São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / NEM TÃO EXÓTICO ASSIM

Michelle vende Obama como "gente como a gente"

Origens humildes do casal dão a tônica do discurso da candidata a primeira-dama

Democratas tentam fazer com que o eleitorado se identifique com candidato; centro das atenções, Hillary passa a enfatizar unidade

Max Whittaker/France Presse
Hillary dá entrevista no primeiro dia da convenção democrata

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DENVER

Michelle Obama foi criada por um funcionário publico municipal de Chicago, "um operário", e uma dona-de-casa, e ela e Barack Obama cresceram ouvindo sobre "os valores do trabalho duro". "Eu vi em primeira mão pela vida deles [Barack e a mãe] e a minha que o sonho americano perdura", discursou ela ontem à noite.
"Barack e eu fomos criados com muitos valores em comum: que você trabalha duro pelo que quer da vida; que sua palavra é uma garantia e que o que diz que vai fazer, cumprirá", disse ela, para completar, mais adiante, no momento mais aplaudido e com endereço certo: "É por isso que eu amo este país" -Michelle havia sido chamada de pouco patriota por conservadores ao dizer há meses que pela primeira vez podia dizer que tinha orgulho do país.
Findo o discurso, apresentou as filhas do casal, Malia, 10, e Sasha, 7; antes, havia sido apresentada por seu irmão mais velho, Craig Robinson, que é treinador de basquete no Estado do Oregon. Ao final da fala da mulher no Pepsi Center, onde acontece a Convenção Nacional Democrata, Barack Obama entrou ao vivo via satélite de Kansas City, no Missouri, e conversou com as filhas.
Antes, Maya Soetoro-Ng, a meia-irmã do senador, falou um pouco de sua vida como professora de história e lembrou de como, quando os dois eram pequenos, a família "não tinha muitos bens", mas tinha "o mais importante": saber que "pelo trabalho duro alcançaríamos o extraordinário".

Sonho americano
A reunião familiar em público marca o esforço mais explícito do partido de oposição de vender a imagem de seu candidato à sucessão presidencial como alguém "gente como a gente", típico fruto do "sonho americano" e parte de uma família de trabalhadores parecida com a da maioria.
"Quanto mais os EUA conhecerem essa família, mais vão querer mandá-la para a Casa Branca", escreveu Katie McCormick Lelyveld, da campanha. A avaliação dos democratas é que os Obama são pouco conhecidos do grande público, e essa falta de familiaridade e a biografia cosmopolita de Obama, filho de pai do Quênia e mãe norte-americana, abrem brechas para ataques que distorcem a realidade.
Daí o sucesso dos anúncios recentes do republicano John McCain que pintam o adversário como elitista. A fala de Michelle é parte do esforço de mudar essa percepção. "O mais importante que Obama tem a fazer é comunicar à classe média que ele entende o mundo em que vive e os desafios que enfrenta", disse Matt Bennett, do grupo moderado Third Way.

Três mulheres
Para passar a mensagem -e a de que o partido está unido em torno do nome do candidato-, além de Michelle, das meninas, da meia-irmã e do cunhado de Obama, foi convocado um time composto por três mulheres e dois Kennedys.
A começar por Nancy Pelosi, presidente do Congresso, que abriu o dia de ontem desmentindo relatos de tensão entre o time de Obama e o de Hillary Clinton, derrotada por ele nas primárias. Ao sofrer uma saraivada de perguntas sobre o tema, respondeu: "Isso aqui é uma sala do passado. Estamos indo para o futuro. Entrei onde, numa máquina do tempo?"
Ao longo do dia, Hillary Clinton seguiu a mesma linha, ao falar a latinos. "Ela disse que nós estamos aqui para eleger um presidente democrata em novembro e que esse presidente é Barack Obama", disse à Folha Claudia Cody, única delegada brasileira a participar da convenção, que estava presente no encontro de Hillary. Michelle elogiou nominalmente a senadora em seu discurso.
Para completar a força-tarefa, Caroline Kennedy fez uma homenagem a seu tio, o senador Ted Kennedy.


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.