São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Apuração parcial indica segundo turno no Uruguai

O ex-guerrilheiro José Mujica (47%) enfrentará Luis Lacalle (29%) no dia 29 de novembro

"A sociedade nos exige um esforço mais", afirma candidato esquerdista; "somos a melhor opção", diz postulante opositor

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Com um índice de votação que chegou a 90% dos eleitores habilitados, o Uruguai definiu ontem que haverá segundo turno na corrida presidencial entre o candidato pela coalizão governista Frente Ampla (esquerda), José Mujica, e o ex-presidente Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional (centro-direita).
Com 60% dos votos oficialmente apurados, os índices eram de 47,4% para a Frente Ampla, 29,2% para o Partido Nacional e 17,8% para o Partido Colorado, índices bastante semelhantes às bocas de urnas.
"A sociedade nos exige um esforco mais -participar de um segundo turno. Ficamos muito perto da maioria [absoluta]", afirmou Mujica, pouco antes da consolidação dos resultados pela Corte Eleitoral.
"Somos alheios a atitudes derrotistas ou triunfalistas. Estou francamente encantado. Sou um homem de luta. Nunca ninguém me deu nada", disse Mujica, negando desapontamento com o resultado. Seu candidato a vice, Danilo Astori, afirmou: "Como não estar contente com uma votação que indica que estamos indo à vitória? O primeiro estímulo é ter mais votos do que os dois partidos tradicionais juntos".
Lacalle, exultante, disse: "Somos melhor opção para a segurança, a certeza, a paz, o diálogo do país".
Bordaberry informou que a direção do Partido Colorado se reúne na próxima quarta para definir sua posição em relação ao segundo turno, mas anunciou à sua militância que "pessoalmente" vota em Lacalle.
O candidato do Partido Nacional agradeceu o apoio "sem condições, apenas por coincidência na maneira de ver o país e enfocar o futuro, com renovação e ideias, mas sobretudo de valores". O segundo turno será no dia 29 de novembro.
Quando Mujica reconheceu o segundo turno, ainda não estava claro, pela contagem dos votos, se a Frente Ampla obteria ou não a maioria parlamentar. "Isto não está resolvido, mas não descarto", afirmou.
Lacalle lembrou, na véspera da eleição, que governou sem maioria parlamentar em seu primeiro mandato (1990-1995). "É algo que não deve dar inveja a ninguém", disse.
A votação no Uruguai é feita por listas partidárias. O eleitor vota no presidente e nos legisladores do mesmo partido. A contagem dos votos, porém, é distinta.
O presidente é definido por maioria absoluta (o cálculo inclui votos brancos e nulos). A maioria parlamentar é definida a partir dos votos válidos.
Nas eleições de 2004, a Frente Ampla, fundada em 1971, obteve pela primeira vez em sua história a Presidência, com Tabaré Vázquez, que venceu em primeiro turno. A sigla também conquistou maioria absoluta no Congresso.
Ex-guerrilheiro Tupamaro, Mujica situa-se à esquerda de Vázquez no partido. Ontem, ao votar, o atual presidente classificou como "excepcional" o andamento da campanha e da votação, com a convivência pacífica dos militantes. Vázquez evitou comentar o anúncio feito na última sexta pelo banco Crédit Agricole de que se retiraria do país.
Na campanha, Lacalle disse que uma eventual eleição de Mujica, da "esquerda radical", desestabilizaria a economia.
Astori, que é economista, defendeu "a garantia do equilíbrio macroeconômico com aprofundamento da justiça social" como modelo de governo da Frente Ampla, citando Lula como exemplo.
O dia de eleição transcorreu com poucos incidentes -um trote de ameaça de bomba e um equívoco do Partido Colorado na distribuição de suas cédulas. Militantes dos três partidos festejaram o resultado, com as presenças dos respectivos candidatos.


Texto Anterior: EUA enviarão alto funcionário a Honduras
Próximo Texto: Voto a partir do exterior é negado, indica sondagem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.