São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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Indecisão se consolida na reta final

JIM DWYER
DO "NEW YORK TIMES"

Seria difícil Mary Ellen Bower deixar de perceber os indícios de que o mês de outubro está quase no fim e que está quase esgotado o prazo para ela tomar uma decisão sobre seu voto na eleição presidencial. Nas ruas de sua cidade -Ambler, Pensilvânia, um subúrbio simpático a noroeste da Filadélfia-, abóboras e fantasmas de Halloween enfeitam os gramados das casas, muitas vezes intercalados com cartazes de Kerry/Edwards ou Bush/Cheney.
E é mais ou menos assim que Bower, 41, se sente: intercalada entre os candidatos. Mãe de duas crianças pequenas, ela é enfermeira e trabalha num hospital. Enquanto conversa sobre a eleição, na entrada de sua casa, seu filho Thomas, 5, espera para ser levado à aula de tae-kwon-do.
Bower votou em George W. Bush em 2000, mas disse que hesita em repetir a dose. Ela está preocupada com o custo alto da saúde. Para ela, a Guerra do Iraque dividiu os EUA, a um custo muito alto. Mesmo assim, ela é cética em relação ao senador John Kerry e o que ele poderia fazer na Presidência. O que a preocupa, sobretudo, é a idéia de a liderança nacional mudar enquanto há soldados americanos servindo no exterior. "Converso com muitas pessoas que têm o mesmo sentimento", disse ela. "Sentimo-nos pressionados e puxados de um lado para outro. Às vezes acho que nós, os indecisos, somos a maioria."
Na realidade, porém, os indecisos formam uma minoria pequena em número, mas crucial em termos de seu peso eleitoral.
A nação americana tomou partido na disputa presidencial desde muito cedo no processo, e as pesquisas indicam que apenas 5% dos prováveis eleitores ainda não têm certeza de sua preferência. Embora os indecisos formem uma parte muito pequena do eleitorado, é possível que determinem o resultado do pleito, isso porque a disputa está muito apertada nos Estados ainda indecisos.
Em eleições passadas, já aconteceu de um bloco de indecisos ter optado pela oposição. Mas isso não acontece sempre. "Desta vez, não está claro o que acontecerá", disse Celinda Lake, que faz pesquisas para grupos democratas. "Isso porque os indecisos, embora não estejam satisfeitos com a situação do país, estão à procura de um líder forte e têm dúvidas quanto a ambos os candidatos."
De acordo com Matthew Dowd, estrategista da campanha Bush-Cheney, os eleitores indecisos são aqueles que têm a maior probabilidade de ser entre moderados e conservadores, o que significaria que ou não irão votar ou irão se dividir entre os dois candidatos. "Não existem eleitores liberais indecisos", disse Dowd.
Em conversas com eleitores indecisos na Pensilvânia e em entrevistas com eleitores em cinco Estados indecisos, muitos disseram que já têm um candidato em vista, mas que ainda não tomaram uma decisão final. Tanto quanto qualquer outra questão isolada, os riscos de uma mudança -ou o risco de deixar as coisas continuarem como estão- freqüentemente emergiu como tema. E parece que o que está atrasando sua tomada de decisão não é uma escassez de opiniões, mas o excesso delas.
Nenhum dos entrevistados achou que os EUA estão avançando num rumo inequivocamente correto. A maioria concorda que a Guerra do Iraque parece ter sido um erro. Mesmo assim, muitos temem que mudar de presidente durante um envolvimento militar complicado poderia enfraquecer as tropas ou tornar o país mais vulnerável a terroristas. Os cortes nos impostos feitos por Bush deixaram alguns dos eleitores perplexos, mas foram recebidos com grande satisfação por outros.
"Ultimamente parece que eu mudo de opinião a cada momento", comentou Victoria Lichtman, 50, de Delray Beach, Flórida. Ela comentou que o presidente, em quem não votou em 2000, está tendo mau desempenho no que diz respeito ao ambiente, exatamente como Kerry afirmou. Lichtman afirmou ainda que a guerra lançada por Bush é muito triste, mas perguntou se não é possível que Kerry vá longe demais no rumo oposto.
Em St. Louis, o professor de história Doug Newton, 37, disse que ainda se inclina a votar em Bush. "O cimento ainda está um pouco mole", explicou. "Qualquer coisa poderia acontecer. Sou a favor de nossos atos no Iraque, apesar de não terem sido encontradas armas de destruição em massa e apesar de que é possível que nunca o sejam. Sinto que sei o que Bush representa, conheço suas posições. Para mim, Kerry é mais o tipo de sujeito que é do contra."
Newton declarou que, para ele, a segurança é uma questão crítica. "É por isso que tendo a tomar o partido dos veteranos e que optei por Gore em 2000", disse ele. Embora Kerry tenha servido na Marinha, Newton disse ter algumas dúvidas quanto a sua disposição de desafiar a opinião mundial.
Kimberly Parmer, 33, de Michigan, opinou que a ênfase sobre segurança nacional distorceu a campanha. ""Não acho que o terrorismo seja uma ameaça tão grande quanto todo o mundo está dizendo que é", disse Parmer. "O Iraque é importante, mas também são importantes coisas como a seguridade social. Nenhum dos dois candidatos realmente falou desses assuntos, porque, seja o que for que fizerem a respeito, ninguém ficará contente."


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