São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Doação evidencia estratégia do país de conquistar vizinhos

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

O Irã nega, mas a declaração de Hamid Karzai, farta em detalhes, deixa claro que Teerã fornece, sim, cash à Presidência afegã. Dinheiro vivo e farto, direto na mão.
A prática não é ilegal, já que governos são livres para fazer doações externas. Mas a notícia aumenta a preocupação do Ocidente ao demonstrar que a influência do Irã no Oriente Médio vai muito além do apoio a grupos armados no Líbano, nos territórios palestinos ou no Iraque.
Está cada vez mais claro que a estratégia ocidental de isolar o Irã esbarra nos limites da realpolitik regional.
Na semana passada, o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi recebido em Bagdá no mesmo dia em que o jornal "The Guardian" revelou que o Irã era responsável pelo acordo entre facções iraquianas que praticamente assegurou a permanência no cargo do premiê Nuri al Maliki, um xiita devoto com livre trânsito em Teerã.
Dias antes, quem estendia o tapete vermelho para Ahmadinejad era o Líbano. Até o premiê pró-Ocidente Saad Hariri participou da acolhida ao iraniano, ao lado do Hizbollah, bancado por Teerã.
A Síria, apesar da pressão americana e europeia, ainda se mantém firme parceira do governo iraniano.
Ahmadinejad também construiu excelentes relações econômicas e políticas com a Turquia, membro histórico da Otan (aliança militar) e aliada dos EUA.
Teerã mantém ainda um diálogo cordial com Turcomenistão e Azerbaijão, o que, na prática, sela um cinturão de parceiros reais ou potenciais em todas as fronteiras do Irã -com a notável exceção do Paquistão, desgostoso com os elos Irã-Índia.
O jogo iraniano pode ser ambíguo. Teerã se diz íntimo de Bagdá ao mesmo tempo em que arma rebeldes iraquianos. No Afeganistão, uma mão enche os cofres de Karzai enquanto outra incentiva o Taleban a minar esforços de pacificar o país.
Mesmo assim, os vizinhos do Irã, quase todos mais pobres e mais frágeis, não resistem a acordos de cooperação e malas de dinheiro.
Em resumo, o cenário seguido pelo Irã é o seguinte:
1 - Quanto mais os EUA estiverem atolados na frente militar, menores as chances de uma guerra contra o Irã.
2 - Quanto mais parcerias o Irã tiver, mais difícil para o Ocidente emplacar a ideia de um mundo unido contra a suposta ameaça iraniana.
Por fim, o dinheiro na mala também mostra que os cofres iranianos continuam cheios, apesar das sanções.


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