São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Apesar de ter entre 1% e 3% nas pesquisas, candidato independente tem posição de destaque na campanha

Nader, de novo, pode influir no resultado

VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO

Durante quase quatro décadas Ralph Nader foi considerado um herói pelos progressistas americanos devido à sua atuação na defesa dos direitos dos consumidores. Mas agora, aos 70 anos, até seu caráter está sendo colocado em dúvida por muitos dos antigos admiradores. Tudo porque, em sua quarta tentativa de alcançar a Presidência dos EUA, ele pode contribuir mais uma vez para a derrota de um candidato democrata contra George W. Bush.
A cruzada de Nader, um advogado formado na Universidade Harvard, é contra o domínio que as grandes empresas exercem em todas as esferas da sociedade. "Empresas globais autocráticas vão fundo no planejamento estratégico. Elas abertamente, esbanjando confiança, tentam controlar nossos empregos; nosso meio ambiente; nossas instituições políticas e educacionais; nossa comida, remédios e outros produtos; nossas economias; nossas infâncias; nossa cultura; até mesmo nosso futuro genético. Rumo a esses fins, elas incessantemente se movem para controlar nossas eleições e nossas instituições governamentais", escreveu em um de seus livros.

"Inimigo do sistema"
Nader ficou conhecido pela sua luta nos anos 60 contra a General Motors. Graças ao movimento que capitaneou, a indústria automobilística foi obrigada melhorar a segurança dos carros e milhares de vidas foram salvas. Certamente com o nome de Nader na cabeça, o ex-presidente Richard Nixon (1969-74) chegou a afirmar: "São pessoas que não estão nem um pouco interessadas em segurança ou ar puro. O que elas querem é destruir o sistema. Elas são inimigos do sistema".
Na atual corrida para chegar ao Salão Oval, Nader não aparece tão bem nas pesquisas como na disputa passada -as intenções de voto em seu nome variam entre 1% e 3%. Mas, se a eleição for tão disputada quanto a de 2000, esses votos poderão fazer uma grande diferença no resultado final.
"Ele certamente ganhou o desrespeito e o ódio de muitos democratas por ter causado a derrota [de Al Gore] na última eleição. Porque para ele era mais importante ser candidato, do que não ser, Gore perdeu a eleição para Bush", afirma David Epstein, professor de ciências políticas da Universidade Columbia.
Nader refuta qualquer culpa pela vitória de Bush. Ele argumenta que os votos que teve foram de eleitores que, desanimados com a política do país, simplesmente não sairiam de casa para votar.
Jeff Grynaviski, professor de ciências políticas da Universidade de Chicago, concorda com Nader. "Eu também suspeito que muitos dos apoiadores de Gore foram votar em 2000 porque estavam preocupados com a influência de Nader sobre outros progressistas", acrescenta.
Embora os argumentos apresentados por Nader e Grynaviski pareçam razoáveis, os números da eleição de 2000 dão bastante munição para aqueles que condenam o candidato.
Bush venceu Gore na Flórida por apenas 537 votos e em New Hampshire por 7.211. Nader teve nesses dois Estados, respectivamente, 97.488 e 22.198 votos. Os democratas vão morrer com a certeza de que, se não ele tivesse se candidatado, a imensa maioria de seus votos teria migrado para Gore -a afinidade entre Nader e os democratas é tanta que em 1992 ele tentou ser o candidato do partido- e o então vice-presidente teria uma margem suficiente para vencer no Colégio Eleitoral.

Defecção de aliados
Nader desta vez foi abandonado por muito de seus antigos aliados. O cineasta Michael Moore o apoiou em 2000 e recentemente implorou de joelhos em um programa de TV, ao vivo e a cores para todo o país, para que Nader saísse da disputa.
Dezenas de intelectuais que endossaram seu nome quatro anos atrás agora fizeram um manifesto contra a nova candidatura. Organizações civis ligadas a Nader perderam milhares de dólares em contribuições canceladas por pessoas contrariadas com o que dizem ser teimosia ou o capricho de um ego imenso.
O próprio candidato reconhece que muitos saíram do seu barco: "Três pessoas com as quais trabalhei por 25 anos não vieram. São pessoas com as quais fundei grupos", disse em junho ao "Washington Post" sobre um evento de campanha na Califórnia.
Os arranjos que fez para viabilizar a sua presença no atual pleito também mancharam sua credibilidade. Nader, que em 2000 concorreu pelo Partido Verde, desta vez aceitou o apoio de segmentos da direita. Ele é candidato pelo Partido da Reforma -criado pelo milionário texano Ross Perot para tentar chegar à Casa Branca e que em 2000 teve ninguém menos que o conservador Pat Buchanan como candidato presidencial.
Buchanan, aliás, mostrou um "espírito de equipe" bem maior que o de Nader. Ele, que no passado já havia tentado ser o candidato do Partido Republicano, em 2000 participou da eleição apenas em regiões em que a disputa não era acirrada e não havia chances de roubar eleitores de Bush e assim levar os votos do Estado no Colégio Eleitoral para Gore.


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