São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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Popular, Bachelet tenta fazer sucessor

Chilenos aprovam ação anticrise da presidente e elevam sua aprovação a 74%, a maior desde a redemocratização, em 1990

Êxito dá fôlego a candidato governista à Presidência, que luta contra desgaste da Concertação e para alcançar o oponente nas pesquisas


FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nunca antes na história do Chile redemocratizado -de 1990 para cá- houve um presidente tão popular como Michelle Bachelet. Em julho, ela atingiu 74% de aprovação e devolveu à sua desgastada coalizão centro-esquerdista a esperança de eleger seu quinto presidente nas eleições de dezembro.
Há um ano, nem seus apoiadores mais entusiastas arriscariam o cenário acima: em 2008 Bachelet tinha aprovação mediana e via o megaempresário Sebastián Piñera, candidato presidencial direitista que ela derrotou em 2006, tomar ampla dianteira nas pesquisas.
A virada de roteiro veio com a crise econômica, que redimiu a presidente acusada, à direita e à esquerda, de falta de ousadia. Ora por não promover bastante crescimento, ora por não aplicar a contento o dinheiro gerado pela alta do cobre, metade das exportações do país, na redução da desigualdade ou em reformas na educação.
Foi então que a austera política econômica de Bachelet deu o troco. O financiamento de um pacote de estímulo, de cerca de 3% do PIB, veio de parte dos US$ 21 bilhões gerados pelo cobre e poupados em um fundo soberano no exterior. Bachelet lançou planos de obras, distribuiu subsídios, reduziu impostos e reforçou também programas de transferência de renda.
O governo acelerou ainda a incorporação de idosos pobres na Previdência "solidária", parte da reforma do sistema, prioritária para Bachelet, destinada a reverter excessos da reforma ultraliberal feita por Augusto Pinochet (1973-1990).
A aprovação da gestão tornou mais frequente no discurso do oposicionista Piñera a promessa de que ele vai "manter e ampliar" a "rede de proteção social" de Bachelet, enquanto sumiram ataques diretos a ela, num dilema parecido ao da oposição ante Luiz Inácio Lula da Silva e o Bolsa Família.

Renovação e dívidas
O candidato direitista, de 59 anos, segue liderando as pesquisas. Mas em junho, pela primeira vez, ele empatou tecnicamente com o nome da aliança governista, a Concertação, na simulação de segundo turno.
O cientista político Patrício Navia, professor da Universidade de Nova York, diz que a popularidade da presidente ajudou nesse resultado, mas que também influiu o estoque de votos centro-esquerdistas na tradicional polarização do eleitorado chileno.
Para forçar que a balança penda para seu lado, Piñera apela com um argumento difícil de rebater: o de que é hora de mudar após 20 anos de poder da Concertação, que tem no Partido Socialista (PS), de Bachelet, e na Democracia Cristã (DC), centrista, seus pilares.
A mensagem tem mais eco diante da escolha dos governistas para a disputa: o senador e ex-presidente (1994-2000) Eduardo Frei, 67, da DC.
Frei, mais conservador que Bachelet em termos econômicos e comportamentais, como o aborto, ganhou a candidatura diante da desistência em disputar as primárias do ex-presidente Ricardo Lagos (PS), e do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza.
A coalizão tampouco topou medir Frei com o carismático deputado socialista Marco Enríquez-Ominami, 35. O desafiante se lançou como independente e tem inéditos 13% nas pesquisas.
"A Concertação não soube se renovar", aponta Navia, que lista as dívidas acumuladas desde 1990, entre elas o fracasso na reforma eleitoral, tributária ou mudança na lei do cobre, que envia 10% de toda a renda do metal aos militares.
"Ela resolveu ser a mãe dos chilenos e deixar as brigas políticas para os ministros. Lamento que ela não tenha usado todo esse seu capital para fazer as mudanças necessárias."


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