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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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EUA

Percepção popular de que política externa é privilegiada em detrimento de questões internas e economia põem reeleição em xeque

Problemas de Bush pai assombram seu filho

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A pouco mais de um ano da eleição presidencial americana, inúmeros democratas e alguns republicanos começam a ver uma ligação entre a situação atual do presidente George W. Bush e a de seu pai, George Bush (1989-1993) -que não obteve a reeleição-, no outono setentrional de 1991.
De acordo com especialistas consultados pela Folha, há várias similaridades entre os dois casos, contudo ainda é muito cedo para antever uma vitória democrata na eleição de novembro de 2004.
"Além dos laços familiares, há pontos que unem os dois presidentes apesar dos 12 anos de diferença. Por exemplo, ambos venceram uma guerra e gozaram de uma imensa popularidade graças a isso", apontou Diana Owen, autora de "Media Messages in American Presidential Elections" (mensagens da mídia em eleições presidenciais americanas).
"Em razão disso e da desaceleração econômica, a situação de Bush pai e a de seu filho são muito parecidas no que se refere à percepção popular. Os argumentos de boa parte do eleitorado são os mesmos nos dois casos: o presidente dá atenção demais à política externa, preocupa-se pouco com os cada vez maiores problemas internos e não faz o suficiente para fazer decolar a economia", acrescentou a pesquisadora.
"Todavia a verdade é que Bush filho parece enfrentar um problema bem mais grave. Vencer a Guerra do Golfo foi tarefa fácil perto dos desafios apresentados pela guerra ao terrorismo global, lançada após o 11 de Setembro, e pela reconstrução do Iraque e do Afeganistão", completou Owen.
De fato, após o final da Guerra do Golfo (1991), Bush pai apresentava o espetacular índice de aprovação de 89%, e seu filho contava, no final de abril -logo após a queda do regime do ex-ditador Saddam Hussein-, com o apoio 73% da população.
Aliás, de setembro de 2001 até julho deste ano, Bush filho teve níveis de aprovação superiores a 60% na maioria das pesquisas, comprovando que, em situações críticas, os americanos costumam apoiar seus líderes políticos.
No entanto ambos tiveram uma queda acentuada de popularidade alguns meses após o final oficial dos conflitos armados. Assim, em setembro de 1991, Bush pai só tinha 52% de aprovação, segundo uma pesquisa divulgada pelo jornal "USA Today" à época.
Já o índice de aprovação do trabalho de Bush filho é de 54% atualmente, tendo chegado a 51% há três semanas, de acordo com uma pesquisa da rede de TV CBS News. Seu nível mais baixo foi de 49%, em setembro. As três porcentagens acima estão, porém, dentro da margem de erro.

Economia e política externa
Como salientaram Owen e Michael Bailey, especialista em eleições e professor de administração pública da Universidade de Georgetown (EUA), o que, aos olhos dos eleitores, mais une o governo atual e o de Bush pai é a ênfase dada à política externa e a falta de atenção aos problemas domésticos, sobretudo econômicos.
"Bush pai perdeu votos em 1992 porque o eleitorado se convenceu de que ele dava atenção demais à política internacional e negligenciava as questões domésticas. E os democratas aproveitaram a situação para dizer que o crucial era a economia", explicou Bailey.
Com efeito, uma das frases mais utilizadas durante a campanha de Bill Clinton, presidente dos EUA entre 1993 e 2001, foi: "É a economia, estúpido!" (aludindo à constatação de que Bush pai era visto como alguém que não dava atenção aos problemas internos).
Ora, a percepção popular do atual governo indica uma preocupação com o fato de que a política externa tomou o lugar das questões domésticas na agenda oficial.
"As dificuldades econômicas, que afetam boa parte da população das classes menos abastadas e da classe média, também são um problema para Bush filho. Creio, contudo, que haja uma relação estreita entre a economia e a crise iraquiana", analisou Bailey.
"Afinal, as pessoas não sabem exatamente por que a economia não vai bem, no entanto vêem uma quantidade enorme de dinheiro ser gasta na reconstrução do Iraque e associam um fato ao outro. Nas ruas, a percepção geral é que a fortuna despendida no Iraque deveria ser gasta nos EUA. Os americanos ligam o preço da reconstrução à morosidade econômica, ao aumento dos impostos estaduais e à falta de uma resposta adequada aos problemas energéticos que o país enfrenta."
Para Bailey, o maior desafio da atual administração é conseguir persuadir o eleitorado americano do sucesso da operação militar no Iraque. "No passado, mesmo com a grande oposição internacional ao conflito, Bush [filho] ainda era visto como um vencedor. Agora ele é considerado um perdedor por conta do caos que reina no Iraque. Imagens do fracasso estão sendo associadas ao presidente."
Segundo Owen, há uma só possibilidade de mudar esse quadro rapidamente: a prisão de Osama bin Laden, responsável pelo 11 de Setembro, ou de Saddam. "Se um deles for capturado antes da eleição, as chances de vitória de Bush em 2004 serão grandes", disse.
Todavia, para a pesquisadora, num ponto Bush filho tem uma enorme vantagem sobre seu pai: ainda não há um candidato democrata que "chegue nem perto da força eleitoral de Clinton".


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