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Zelaya aliena sua frágil base em Washington
Tentativa de retorno a Honduras irrita Departamento de Estado, que já vinha oferecendo apoio restrito a presidente deposto
Ação, que foi definida pela secretária Hillary Clinton como "temerária", dá força aos críticos de Zelaya e a partidários dos golpistas
Esteban Felix/Associated Press
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Zelaya posa com placa de "bem-vindos a Honduras" no pouco tempo em que passou do outro lado da fronteira com a Nicarágua
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Ao insistir na ação midiática
que foi a tentativa de entrar por
terra em Honduras na sexta, o
presidente deposto Manuel Zelaya irritou tanto o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José
Miguel Insulza, como o mediador da crise hondurenha, o presidente costa-riquenho Óscar
Arias, e o Departamento de Estado norte-americano.
O último, no entanto, foi o
único a vir a público denunciar
o blefe de Zelaya. Tão logo ficou
claro que o hondurenho levaria
adiante seu plano, o porta-voz
da Chancelaria americana disse que o líder deposto havia
marcado reunião com diplomatas americanos em Washington
para depois de amanhã -a declaração implicava que o ato de
anteontem não era para valer.
Na sequência, Hillary Clinton soltou suas palavras mais
duras até agora em relação ao
presidente deposto. A secretária de Estado chamou a tentativa de volta de "temerária". Pois
é a Chancelaria americana que
tem mais poder de fogo, tanto
contra o presidente deposto como contra os golpistas.
Por enquanto, tem mantido o
diálogo com o primeiro e ameaçado engrossar as represálias
aos segundos. Desde anteontem, porém, a alta diplomacia
americana avalia o custo político de seguir fazendo isso. O ceticismo do Departamento de
Estado pode contaminar a Casa
Branca e a OEA.
Até agora, o presidente Barack Obama ampara mais firmemente a decisão de reinstalar Zelaya no poder do que Hillary e seu grupo. O presidente
foi o primeiro a usar a expressão "golpe de Estado" para se
referir ao ocorrido em Honduras e só recuou depois de alertado para as implicações jurídicas
do termo.
De acordo com as leis americanas, se considerar que houve
golpe de Estado o governo deve
chamar seu embaixador, cancelar os vistos e congelar os
bens dos golpistas nos EUA e
bloquear ajuda econômica e
militar ao país em questão
-apenas as duas últimas ações
foram tomadas por Obama,
ainda assim parcialmente.
Desde então, a frase oficial
passou a ser "restaurar a ordem
democrática e constitucional
em Honduras", repetida por todos os membros do governo
quando o assunto é o país.
Pressão republicana
Contra um endurecimento
maior em relação ao presidente
interino Roberto Micheletti e
seu grupo pesam ainda a ligação de Zelaya com o venezuelano Hugo Chávez e o nicaraguense Daniel Ortega e a ameaça de um grupo de republicanos
conservadores de atrapalhar
ainda mais a agenda do democrata no Congresso.
Na semana passada, o senador Jim DeMint pediu o adiamento da confirmação de Arturo Valenzuela para o posto de
número um do Estado para a
América Latina e do atual titular do cargo, Thomas Shannon,
para a Embaixada no Brasil.
Na quinta, apresentou emenda que exige um relatório do diretor de Inteligência dos Estados Unidos sobre as ligações
entre Zelaya e Chávez, Ortega e
os irmãos Fidel e Raúl Castro.
Já a OEA chegou ao limite do
que pode fazer institucionalmente por Zelaya; politicamente, a entidade tem as mãos parcialmente atadas pelo país que
paga 60% de suas contas.
De resto, o clima em Washington parece virar contra o
deposto. Na sexta, no momento
em que a CNN exibia ao vivo a
tentativa de Zelaya de atravessar a fronteira entre Nicarágua
e Honduras, um dos ouvidos
pela emissora era Lanny Davis,
contratado pelo regime dos golpistas para fazer seu lobby na
capital. Ele era identificado só
como "ex-assessor de Bill Clinton". E criticava Zelaya.
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