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Desafiante chileno aposta em reformas
Marco Enríquez-Ominami deixa o partido de Bachelet e já alcança 13% em pesquisas com candidatura independente
Cineasta de 35 anos, que tem biografia marcada pela
ditadura, prega para a classe
média, extrato disputado
entre governo e oposição
DA REPORTAGEM LOCAL
Num Chile onde pesquisas
mostram o desinteresse em geral, e dos jovens em particular,
pela política -1 em cada 5 chilenos com menos de 30 anos
está registrado para votar- um
candidato desafiante e jovem
tem catalisado atenções.
É Marco Enríquez-Ominami, 35, deputado eleito para seu
primeiro mandato pelo Partido
Socialista (PS), de Michelle Bachelet. Ele deixou o partido para se lançar candidato independente e aparece na pesquisa nacional mais recente com surpreendentes 13% dos votos.
Carismático, cabelos sobre
os ombros, é filósofo, cineasta,
casado com uma jornalista de
TV e usa todas as ferramentas
de internet que Barack Obama
transformou na ordem do dia
da política dos "outsiders".
Nesta semana, enquanto estava em caravana pelo Chile,
ele repetiu à Folha, por e-mail,
o discurso que preocupa a coalizão governista.
"A Concertação é hoje uma
instituição conservadora. Acumulou poder e privilégios que
deve defender", disse. "Isso faz
com que a segunda onda de reformas democratizadoras seja
incompatível com ela."
O deputado não ataca a popular presidente, mas o candidato governista Eduardo Frei.
Diz que o ex-presidente se junta aos progressistas "por razões
instrumentais" e não quer uma
reforma tributária.
A mudança é um eixo de seu
programa, que prevê mais impostos para empresas e fortunas e menos para pobres e classe média, a quem ele prega
igualdade de condições para
competir na pouco móvel sociedade chilena.
Um discurso eficaz para a
classe média, especialmente
em seus extratos mais baixos, é
um desafio para a Concertação,
já que esse grupo não se sente
diretamente beneficiado pelas
políticas sociais do governo e é
intensamente disputado pela
campanha oposicionista.
O desafiante se vende como a
versão 2010 de Bachelet, que,
como primeira mulher presidente, representava frescor na
política chilena. No passado,
anunciou que faria um documentário sobre Hugo Chávez,
mas tem criticado os ataques
do venezuelano a ONGs de direitos humanos. À Folha ele
frisou que seus projetos de mudança precisarão de tempo para gerar "consensos".
O deputado causou controvérsia ao defender uma negociação de uma saída do mar para a Bolívia -mas sem soberania boliviana sobre o território.
Ditadura
Como muitos políticos chilenos, sua vida foi marcada pela
ditadura. O pai guerrilheiro e
fundador do MIR (Movimento
da Esquerda Revolucionária),
Miguel Enríquez Espinosa, rejeitou exilar-se e foi morto pelo
regime Pinochet em 1974. No
exílio, sua mãe se uniu a outro
mirista, o hoje senador Carlos
Ominami, que o adotou.
Para a Concertação, o pior
pesadelo é ver Enríquez-Ominami superando Frei nas pesquisas, quadro temporariamente afastado por recente levantamento nacional. A meta é
não atacá-lo para não alijar
seus eleitores no segundo turno. O mesmo cálculo fazem os
direitistas. Mas o senador Ominami acha que, sim, o filho pode mais: "No início da eleição
americana, Obama não era favorito".
(FLÁVIA MARREIRO)
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