São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Irã usa Venezuela para mover verba nos EUA

Acusação é de promotor distrital de Nova York, que se diz preocupado com o que chama de "casamento" entre os dois países

Informações foram dadas por Robert Morgenthau em palestra em Washington; "Sabemos que estão criando confortável parceria", disse


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O escritório do promotor público de Nova York, Robert Morgenthau, investiga supostas atividades ilegais do Irã na Venezuela, ações que podem envolver transações financeiras fraudulentas, exploração de material nuclear, produção e tráfico de armas e envolvimento em tráfico de drogas.
O interesse de seu time de advogados é reflexo direto da preocupação que a relação entre os dois países causa em Washington, exacerbada pela atual visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, à região, que incluiu passagem pelo Brasil na segunda.
Segundo o veterano promotor de 90 anos, duas investigações de seu escritório no último ano concluíram que o Irã tenta comprar armamentos movimentando dinheiro inclusive por bancos sediados em Manhattan, que estão sob a jurisdição de Morgenthau. O objetivo, acredita ele, é adquirir material necessário para desenvolver armas nucleares.
De acordo com as investigações, os iranianos podem estar usando uma prática chamada de "stripping", pela qual o banco participa intencionalmente de processo que altera informações de transferências eletrônicas para omitir a identidade de seus clientes, para movimentar dinheiro nos Estados Unidos via instituições financeiras baseadas na Venezuela.
O esquema se aproveita do fato de, diferentemente dos iranianos, os bancos venezuelanos não estarem sob nenhuma sanção ou proibição americana. Outro esquema que estaria sendo usado é o chamado "nesting" ("aninhamento"), em que instituições financeiras estrangeiras proibidas de atuar no sistema bancário americano conseguem acesso por meio de uma conta correspondente nos EUA pertencente a outra instituição financeira baseada no exterior.
Como possível evidência das intenções iranianas, ele aponta a criação, em janeiro de 2008, do Banco Internacional de Desenvolvimento em Caracas, uma subsidiária independente do Banco de Desenvolvimento de Exportação do Irã (EDBI). Desde outubro daquele ano, ambos estão sob sanção da Agência de Controle dos Ativos Estrangeiros (OFAC) dos EUA por oferecerem serviços financeiros a entidades militares cuja função é avançar os planos nucleares do Irã.

"Casamento"
Essas e outras informações foram dadas por Morgenthau durante palestra que fez no instituto Brookings, em Washington, em setembro último. Uma versão traduzida para o português de sua fala sairá na edição de dezembro da "Revista Política Externa". Nela, o nova-iorquino diz que Irã e Venezuela já passaram do que ele chama de "fase de namoro" e passaram para o "casamento".
"Sabemos que estão criando uma confortável parceria financeira, política e militar, e que ambos os países têm fortes vínculos com o Hizbollah e o Hamas", disse o promotor público. "Agora é o momento de definir diretrizes e ações para garantir que esta parceria não produza resultados nocivos."


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