecessoras e de suas
sucessoras, envolvendo-se diretamente em programas populistas e
assistencialistas, que a ajudaram a
se projetar. Uma de suas principais atividades era visitar bairros
pobres para distribuir roupas e
alimentos a crianças.
Em 1951, após aceitar ser candidata a vice em uma chapa com Perón, ela voltou atrás. Nessa época
já sofria de câncer. No ano seguinte, morreria, no dia 26 de julho, levando mais de 2 milhões de pessoas às ruas de Buenos Aires.
O destino de seu corpo por muitos anos foi obscuro. Primeiro foi
para a CGT, principal central sindical do país, onde ficou até 1955,
quando Perón foi derrubado pelos militares. Depois, peregrinou
por Buenos Aires até 1957, quando uma operação secreta o levou
para Milão e o enterrou sob o nome de Maria Maggi de Magistris.
Em 1971, o corpo foi entregue a
Perón, que o conservou em sua
residência em Madri, onde estava
exilado. O corpo foi levado para
Buenos Aires em 1974 e permaneceu na capela da residência oficial
de Olivos até 1976. Naquele ano,
os militares entregaram o corpo
para a família, que o enterrou no
cemitério da Recoleta. Em meio a
grandes nomes da história argentina, o túmulo negro de Evita é
hoje praticamente um santuário.
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