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ANÁLISE
Doação evidencia estratégia do país de conquistar vizinhos
SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO
O Irã nega, mas a declaração de Hamid Karzai, farta
em detalhes, deixa claro que
Teerã fornece, sim, cash à
Presidência afegã. Dinheiro
vivo e farto, direto na mão.
A prática não é ilegal, já
que governos são livres para
fazer doações externas. Mas
a notícia aumenta a preocupação do Ocidente ao demonstrar que a influência do
Irã no Oriente Médio vai muito além do apoio a grupos armados no Líbano, nos territórios palestinos ou no Iraque.
Está cada vez mais claro
que a estratégia ocidental de
isolar o Irã esbarra nos limites da realpolitik regional.
Na semana passada, o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi recebido em Bagdá
no mesmo dia em que o jornal "The Guardian" revelou
que o Irã era responsável pelo acordo entre facções iraquianas que praticamente
assegurou a permanência no
cargo do premiê Nuri al Maliki, um xiita devoto com livre
trânsito em Teerã.
Dias antes, quem estendia
o tapete vermelho para Ahmadinejad era o Líbano. Até
o premiê pró-Ocidente Saad
Hariri participou da acolhida
ao iraniano, ao lado do Hizbollah, bancado por Teerã.
A Síria, apesar da pressão
americana e europeia, ainda
se mantém firme parceira do
governo iraniano.
Ahmadinejad também
construiu excelentes relações econômicas e políticas
com a Turquia, membro histórico da Otan (aliança militar) e aliada dos EUA.
Teerã mantém ainda um
diálogo cordial com Turcomenistão e Azerbaijão, o que,
na prática, sela um cinturão
de parceiros reais ou potenciais em todas as fronteiras
do Irã -com a notável exceção do Paquistão, desgostoso com os elos Irã-Índia.
O jogo iraniano pode ser
ambíguo. Teerã se diz íntimo
de Bagdá ao mesmo tempo
em que arma rebeldes iraquianos. No Afeganistão,
uma mão enche os cofres de
Karzai enquanto outra incentiva o Taleban a minar esforços de pacificar o país.
Mesmo assim, os vizinhos
do Irã, quase todos mais pobres e mais frágeis, não resistem a acordos de cooperação
e malas de dinheiro.
Em resumo, o cenário seguido pelo Irã é o seguinte:
1 - Quanto mais os EUA estiverem atolados na frente
militar, menores as chances
de uma guerra contra o Irã.
2 - Quanto mais parcerias o
Irã tiver, mais difícil para o
Ocidente emplacar a ideia de
um mundo unido contra a
suposta ameaça iraniana.
Por fim, o dinheiro na mala também mostra que os cofres iranianos continuam
cheios, apesar das sanções.
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