São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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Primeira-dama projetou-se com assistencialismo

DO ENVIADO A BUENOS AIRES

DE BUENOS AIRES

O cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, um dos mais aristocráticos do mundo, receberá uma multidão de pessoas, ou quase peregrinos, hoje. Na catedral da capital argentina será realizada uma missa. No elegante bairro de Palermo, acontecerá a inauguração de um museu. Tudo para celebrar os 50 anos da morte de Evita.
Casada com o mais emblemático líder da Argentina no século passado, Juan Domingo Perón, Evita, uma atriz e locutora de rádio, projetou-se com uma imagem de defensora dos mais pobres, dos idosos, das crianças e dos direitos das mulheres.
Os dois se conheceram em janeiro de 1944, quando Perón, então secretário do Trabalho, organizou um evento em Buenos Aires para arrecadar fundos para as vítimas de um terremoto no norte do país. Entre os vários artistas convidados, estava Evita.
Os dois casaram meses depois, em outubro, após Perón ser libertado da prisão. Dias antes, Perón havia sido detido, após renunciar aos cargos de vice-presidente e secretário do Trabalho. Ele desagradava a setores dentro do governo argentino, do qual era homem-chave. No ano seguinte, Perón foi eleito presidente, e Evita se tornou a primeira-dama.
Oriunda de uma família pobre da Província de Buenos Aires, Evita mudou-se sozinha para Buenos Aires aos 15 anos. "Muito cedo na minha vida deixei a minha casa, o meu povoado e desde então fiquei livre. Queria viver por minha conta. E vivi", escreveu Evita em sua autobiografia "A Razão de Minha Vida", leitura obrigatória nas escolas primárias da Argentina entre 1946 e 1955.
Como primeira-dama, criou uma imagem totalmente diferente de suas antecessoras e de suas sucessoras, envolvendo-se diretamente em programas populistas e assistencialistas, que a ajudaram a se projetar. Uma de suas principais atividades era visitar bairros pobres para distribuir roupas e alimentos a crianças.
Em 1951, após aceitar ser candidata a vice em uma chapa com Perón, ela voltou atrás. Nessa época já sofria de câncer. No ano seguinte, morreria, no dia 26 de julho, levando mais de 2 milhões de pessoas às ruas de Buenos Aires.
O destino de seu corpo por muitos anos foi obscuro. Primeiro foi para a CGT, principal central sindical do país, onde ficou até 1955, quando Perón foi derrubado pelos militares. Depois, peregrinou por Buenos Aires até 1957, quando uma operação secreta o levou para Milão e o enterrou sob o nome de Maria Maggi de Magistris.
Em 1971, o corpo foi entregue a Perón, que o conservou em sua residência em Madri, onde estava exilado. O corpo foi levado para Buenos Aires em 1974 e permaneceu na capela da residência oficial de Olivos até 1976. Naquele ano, os militares entregaram o corpo para a família, que o enterrou no cemitério da Recoleta. Em meio a grandes nomes da história argentina, o túmulo negro de Evita é hoje praticamente um santuário.



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