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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Dificuldades marcam volta de 3ª leva de brasileiros
Estradas destruídas, ônibus quebrados e burocracia dificultam chegada à Turquia
Boa parte dos passageiros que retornaram ontem ao Brasil era de descendentes de libaneses que passavam férias de verão no país
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais 77 brasileiros que conseguiram escapar do Líbano
chegaram ontem a São Paulo,
depois de um vôo de 14 horas a
partir de Adana, na Turquia,
com paradas em Argel (Argélia)
e Recife (PE). Foi a terceira leva
a conseguir retornar, formada
em boa parte por descendentes
de libaneses em férias. Quase
todos enfrentaram longas jornadas até chegar ao vôo.
Parte do grupo partiu de Damasco (Síria) para a Turquia. A
viagem levou 20 horas, o dobro
do previsto. Os dois ônibus ficaram parados três horas na fronteira pela burocracia local.
Depois, na madrugada, os
dois ônibus quebraram. Sob
um calor de mais de 30C e sem
banheiros a bordo, os brasileiros esperaram na estrada a chegada de ônibus substitutos.
Mas a aventura começou antes, na fuga para Damasco.
"Meu pai conseguiu um taxista
para nos levar do norte do Líbano para a Síria, que cobrou US$
400. Tivemos que viajar por
seis horas por estradas destruídas", relata o estudante de cinema Chawki Zaher Filho, 21, que
viajou com o pai e as duas irmãs.
"Chegamos lá no dia 9, pouco
antes do conflito, e meus primos fizeram tudo para parecer
que as coisas estavam bem. Só
quando atacaram Beirute que
nos demos conta. Depois, até o
ruído do ar-condicionado velho
já nos assustava."
Hospitalidade brasileira
O estudante Tarik Rahal, 15,
estava pela primeira vez de férias no país, visitando seus
avós. De Jub Janine, pequena
cidade no vale do Bekaa, onde
seus avós moram, não havia como ir para Beirute.
"Subornos, amigos, contatos,
tudo foi necessário para tirar
meu filho de lá", diz o cirurgião
torácico Ahmad Rahal, pai de
Tarik. "Meu pai, que é o avô do
Tarik, decidiu levá-lo para Damasco." Só que o percurso de
40 km a Damasco levou mais de
três horas.
Tarik ficou seis dias na casa
de uma família brasileira que
mora na Síria. "Eles têm três filhos da minha idade, todo mundo fala português, até há comida brasileira", diz Tarik. "Como
são poucos, os brasileiros na Síria são muito unidos."
Os avós de Tarik moraram 50
anos no Brasil. Com a aposentadoria, voltaram para o Líbano
há dois anos. Estiveram aqui
entre janeiro e maio, de férias,
quando convidaram o neto a visitá-los no Líbano.
A operação-retorno foi ainda
mais longa para o comerciante
Mohamed Ibrahim, que mora
em Porto Alegre. Sua mulher,
grávida, passou mal no segundo
vôo que trouxe brasileiros e
eles tiveram que descer na Argélia, onde ficaram um dia. Por
isso só chegaram ontem.
Mohamed e família fizeram a
viagem de 20 horas até a Turquia em um ônibus coberto por
uma grande bandeira do Brasil.
"A bandeira foi nossa proteção. A viagem foi calma, mas
nunca sabemos quando poderia acontecer um bombardeio."
Depois do desespero
A paranaense Valéria Teixeira, que no último sábado disse à
Folha estar em "situação desesperadora" após fugir da cidade em que morava, no sul do
Líbano, embarca hoje de volta
ao Brasil. Ela estava abrigada
de forma precária em uma escola da cidade costeira de Sidon, com os três filhos pequenos. Valéria conseguiu chegar
ontem a Beirute e estará num
dos quatro ônibus que partirão
rumo a Adana, na Turquia. Outros dez ônibus com brasileiros
partem hoje do vale do Bekaa.
Colaborou MARCELO NINIO , enviado especial a
Beirute
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