São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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MINHA HISTÓRIA MAURO LEVINBUCK, 48

Vascaíno judeu e colono

Nasci no Rio, onde tive formação sionista Fui atingido por uma bomba Acredito tanto na paz como na Branca de Neve

Marcelo Ninio/Folhapress
O brasileiro Mauro Levinbuck, que há 24 anos saiu do Rio para morar no assentamento de Beit Yatir, ao sul de Jerusalém

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Não me considero um radical. Para mim, não há diferença entre Beit Yatir, Tel Aviv e Haifa. E para os palestinos, também não. A maioria acha que Israel inteiro é território ocupado e não temos direito de estar em parte nenhuma. Nem os palestinos moderados aceitam reconhecer Israel como Estado judeu.
O mundo muçulmano jamais vai aceitar que judeus sejam os soberanos aqui.
Quando dizem que os assentamentos são um obstáculo acho uma grande bobagem. Acabamos com os assentamentos de Gaza e o que aconteceu? Recebemos os foguetes do Hamas. Por isso acho fácil culpar os assentamentos, quando o verdadeiro problema é a rejeição árabe à ideia do Estado judeu.

IDEOLOGIA
Nasci no Rio, onde tive formação sionista e religiosa. Em 1977, decidi vir para Israel para estudar, porque aqui poderia fazer o segundo grau e ter estudos judaicos. Gostei e acabei ficando. O que mais me agradou no começo foi a liberdade de poder andar sem medo de assalto.
Tinha 15 anos e fazia o que eu queria. Me integrei muito bem à sociedade, servi no Exército, casei, tive filhos. Trabalhei anos na administração da colônia, mas hoje também tenho um escritório de consultoria de negócios.
Quando Israel entrou na Guerra do Líbano (1982), tive de ir. Fazia parte de uma unidade de tanquistas nas montanhas do Chouf, para impedir o avanço dos sírios.
Dei azar. Fui atingido por uma bomba jogada por Israel e tive 30% do corpo queimado. Até hoje tenho alguns movimentos limitados.

VIDA DE COLONO
Chegamos a Beit Yatir em 1986. Eu procurava um lugar novo, com pessoas religiosas como eu, e essa colônia tinha sido fundada pouco antes.
Aqui temos uvas, maçãs, castanhas, flores... Produzimos 6 milhões de litros de leite por ano. E fazemos o melhor vinho kasher do mundo.
O clima aqui é bom, as crianças podem ficar livres. Deixo a casa e o carro abertos, sem preocupação.
Não estamos isolados. Em meia hora estou em Beer Sheva. Em 50 minutos, em Jerusalém. Pego centenas de canais de TV e tenho internet rápida, por onde eu acompanho o que acontece no Brasil. O que mais me interessa é futebol, ou melhor, o Vasco.

SIONISMO
Quem sai de Nova York para morar em Tel Aviv ou do Rio para Jerusalém tem a mesma ideologia dos que vêm morar nos assentamentos. Está tomando posição.
Os assentamentos são ilegais para os Estados Unidos e Europa? Mas Israel é ilegal para o mundo árabe inteiro, e quem nos protege disso?
Com todo o respeito, se houver uma guerra aqui, duvido que os americanos vão mandar tropas para nos proteger, como fizeram no Iraque. Aqui não tem petróleo.

CONGELAMENTO
O congelamento das construções foi um erro tático muito grande, pois foi como se Israel admitisse que não tem o direito de estar aqui.
Este é o único lugar do mundo em que um judeu não pode construir uma casa.
Pouca gente fala nisso, mas a verdade é que o congelamento provocou uma explosão de construções: todo mundo que tinha licença antiga para construir e não usava passou a usar, com medo de não poder mais no futuro.

PAZ
Acredito tanto num acordo de paz como na Branca de Neve e os sete anões. A negociação não vai dar em nada.
Tudo isso que está acontecendo agora é por causa da eleição de novembro nos EUA. Quando passar a eleição, o Obama vai culpar os dois lados e ficar mais um ano sem fazer nada. Essas coisas se repetem há cem anos, só mudam os nomes.


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