São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011

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Tunisiano promete islã com democracia

Líder do partido islâmico vitorioso na primeira eleição do país depois da queda de ditador promete moderação

Rachid Ghannouchi diz à Folha que vai respeitar direitos das mulheres; partido já tem 42% das cadeiras

21.out.2011/Efe
Rachid Ghannouchi em ato de encerramento da campanha

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TÚNIS

Depois de iniciar a Primavera Árabe e realizar a primeira eleição livre produzida por ela, a Tunísia agora quer mostrar que islã e democracia são compatíveis.
Essa é a meta de Rachid Ghannouchi, 70, líder do Partido do Renascimento Islâmico (Nahda), que emergiu como o grande vencedor das eleições de domingo para a Assembleia Constituinte.
Em uma de suas primeiras entrevistas desde a histórica votação, Ghannouchi disse à Folha que seu partido manterá as promessas de campanha, de preservar o caráter civil do Estado, assegurando a liberdade de expressão e os direitos das mulheres.
A vitória tem sabor especial para Ghannouchi, cujo partido foi posto na ilegalidade pela ditadura de Zine Ben Ali. Em janeiro, após a fuga do ditador, ele voltou à Tunísia após 22 anos em Londres.
De acordo com resultados parciais divulgados ontem pelo Comitê Eleitoral Independente, o Nahda obteve 24 de 57 cadeiras decididas até agora, ou 42% do total.

 

Folha - Qual o próximo passo do seu partido?
Rachid Ghannouchi -
Implementar nosso programa e instalar uma democracia na Tunísia.

Que lição a eleição na Tunísia pode dar aos demais países da Primavera Árabe?
Que a vontade do povo é mais forte que a força dos ditadores. Que a paciência e a perseverança são recompensadas. A paciência é parte de nossa cultura. Ela ensina que os déspotas sempre acabam no lado perdedor.

Como o seu partido provará ao mundo que islã e democracia podem coexistir?
Essa é a lição mais importante da eleição na Tunísia. Espero que o modelo tunisiano inspire mais uma vez o mundo árabe.
Por 50 anos, os regimes de [Habib] Bourguiba e [Zine] Ben Ali tentaram convencer as pessoas de que islã e modernidade são incompatíveis e que elas precisavam escolher entre um e outro.
A Tunísia está mandando uma mensagem para o mundo: o caminho para a democracia e a liberdade passa pelo islã. A Primavera Árabe é, na realidade, produto da fusão entre islã e democracia.

No dia da votação, o sr. foi hostilizado e chamado de terrorista por alguns eleitores. Acha que conseguirá mudar essa imagem?
São essas pessoas que sequestraram o país durante anos, mas agora a Tunísia voltou para seu verdadeiro dono, o povo. E é por isso que elas têm medo de ter seus interesses ameaçados.
Alguns nem sequer nos conhecem. São vítimas da ignorância imposta pela ditadura.
Por 30 anos, a ditadura os obrigou a escutar com apenas um ouvido: que nós somos fundamentalistas e terroristas, que nos opomos à liberdade, ameaçamos os direitos da mulher, a liberdade de expressão, a criatividade, o turismo.
E agora as pessoas finalmente começaram a escutar com o outro ouvido. É apenas o começo. A maioria das pessoas finalmente entendeu isso e por isso votou em nós.
Quando nós governarmos o país, elas verão que as liberdades públicas e privadas estarão seguras. Nosso islã é sobre compaixão, justiça e igualdade. Nas próximas eleições, nossa popularidade será ainda maior.

Seus opositores temem que o país se fechará ao Ocidente com o Nahda no poder. Como a nova Tunísia se relacionará com o mundo?
Em nosso programa, pregamos a visão de uma Tunísia aberta ao mundo, diplomática e economicamente. E não apenas em uma direção à Europa, mas à Ásia, aos EUA e à América Latina. Queremos diversificar nossas parcerias.


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