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Popular, Bachelet tenta fazer sucessor
Chilenos aprovam ação anticrise da presidente e elevam sua aprovação a 74%, a maior desde a redemocratização, em 1990
Êxito dá fôlego a candidato governista à Presidência, que luta contra desgaste da Concertação e para alcançar o oponente nas pesquisas
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nunca antes na história do
Chile redemocratizado -de
1990 para cá- houve um presidente tão popular como Michelle Bachelet. Em julho, ela atingiu 74% de aprovação e devolveu à sua desgastada coalizão
centro-esquerdista a esperança
de eleger seu quinto presidente
nas eleições de dezembro.
Há um ano, nem seus apoiadores mais entusiastas arriscariam o cenário acima: em 2008
Bachelet tinha aprovação mediana e via o megaempresário
Sebastián Piñera, candidato
presidencial direitista que ela
derrotou em 2006, tomar ampla dianteira nas pesquisas.
A virada de roteiro veio com a
crise econômica, que redimiu a
presidente acusada, à direita e à
esquerda, de falta de ousadia.
Ora por não promover bastante
crescimento, ora por não aplicar a contento o dinheiro gerado pela alta do cobre, metade
das exportações do país, na redução da desigualdade ou em
reformas na educação.
Foi então que a austera política econômica de Bachelet deu
o troco. O financiamento de um
pacote de estímulo, de cerca de
3% do PIB, veio de parte dos
US$ 21 bilhões gerados pelo cobre e poupados em um fundo
soberano no exterior. Bachelet
lançou planos de obras, distribuiu subsídios, reduziu impostos e reforçou também programas de transferência de renda.
O governo acelerou ainda a
incorporação de idosos pobres
na Previdência "solidária", parte da reforma do sistema, prioritária para Bachelet, destinada
a reverter excessos da reforma
ultraliberal feita por Augusto
Pinochet (1973-1990).
A aprovação da gestão tornou
mais frequente no discurso do
oposicionista Piñera a promessa de que ele vai "manter e ampliar" a "rede de proteção social" de Bachelet, enquanto sumiram ataques diretos a ela,
num dilema parecido ao da
oposição ante Luiz Inácio Lula
da Silva e o Bolsa Família.
Renovação e dívidas
O candidato direitista, de 59
anos, segue liderando as pesquisas. Mas em junho, pela primeira vez, ele empatou tecnicamente com o nome da aliança
governista, a Concertação, na
simulação de segundo turno.
O cientista político Patrício
Navia, professor da Universidade de Nova York, diz que a popularidade da presidente ajudou nesse resultado, mas que
também influiu o estoque de
votos centro-esquerdistas na
tradicional polarização do eleitorado chileno.
Para forçar que a balança
penda para seu lado, Piñera
apela com um argumento difícil de rebater: o de que é hora de
mudar após 20 anos de poder
da Concertação, que tem no
Partido Socialista (PS), de Bachelet, e na Democracia Cristã
(DC), centrista, seus pilares.
A mensagem tem mais eco
diante da escolha dos governistas para a disputa: o senador e
ex-presidente (1994-2000)
Eduardo Frei, 67, da DC.
Frei, mais conservador que
Bachelet em termos econômicos e comportamentais, como o
aborto, ganhou a candidatura
diante da desistência em disputar as primárias do ex-presidente Ricardo Lagos (PS), e do
secretário-geral da OEA, José
Miguel Insulza.
A coalizão tampouco topou
medir Frei com o carismático
deputado socialista Marco
Enríquez-Ominami, 35. O desafiante se lançou como independente e tem inéditos 13%
nas pesquisas.
"A Concertação não soube se
renovar", aponta Navia, que lista as dívidas acumuladas desde
1990, entre elas o fracasso na
reforma eleitoral, tributária ou
mudança na lei do cobre, que
envia 10% de toda a renda do
metal aos militares.
"Ela resolveu ser a mãe dos
chilenos e deixar as brigas políticas para os ministros. Lamento que ela não tenha usado todo
esse seu capital para fazer as
mudanças necessárias."
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