São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Enviada de Obama busca "novo diálogo" com o islã

Representante para comunidades muçulmanas cita "mudança de tom" dos EUA

Nascida em Srinagar, na Caxemira indiana, Farah Pandith é incumbida do "engajamento" com grupos islâmicos em todo o mundo


PAULA ADAMO IDOETA
DA REPORTAGEM LOCAL

O momento atual é crucial para a aproximação com o mundo muçulmano, diz Farah Pandith, representante especial da Chancelaria dos EUA para as comunidades islâmicas, cargo criado em junho. Seu trabalho, diz, é "não político, mas humano": "ouvir a comunidade muçulmana ao redor do mundo" e -usando palavra-chave da diplomacia obamista - "engajá-la em um novo diálogo".
Pandith, que é muçulmana -nasceu na Caxemira indiana e emigrou para os EUA aos dois anos de idade-, esteve em São Paulo na segunda-feira, onde visitou comunidades islâmicas, mas não se reuniu com nenhuma autoridade brasileira.

 

FOLHA - O que a sra. espera levar de sua visita ao Brasil?
FARAH PANDITH
- O Brasil tem uma população islâmica crescente, e queremos desenvolver mais oportunidades para o diálogo. [Minha pasta] quer trabalhar com todas as nossas embaixadas ao redor do mundo. Há um esforço, após o discurso [de Barack Obama] no Cairo [em junho, quando o americano propôs ao islã o fim da "desconfiança"], de implementar essa visão de respeito mútuo.

FOLHA - Trabalhar como?
PANDITH
- Estamos tentando descobrir como construir mais diálogo e parcerias. É uma abordagem de pessoa a pessoa, não de governo a governo. Meu foco principal é a próxima geração -desenvolver confiança [entre os jovens muçulmanos]. E relacionamentos não são construídos da noite para o dia. É preciso trabalho de campo. Os EUA já têm programas como bolsas de estudo, intercâmbios, eventos de diplomacia cultural ou esportiva. Meu esforço é complementar esses programas usando novas mídias, tecnologias, diálogo. [Mas] não posso comentar iniciativas específicas. Temos projetos em andamento, mas não prontos para divulgação.

FOLHA - O presidente do Irã esteve no Brasil nesta semana. O que acha dessa visita?
PANDITH
- Não farei nenhum comentário além do que já foi dito [por Obama e a chanceler Hillary Clinton]. Meu trabalho é apenas falar com as comunidades islâmicas e desenvolver ideias. Não [trato] de assuntos políticos, só humanos.

FOLHA - Mas imagino que muitas das tensões políticas venham à superfície durante o seu trabalho.
PANDITH
- É parte do trabalho. Mas, no momento em que você vai além dessas questões, percebe que muitas pessoas querem se engajar de uma nova forma [com os EUA].

FOLHA - O discurso de Obama no Cairo foi bem-recebido, mas muitos pediram ações mais práticas.
PANDITH
- Há progressos em curso, e haverá mais respostas tangíveis. Mas a mudança de tom em si é a ação mais importante para engajar os muçulmanos ao redor do mundo. Esse conceito de interesse e respeito mútuos, de reconhecer as nuances e diversidades do islã, não tem precedentes. Apesar da frustração por políticas específicas [dos EUA], as pessoas em geral estão cheias de vontade de compartilhar ideias e dispostas a aproveitar esse momento único na história.

FOLHA - A sra. tem planos específicos para Iraque e Afeganistão?
PANDITH
- Queremos, primeiro, iniciar o diálogo, e depois levar ideias de empreendedores locais ao "mainstream". Pensamos em levar o expertise do vale do Silício para algumas dessas pessoas em Bagdá.


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