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Oposição
"Há risco de ruptura institucional"
DA ENVIADA A LA PAZ
Para Rubén Darío Cuellar, líder da bancada do
Podemos, o maior partido
da oposição boliviana, o
governo Evo Morales "seqüestrou a Assembléia
Constituinte" de modo
que a instância corre o risco de cair no vazio e provocar um rompimento institucional no país.
Cuellar, que estava em
Sucre ontem e falou à Folha por telefone, acusa o
governo de financiar a ida
de apoiadores à cidade, o
que teria aumentado o clima de confronto. (FM)
FOLHA - O que a oposição,
que não participou da votação
do texto geral da nova Constituição, pretende fazer agora?
RUBÉN DARÍO CUELLAR - O
que aconteceu nesse quartel em Sucre foi um ato ilegal e imoral. O governo decidiu seqüestrar a Assembléia. Foi preciso morrer
gente para o governo conseguir aprovar, no geral, à
força de fuzis e baionetas e
manchada de sangue, a nova Constituição. Foi ilegal
porque o MAS mudou o
regimento. E, para fazê-lo,
era preciso convocar todos
72 horas antes. Nem sequer leram os textos completos antes de aprová-los.
Leram o índice da Carta! A
nova Constituição tem a
mesma validade dos decretos da ditadura que
eram assinados nesse
quartel. Vamos expulsar
do partido hoje [ontem] os
dois assembleístas que
participaram da votação.
FOLHA - Qual o próximo passo, em termos institucionais?
CUELLAR - Vários departamentos já afirmaram que
não vão reconhecê-la. Nós
do Podemos vamos buscar
os meios legais para desconsiderar essa aprovação. Mas aí também temos
problemas, pois o Tribunal Constitucional, que é a
quem deveríamos recorrer, também não pode ter
sessões. Há meses, por
culpa do governo, essa corte só tem 3 dos 5 membros.
É um momento extremamente delicado, que pode
desaguar no rompimento
da ordem institucional. A
Assembléia Constituinte
pode cair no vazio.
FOLHA - O governo diz que
foi a oposição quem paralisou
a Assembléia, polemizando
quanto à mudança da capital...
CUELLAR - Não é verdade.
Foi o governo quem provocou essa situação para
depois dizer que não havia
outra maneira de aprovar
a Carta a não ser assim.
Eles não queriam discutir abertamente sua proposta, variação do comunismo, pois sabem que não
há consenso na sociedade.
O governo censurou a
discussão sobre a capital
[reconhecimento de Sucre
como capital plena] e depois o próprio vice-presidente disse que "a capital
não vai mudar", acirrando
os ânimos. O Podemos não
tem posição fechada sobre
isso, mas sempre defendeu que a questão fosse
discutida na Assembléia.
Quem está protestando
em Sucre não o faz só pelo
tema da capital, é pela defesa dos fundamentos democráticos.
E o governo foi muito irresponsável ao enviar seus
apoiadores para a cidade.
Dizem que não financiaram [a viagem]. Mas onde
arranjaram dinheiro?
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