São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Vítimas do terremoto no Peru vivem de caridade

Ajuda internacional continua chegando aos 85 mil afetados, mas há carência

Passados 12 dias do tremor de 8 graus na escala Richter que matou 514 pessoas e feriu mais de mil, população ainda está traumatizada

Enrique Castro-Mendivil - 22.ago.07/Reuters
Sobreviventes abrigados no estádio de Pisco esperam comida


MARIA EMÍLIA COELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LIMA

Após 12 dias, os peruanos tentam se recuperar do trauma causado pelo tremor de 8 graus na escala Richter que atingiu cerca de 85 mil pessoas, deixando 514 mortos e 1.090 feridos. Sanar o prejuízo é a nova ordem. Matar a sede e fome da população afetada, uma urgência. A solidariedade, uma saída.
A ajuda internacional já chega a US$ 38 milhões, informou o presidente do Conselho de Ministros do Peru, Jorge del Castilho. E os donativos somam mais de 12 mil toneladas, segundo a Defesa Civil. Mas os números não parecem confortar aqueles que passaram pelo pior momento de suas vidas.
O professor Oscar Hernandez Aparcana, 41, sentiu desmoronar toda a vida em família que construiu em nove anos de casado. Sua casa em Pueblo Nuevo, comunidade distante 2,5 km de Chincha, foi completamente destruída. "Eu me senti impotente ao encontrar a minha esposa ferida e as minhas três filhas desesperadas", diz Hernandez.
Para o comerciante Fernando Kong San, 43, encontrar seu filho pelas ruas de Pisco no momento do terremoto foi uma verdadeira odisséia. "Fui a uma praça onde ele costuma ir e vi quatro pessoas mortas. Uma delas parecia ele. Catei o jovem, que estava com o rosto muito inchado e cheio de sangue, e levei até a casa do meu irmão. Quando o limpamos me dei conta de que não era o Gian Carlo. Levei o corpo até o hospital e fui para minha casa. O meu filho estava lá, com fraturas no fêmur e na perna."
O garoto de 15 anos agora está internado num hospital em Lima. "Quem salvou minha vida foi meu amigo, que avisou aos meus pais que eu estava desmaiado embaixo de um muro. Nunca vou esquecer essa prova de amizade", diz.
O maior sofrimento da vendedora ambulante Diana Perez, 32, é estar longe do seu filho de oito anos. Ela está acompanhando a recuperação do seu irmão internado no hospital Casimiro Ulloa, em Lima.
"Não pude trazê-lo comigo. Está incapacitado, completamente fora de si. Ele viu a terra se mover e ficou descontrolado. É uma criança, não entende o que aconteceu", conta.

Sobrevivência
As diferentes regiões do Peru sentiram o terremoto mais potente do país nos últimos 50 anos em diferentes intensidades. As cidades de Ica, Chincha, Pisco e Canhete, todas ao sul de Lima, foram as mais afetadas.
Depois do desastre natural, o povo peruano sofre as duras conseqüências da destruição. "Não há água nem comida. Meus pais estão vivendo ao relento, esperando a ajuda do governo", lamenta o professor Oscar Hernandez.
O povo e o Estado peruano estão mobilizados. A ajuda estrangeira também não pára de chegar. A ONU já destinou US$ 1,5 milhão para alimentar durante nove meses as pessoas mais afetadas. E pretende destinar mais US$ 6,1 milhões. A CAF (Corporação Andina de Fomento) aprovou uma doação imediata de US$ 300 milhões.
"Graças à caridade das pessoas, estou conseguindo comer. Todos nós agora dependemos das doações. O governo diz que vai ajudar toda a população, mas em Chincha elas não chegam às comunidades mais afastadas", critica Diana.
O educador Renzo Semorile Chico, 24, foi até a comunidade Grocio Prado, localizada a 15 minutos de Chincha, trabalhar como voluntário. Como membro da Organização Lion Internacional, foi entregar à população as doações cedidas pela ONG Crescer Juntos.
"Quando existe fome, sede e frio, é quase impossível controlar a população desesperada. Por isso é importante a ação do voluntariado para a distribuição das doações, pois a desorganização é muito grande. O trabalho tem que ser muito rápido. Quando chega um caminhão, todos correm desesperados", conta.

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