São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2010

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O IMPÉRIO VOTA

Maconha livre vai a voto na Califórnia

Uso recreativo da droga será decidido na próxima terça em plebiscito; pesquisas apontam uma disputa apertada

Campanha pelo sim à utilização da erva já arrecadou mais de US$ 2,7 milhões, contra US$ 250 mil pelo não

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

O uso recreativo da maconha será decidido em plebiscito na Califórnia na próxima terça-feira, numa campanha acirrada em que, caso prevaleça o sim, o Estado pode virar uma nova Amsterdã.
Por outro lado, pode ser gerado um pesadelo jurídico em rota de colisão com o governo federal.
A droga já é liberada para fins terapêuticos desde 1996 e vendida em lojas de rua com a apresentação de uma carteirinha médica.
Estima-se que a indústria da maconha movimente US$ 14 bilhões por ano no Estado, que poderia abocanhar uma fatia em impostos e tentar sanar sua crise financeira.
As pesquisas mostram um duelo apertado. A mais recente, na semana passada, indicou que 49% dos entrevistados votariam contra a medida, enquanto 44% diriam sim. No mês passado, o mesmo instituto divulgou o oposto: 49% sim, 44% não.
"Não quero mais parecer uma criminosa para meus filhos. Quero que eles saibam que isto é uma escolha que você faz como um adulto responsável", disse a cantora Melissa Etheridge na sexta-feira, em Los Angeles, num encontro para anunciar apoio à "proposition 19", como é chamada a medida.
Etheridge é uma das vozes mais ativas entre as celebridades no apoio ao projeto. Ela passou a fumar a erva para aliviar os efeitos colaterais da quimioterapia no tratamento de câncer de mama. "Foi uma solução natural."
Também participaram os atores Danny Glover e Hal Sparks. Para Glover, a criminalização prejudica principalmente latinos e negros, porque eles são a minoria que acaba na prisão por causa de pequenas quantidades.
Em 2009, cerca de 1.600 pessoas estavam em cadeias californianas por infrações ligadas a maconha, um custo de US$ 85 milhões por ano. Além de celebridades, ativistas e plantadores, apoiadores incluem o maior sindicato do Estado e grupos raciais.
No total, a campanha pelo sim já arrecadou mais de US$ 2,7 milhões, contra US$ 250 mil pelo não. Um dos principais financiadores da iniciativa é Richard Lee, que possui uma cadeia de escolas que ensinam como gerenciar o negócio da maconha.

LEI MAL ESCRITA
A principal queixa dos opositores da medida é a forma como foi escrita, legalizando o uso e plantação para maiores de 21 anos, mas deixando a tarefa de demarcar as regras de comércio para os governos locais: mais de 400 cidades e 58 condados.
"A "proposition 19" foi escrita por ativistas e pesquisadores, não por pessoas que entendem das leis", disse Mark A. R. Kleiman, professor de Políticas Públicas da Universidade da Califórnia.
"A medida prevê que cada localidade decida sobre como gerir o comércio. E isso vai gerar uma competição por impostos mais baixos."
Para complicar o imbróglio, o governo de Barack Obama já afirmou que é contra e que fará valer as leis federais contra drogas para quem plantar, possuir, distribuir e vender maconha para uso recreativo, mesmo que os californianos digam sim.
Esta é a segunda vez que o Estado vota pela legalização. Em 1972, apenas um terço dos eleitores disseram sim.
O governador da Califórnia, o republicano Arnold Schwarzenegger, que costuma apoiar iniciativas polêmicas como casamento gay e políticas duras pelo meio ambiente, afirmou num editorial do jornal "Los Angeles Times" que a "proposition 19" transformaria o Estado num "motivo de chacota".
"É uma iniciativa falha que traria uma série de pesadelos legais e riscos à saúde pública", escreveu.
No dia 2, os californianos também escolhem congressistas e um novo governador.


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