São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2007

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Oposição

"Há risco de ruptura institucional"

DA ENVIADA A LA PAZ

Para Rubén Darío Cuellar, líder da bancada do Podemos, o maior partido da oposição boliviana, o governo Evo Morales "seqüestrou a Assembléia Constituinte" de modo que a instância corre o risco de cair no vazio e provocar um rompimento institucional no país. Cuellar, que estava em Sucre ontem e falou à Folha por telefone, acusa o governo de financiar a ida de apoiadores à cidade, o que teria aumentado o clima de confronto. (FM)

FOLHA - O que a oposição, que não participou da votação do texto geral da nova Constituição, pretende fazer agora?
RUBÉN DARÍO CUELLAR
- O que aconteceu nesse quartel em Sucre foi um ato ilegal e imoral. O governo decidiu seqüestrar a Assembléia. Foi preciso morrer gente para o governo conseguir aprovar, no geral, à força de fuzis e baionetas e manchada de sangue, a nova Constituição. Foi ilegal porque o MAS mudou o regimento. E, para fazê-lo, era preciso convocar todos 72 horas antes. Nem sequer leram os textos completos antes de aprová-los. Leram o índice da Carta! A nova Constituição tem a mesma validade dos decretos da ditadura que eram assinados nesse quartel. Vamos expulsar do partido hoje [ontem] os dois assembleístas que participaram da votação.

FOLHA - Qual o próximo passo, em termos institucionais?
CUELLAR
- Vários departamentos já afirmaram que não vão reconhecê-la. Nós do Podemos vamos buscar os meios legais para desconsiderar essa aprovação. Mas aí também temos problemas, pois o Tribunal Constitucional, que é a quem deveríamos recorrer, também não pode ter sessões. Há meses, por culpa do governo, essa corte só tem 3 dos 5 membros. É um momento extremamente delicado, que pode desaguar no rompimento da ordem institucional. A Assembléia Constituinte pode cair no vazio.

FOLHA - O governo diz que foi a oposição quem paralisou a Assembléia, polemizando quanto à mudança da capital...
CUELLAR
- Não é verdade. Foi o governo quem provocou essa situação para depois dizer que não havia outra maneira de aprovar a Carta a não ser assim.
Eles não queriam discutir abertamente sua proposta, variação do comunismo, pois sabem que não há consenso na sociedade.
O governo censurou a discussão sobre a capital [reconhecimento de Sucre como capital plena] e depois o próprio vice-presidente disse que "a capital não vai mudar", acirrando os ânimos. O Podemos não tem posição fechada sobre isso, mas sempre defendeu que a questão fosse discutida na Assembléia.
Quem está protestando em Sucre não o faz só pelo tema da capital, é pela defesa dos fundamentos democráticos.
E o governo foi muito irresponsável ao enviar seus apoiadores para a cidade. Dizem que não financiaram [a viagem]. Mas onde arranjaram dinheiro?

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