São Paulo, quarta-feira, 26 de agosto de 2009

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Uribe dará garantias sobre bases, diz Jobim

Ministro da Defesa diz em Bogotá que colombiano assegurará à Unasul que atuação americana se limitará à Colômbia

Brasil, em defesa de mais transparência, também dará a vizinhos detalhes sobre acordo militar com a França, afirma ministro


Fernando Vergara/Associated Press
Nelson Jobim entre o comandante das Forças Armadas colombianas, general Freddy Padilla, e o ministro da Defesa do governo Uribe, Gabriel Silva, em Bogotá

RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, vai apresentar as garantias jurídicas de que os militares americanos que terão acesso a bases colombianas limitarão sua atuação ao país na reunião da Unasul, depois de amanhã, em Bariloche, na Argentina. A informação foi dada ontem ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se reuniu com o colega colombiano, Gabriel Silva, em Bogotá.
Ficou acertado, como contrapartida, que o Brasil também vai abrir os acordos militares com a França, que incluem a cooperação na construção de submarinos e aeronaves. Segundo o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, presente no encontro, o Brasil vai propor ainda em Bariloche um mecanismo de troca desse tipo de informações permanente na região.
Jobim disse à Folha que a apresentação das garantias "será feita em Bariloche". "Não é um tema específico somente de Bariloche, mas é um tema que preocupa. Mostramos a eles que inclusive o Brasil já tinha dito ao presidente Uribe, e ele tinha concordado [com a necessidade] das garantias jurídicas. Estão providenciando."
Marco Aurélio disse ter ficado mais "satisfeito" após as novas conversas, mas frisa que há "um contencioso, que não se resolve sem a participação de todas as partes envolvidas".
"Aqui tivemos uma parte, no Equador [onde a comitiva esteve anteontem] tivemos outra, e há uma terceira parte, a Venezuela. Estamos preocupados é que esse contencioso -que é real e precisa ser resolvido- possa ser encapsulado e que possamos chegar a um acordo geral em Bariloche, a partir do qual questões como essa possam ser equacionadas. Hoje vivemos um certo deficit de mecanismos de solução: existem, mas não estão ativados e esperamos que em Bariloche se possa ativá-los", afirmou.
A proposta de troca de informações sobre acordos militares pretende dar início a uma política de mais transparência nessa área sensível. O governo brasileiro e militares ouvidos pela reportagem consideram que grande parte do impasse e do desconforto com o acordo da Colômbia com os EUA se deve à falta de transparência.
"Com o conhecimento que a gente possa ter de todos os acordos, inclusive a transparência dos acordos, eu quero trazer a eles também, à América do Sul, os acordos que o Brasil está fazendo com a França, para que nós possamos trocar informações e ter um ambiente de transparência", disse Jobim.
Indagado se faltou transparência no caso das bases, Jobim minimizou a questão. "Não creio que tenha sido isso. Às vezes os assuntos são tratados, tendo em vista a urgência e as necessidades, sem a percepção dos efeitos que se possa ter."
Brasil e Colômbia também acertaram a troca de dados relativos a 100 km dentro do espaço aéreo vizinho para combater aviões sob suspeita de transporte de drogas. "Os aviões irregulares [de narcotráfico] entravam no Brasil, e a gente não sabia onde eles entrariam. E agora se resolveu. É claro que não se entra no espaço aéreo colombiano com aviões brasileiros nem no Brasil. São informações que nos passam, e a gente sabe onde eles vão entrar no território brasileiro, para ter condições de deslocar com precisão os Supertucanos e fazer baixar essas aeronaves."

Equador
Tendo visitado na segunda-feira o Equador, Jobim atuou politicamente ainda como uma espécie de conciliador nas frágeis e sensíveis relações entre os dois países, suspensas desde o ataque da Colômbia a guerrilheiros das Farc em território do Equador, em março de 2008. Jobim disse que pretende ajudar a "iniciar uma relação de confiança entre a Colômbia e o Equador".
Segundo ele, trouxe à Colômbia a mensagem de que o Equador se dispõe a atuar no combate às Farc.
"Há uma vontade política e efetiva, com manifestações efetivas do Equador no sentido de colaborar com o combate à guerrilha. O Equador deslocou 7.000 homens para a fronteira, com a possibilidade de aumento de 10 mil -3.000 são móveis. Manifestei ao ministro [Gabriel Silva] que há interesse e manifestações reais do Equador para colaborar no combate à guerrilha e ao narcotráfico."


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