São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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Realidade iraquiana solapa plano do Pentágono

MICHAEL R. GORDON
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

Para tentar obter apoio à política americana no Iraque, o general George Casey disse ser possível que as forças iraquianas assumam a segurança do país em 12 ou 18 meses. Mas a meta parece muito distante.
Nas ruas violentas de Bagdá, as forças americanas são mais numerosas que as iraquianas. Com a violência sectária, a insurgência sunita mais poderosa do que nunca e um dispositivo estatal de segurança que continua sem poder deslocar forças suficientes e motivadas, a meta de Casey parece cada vez menos realista.
Em teoria, o Iraque tem efetivos consideráveis de segurança. São mais de 277 mil soldados e policiais, segundo o Pentágono, entre os quais 115 mil soldados no Exército. Mas esses números representam um quadro distorcido. Os soldados hesitam em servir fora de suas regiões de origem. Contadas licenças e deserções, só uma parte das tropas está disponível para serviço em Bagdá e outros locais de conflito mais intenso.
O fato de o Ministério da Defesa iraquiano ter enviado à capital apenas dois dos seis batalhões adicionais pedidos pelos comandantes americanos é um sintoma das dificuldades que o governo iraquiano enfrenta para organizar Forças Armadas profissionais e competentes.
Quatro batalhões equivalem a apenas 2.800 soldados.

Otimismo
O general Casey assumiu a suposição otimista de que as forças iraquianas em breve poderiam substituir unidades norte-americanas. Em fevereiro de 2005, o general disse que naquele ano os EUA começariam a "transferir a missão de combater a insurgência às cada vez mais capacitadas forças de segurança iraquianas".
Em junho de 2006, Casey submeteu um plano confidencial à Casa Branca, projetando o início da retirada de forças americanas para setembro, o que levaria a uma redução pela metade, até dezembro de 2007, no número de brigadas de combate estacionadas no país.
Para implementar essa estratégia, as tropas americanas reduziram a freqüência de suas patrulhas em Bagdá durante o primeiro semestre de 2006.
Não demorou para que o plano tivesse de ser abandonado, e as forças americanas, ampliadas, a fim de tentar conter o morticínio entre as facções muçulmanas. Ainda assim, Casey continuou a retratar a intensificação dos combates como um difícil interlúdio antes que as forças iraquianas pudessem assumir o papel principal. Agora, o general diz que, em 12 a 18 meses, as forças iraquianas estarão capacitadas para assumir a segurança em todo o país, com apoio logístico americano.
As forças iraquianas realizaram alguns avanços. Elas são hoje maiores e mais bem treinadas e, nos últimos 12 meses, assumiram o controle sobre um território maior. Alguns soldados iraquianos combateram bem. Mas em Bagdá, que os comandantes americanos definiram como a frente de batalha crucial da guerra, elas ainda exercem papel subalterno.
Para melhorar essas unidades, os americanos instalam assessores em suas estruturas de comando. As autoridades do Iraque oferecem soldo adicional para atrair soldados à capital. Mas cerca de um quarto dos soldados de uma unidade iraquiana típica está de licença.
Como o país não tem bancos, todos pedem uma semana de folga para viajar e levar dinheiro a seus familiares.


Tradução de PAULO MIGLIACCI



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