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Apuração parcial indica segundo turno no Uruguai
O ex-guerrilheiro José Mujica (47%) enfrentará Luis Lacalle (29%) no dia 29 de novembro
"A sociedade nos exige um esforço mais", afirma candidato esquerdista; "somos a melhor opção", diz postulante opositor
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU
Com um índice de votação
que chegou a 90% dos eleitores
habilitados, o Uruguai definiu
ontem que haverá segundo turno na corrida presidencial entre o candidato pela coalizão
governista Frente Ampla (esquerda), José Mujica, e o ex-presidente Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional (centro-direita).
Com 60% dos votos oficialmente apurados, os índices
eram de 47,4% para a Frente
Ampla, 29,2% para o Partido
Nacional e 17,8% para o Partido
Colorado, índices bastante semelhantes às bocas de urnas.
"A sociedade nos exige um
esforco mais -participar de um
segundo turno. Ficamos muito
perto da maioria [absoluta]",
afirmou Mujica, pouco antes da
consolidação dos resultados
pela Corte Eleitoral.
"Somos alheios a atitudes
derrotistas ou triunfalistas. Estou francamente encantado.
Sou um homem de luta. Nunca
ninguém me deu nada", disse
Mujica, negando desapontamento com o resultado. Seu
candidato a vice, Danilo Astori,
afirmou: "Como não estar contente com uma votação que indica que estamos indo à vitória? O primeiro estímulo é ter
mais votos do que os dois partidos tradicionais juntos".
Lacalle, exultante, disse: "Somos melhor opção para a segurança, a certeza, a paz, o diálogo
do país".
Bordaberry informou que a
direção do Partido Colorado se
reúne na próxima quarta para
definir sua posição em relação
ao segundo turno, mas anunciou à sua militância que "pessoalmente" vota em Lacalle.
O candidato do Partido Nacional agradeceu o apoio "sem
condições, apenas por coincidência na maneira de ver o país
e enfocar o futuro, com renovação e ideias, mas sobretudo de
valores". O segundo turno será
no dia 29 de novembro.
Quando Mujica reconheceu
o segundo turno, ainda não estava claro, pela contagem dos
votos, se a Frente Ampla obteria ou não a maioria parlamentar. "Isto não está resolvido,
mas não descarto", afirmou.
Lacalle lembrou, na véspera
da eleição, que governou sem
maioria parlamentar em seu
primeiro mandato (1990-1995). "É algo que não deve dar
inveja a ninguém", disse.
A votação no Uruguai é feita
por listas partidárias. O eleitor
vota no presidente e nos legisladores do mesmo partido. A
contagem dos votos, porém, é
distinta.
O presidente é definido por
maioria absoluta (o cálculo inclui votos brancos e nulos). A
maioria parlamentar é definida
a partir dos votos válidos.
Nas eleições de 2004, a Frente Ampla, fundada em 1971, obteve pela primeira vez em sua
história a Presidência, com Tabaré Vázquez, que venceu em
primeiro turno. A sigla também
conquistou maioria absoluta
no Congresso.
Ex-guerrilheiro Tupamaro,
Mujica situa-se à esquerda de
Vázquez no partido. Ontem, ao
votar, o atual presidente classificou como "excepcional" o andamento da campanha e da votação, com a convivência pacífica dos militantes. Vázquez evitou comentar o anúncio feito
na última sexta pelo banco Crédit Agricole de que se retiraria
do país.
Na campanha, Lacalle disse
que uma eventual eleição de
Mujica, da "esquerda radical",
desestabilizaria a economia.
Astori, que é economista, defendeu "a garantia do equilíbrio
macroeconômico com aprofundamento da justiça social"
como modelo de governo da
Frente Ampla, citando Lula como exemplo.
O dia de eleição transcorreu
com poucos incidentes -um
trote de ameaça de bomba e um
equívoco do Partido Colorado
na distribuição de suas cédulas.
Militantes dos três partidos
festejaram o resultado, com as
presenças dos respectivos candidatos.
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