São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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Carros-bomba matam 147 no Iraque

Ataque é o mais violento em dois anos e coloca em dúvida a capacidade do governo iraquiano de garantir segurança sem os EUA

Atentados ocorreram próximo à Zona Verde, uma das áreas mais seguras de Bagdá; Obama classificou episódio de "ultrajante"

Shehab Ahmed/Efe
Destroços de carros na frente do Ministério de Justiça, em Bagdá; duas explosões causadas por terroristas no centro da cidade deixarammais de cem mortos

DA REDAÇÃO

Um ataque terrorista deixou ontem ao menos 147 mortos e 700 feridos em Bagdá com a explosão de dois carros-bomba carregados com cerca de 650 kg de explosivos cada. Trata-se do maior atentado no país nos últimos dois anos.
Os ataques ocorreram próximo à chamada Zona Verde, em que se encontram embaixadas e escritórios do governo -considerada uma das áreas mais seguras da cidade.
A primeira explosão veio às 10h30, na rua Haifa, do lado de fora do Ministério da Justiça. Imagens gravadas por telefone celular mostram a segunda explosão, dez minutos depois, com bolas de fogo seguidas de tiros de metralhadora.
Relatos de jornalistas no local descrevem cadáveres mutilados e restos humanos espalhados pela área. A polícia recolhia em sacos plásticos os documentos dos mortos. Carros de civis foram utilizados para transportar os feridos.
Líderes iraquianos afirmaram ontem que os ataques recentes visam a desestabilizar o cenário político nos meses que antecedem as eleições parlamentares de janeiro.
As explosões ocorreram em ruas abertas há poucos meses ao tráfego de carros. Na ocasião da abertura, o premiê Nuri al Maliki havia afirmado que esse era um sinal de que a cidade estava voltando a ser calma -sua esperança para a reeleição, que agora pode estar mais distante.
O ápice da violência no país foi em 2006, ano em que 27 mil civis morreram. Em 2008, o saldo foi de 9.000 mortos, segundo a ONG Iraq Body Count.

Interesses americanos
A questão da segurança no Iraque é de extrema importância para os EUA, que pretendem manter os holofotes no combate ao terrorismo no Afeganistão e no Paquistão.
Em julho deste ano, o governo norte-americano transferiu a responsabilidade da patrulha das ruas de Bagdá ao governo iraquiano. O plano do presidente Barack Obama é retirar definitivamente as tropas dos EUA do país até o final de 2011.
Com a recente escalada da violência na região, porém -as proximidades da Zona Verde foram alvo de atentado em 19 de agosto, com saldo de 102 mortos-, fica em dúvida a capacidade do governo local de manter a segurança da cidade.
Obama disse que os "ataques ultrajantes [...] revelam o odioso e destrutivo plano daqueles que negariam ao povo iraquiano o futuro que eles merecem".
Jalal Talabani, presidente do país, também se pronunciou a respeito dos atentados. "Os perpetradores desses atos traiçoeiros e desprezíveis não estão mais escondendo seus objetivos, mas publicamente declaram estar atingindo o Estado."
Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque, mas explosões de carros são marca da insurgência sunita contrária ao governo dominado por xiitas.
"[Os atentados] têm a marca da Al Qaeda e de seus aliados que rechaçam ver que o Iraque recupera sua estabilidade", afirmou à televisão o porta-voz do governo Ali al Dabbagh.
"É obra de um grupo que se encontra no interior do Iraque e que coordena sua ação com grupos no exterior", disse.

Responsabilidade
Pelo menos 25 funcionários do conselho provincial de Bagdá foram mortos nas explosões de ontem. Esse conselho cuida de uma ampla gama de serviços, como coleta de lixo e manutenção de escolas.
Foram mortos também 35 funcionários do Ministério da Justiça do país.
"Os países vizinhos e distantes deveriam imediatamente abster-se, para sempre, de acolher, financiar e facilitar forças que abertamente proclamam sua hostilidade ao Estado iraquiano", disse Talabani, em nota divulgada ontem.
O Iraque tem reclamado de que a Síria proveria abrigo seguro para terroristas, enquanto cidadãos sunitas de outros países muçulmanos ajudariam a financiar a insurgência no Iraque. O Irã é acusado, por sua vez, de armar a milícia xiita.


Com agências internacionais

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